19 de set. de 2014



O frango de Graciliano Ramos

Bons colunistas de jornal costumam comentar tendências, avaliar episódios e fornecer aos leitores previsões coerentes sobre o futuro do país. O alagoano Graciliano Ramos não era hábil nessas tarefas. Numa crônica de 1921, o autor de Vida Secas defendeu que o futebol era uma moda passageira que jamais pegaria no Brasil. Acreditava que o esporte não combinava com a personalidade “bronca” do brasileiro:Mas porque o football? Não seria, porventura, melhor exercitar-se a mocidade em jogos nacionais, sem mescla de estrangeirismo, o murro, o cacete, a faca de ponta, por exemplo?Não é que me repugne a introdução de coisas exóticas entre nós. Mas gosto de indagar se elas serão assimiláveis ou não. No caso afirmativo, seja muito bem-vinda a instituição alheia, fecundemo-la, arranjemos nela um filho híbrido que possa viver cá em casa. De outro modo, resignemo-nos às broncas contradições dos sertanejos e dos matutos. Ora, parece-nos que o football não se adapta a estas boas paragens do cangaço. É roupa de empréstimo, que não nos serve.
Quando Graciliano escreveu a crônica, já havia diversos clubes de futebol no país, mas o esporte ainda demoraria alguns anos para ganhar popularidade. A imagem do Brasil como terra do futebol surgiria só a partir da Copa de 1950, quando a seleção perdeu a final, no Maracanã, para o Uruguai. Na década de 1920, porém o futebol ainda era uma atividade estrangeira e elitista como o surfe.

Autor: Leandro Narloch
Livro: Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil

Nenhum comentário:

Postar um comentário