O
frango de Graciliano Ramos
Bons colunistas de jornal
costumam comentar tendências, avaliar episódios e fornecer aos leitores
previsões coerentes sobre o futuro do país. O alagoano Graciliano Ramos não era
hábil nessas tarefas. Numa crônica de 1921, o autor de Vida Secas defendeu que
o futebol era uma moda passageira que jamais pegaria no Brasil. Acreditava que
o esporte não combinava com a personalidade “bronca” do brasileiro:Mas porque o football? Não seria, porventura, melhor
exercitar-se a mocidade em jogos nacionais, sem mescla de estrangeirismo, o
murro, o cacete, a faca de ponta, por exemplo?Não é que me repugne a introdução
de coisas exóticas entre nós. Mas gosto de indagar se elas serão assimiláveis
ou não. No caso afirmativo, seja muito
bem-vinda a instituição alheia, fecundemo-la, arranjemos nela um filho híbrido
que possa viver cá em casa.
De outro modo, resignemo-nos às broncas contradições dos
sertanejos e dos matutos. Ora, parece-nos que o football não se adapta a estas
boas paragens do cangaço. É roupa de empréstimo, que não nos serve.
Quando Graciliano escreveu a
crônica, já havia diversos clubes de futebol no país, mas o esporte ainda
demoraria alguns anos para ganhar popularidade. A imagem do Brasil como terra
do futebol surgiria só a partir da Copa de 1950, quando a seleção perdeu a
final, no Maracanã, para o Uruguai. Na década de 1920, porém o futebol ainda
era uma atividade estrangeira e elitista como o surfe.
Autor: Leandro Narloch
Livro: Guia Politicamente
Incorreto da História do Brasil

Nenhum comentário:
Postar um comentário