Meu sofrimento com
os passarinhos
Passei
muito tempo sem poder conviver com os meus passarinhos. Mas estando em
Cachoeira do Campo-MG como diretor dos estudos na Escola Dom Bosco, pude voltar
ao contato com os amiguinhos donos do canto. Cheguei a ter trinta gaiolas ao
longo do pórtico do colégio. Os pais dos alunos internos sabendo do meu gosto
me traziam canários cantores de cores e cantos diversos. Quando me transferi
para Niterói, levei comigo quase metade dos meus passarinhos deixando-os ao
cuidado de meu irmão Bosco que foi outro passarinheiro de profissão. Fiquei
apenas um ano em Niterói e fui ser diretor de um colégio em Vitória-ES.
Lá
tive uma grande decepção. Um amigo sabendo que eu era passarinheiro me deu um
canarinho belga de cor branca. Dizia ele que o bichinho de tão bom chegava a
incomodar. Era ver uma vesguinha de luz e começava a cantar sem parar. Levei-o
para alegrar os professores do colégio. O passarinho confirmou sua performance.
Era um encanto! Ficou lá em seu lugar no palco para cantar durante as refeições
por dois meses. Um gatuno o levou, gente do colégio. Depois disso passei a
curtir minha paixão durante sete anos. Achei que teria mais é que esconder
minhas mágoas. Mas a ocasião apareceu e voltei a viver com passarinhos. Desta
vez meu gosto mudou. Tinha curiós e um pássaro preto. Meus dois curiós tiveram
a desventura de serem vítimas de um gato atleta, pois as gaiolas estavam na
parede a três metros de altura. O pássaro preto cantador e amigo que
perambulava pela casa toda, um dia apareceu todo molhado e tiritando de frio me
contou a empregada. Ela para socorrê-lo esquentou o forno um pouco e o fechou
lá dentro. Quando foi buscar o bichinho estava queimado. Passei algum tempo sem
querer lidar mais com passarinhos. Mas paixão não se cura. Tendo mudado para um
apartamento voltei a cuidar de passarinhos. Desta vez criando-os nas gaiolas.
Dei muito filhotes para amigos. O belga além de grande cantor era um ótimo
reprodutor. Recebia muitas reclamações em casa pelas palhas de alpiste que entravam
casa a dentro, apesar de as gaiolas usarem saias para evitar esse incômodo.
Acreditem
se quiserem: Chego em casa um dia e encontro as gaiolas vazias. Tinham soltado
os passarinhos que na ocasião eram dois casais.
Confesso
que o sofrimento foi maior que arrancar dente sem anestesia. Ninguém é obrigado
a ter os mesmos gostos, mas respeitar os dos outros é imperativo de
convivência.
O
fato arrancou-me a paixão do coração. Eu que pensava que paixão não morre...
Dizia-me um amigo que a pessoa não abandona o vício mas pode ser abandonado por
ele.
Quanto
aos passarinhos vivendo em gaiola, já Olavo Bilac poetou “o pássaro cativo”,
mas solto por seu dono o adolescente comovido.
Hoje
ouço cantos de passarinhos e tendo aprendido seu canto assobio em dueto com
eles, que se aproximam atraídos pelo meu assobio. Não deixa de ser um consolo
para os longos anos de os ter comigo bem perto, assiduamente. Até mesmo de hora
em hora ouço canto de algum pássaro dentro de casa pelo relógio.
Contos de Paulo Motta
Livro: Memórias de um Seminarista
O professor para animar os iniciantes nos disse que o francês é língua neolatina como o português e com ele se parece muito. Eu vou dizer umas frases, disse, e vocês verão que entendem. Assim: “la soeur de charite”. Prontamente sem traduzir disse outra: “l’es enfants sont três jolis.” Vamos ver se vocês entenderam. A primeira frase, um garoto mais afoito e falador logo disse: a sogra do charuteiro. Silêncio! A segunda frase quem entendeu? Outro aluno saliente com fama de sabe tudo se levantou seguro e solenemente disse: o elefante é tijolinho. O professor com tranquilidade disse: viram? Só que o entendimento correto é um pouco diferente: a primeira é a irmã de caridade. Risos e zombarias do garoto tradutor... a segunda se traduz como as crianças são muito bonitas. Gargalhadas... Ô elefante quedê o tijolinho. Foi difícil colocar ordem na sala. Os dois tradutores ficaram etiquetados: charuteiro e elefante...
Pedagogia das arábias. Ficou provado que o francês é uma língua difícil e estranha. Parecia mais um trote nos novatos da aprendizagem, convencendo que eram analfabetos.
Que julguem os pedagogos o professor sabichão e sua pedagogia de ensinar línguas.
Hoje o ensino de línguas modernas exige a prática pedagógica que não humilhem os alunos mas os estimulem com paciência, escolhendo textos de interesse dos aprendizes. O que se disse do francês pode-se dizer do inglês. Outro professor propôs a seus neófitos a frase; Must we go far of. E outro corajoso logo traduziu o que se poderia esperar ouvindo os sons. Mastigou farofa. O lente disse: é quase isso. Nós precisamos ir longe.... O pobre do tradutor pegou logo o apelido de farofeiro. Imaginem, é muita pedagogia para ensinar.
Autor: Paulo Motta
O perigo do atoleiro
Era um belo
dia de domingo. O sol parecia convidar a passeios pelos campos. Eu estava numa fazenda
pertencente a um amigo da família.
O fazendeiro
chamou seu filho mais novo de doze anos e a mim, para levar o gado para um
pasto que havia alugado por um dia. Para aliciar-nos prometeu-nos um
dinheirinho para nossas farras.
Lá fomos nós
tocando a boiada como vaqueiros experimentados...
O pai do meu companheiro avisou a
ele que ficasse atento porque lá havia um atoleiro e o gado não deveria se aproximar.
Ao por do sol deveríamos
voltar com o gado.
Durante o dia
ficamos trepados em árvores, procuramos goiabas e comemos o bom lanche que dona
Gertrudes, esposa do fazendeiro, tinha com abundância preparado para nós.
Quando se fez
tardinha recolhemos o gado para a volta, afastando-o do atoleiro. Mas não é que
um marimbondo picou um boi e ele desembestou pelo lado do atoleiro e ali
afundou-se na lama!
Sem saber o
que fazer, meu companheiro foi correndo chamar seu pai contando o que tinha
acontecido. O Sr. Frâncico, era o nome
do fazendeiro, apanhou seu laço montou num cavalo e se dirigiu para onde estava
o boi que só tinha de fora da lama a cabeça. Sr. Francisco amarrou o laço na
cabeça do boi e outra ponta do laço na sela do cavalo. Colocou uma tábua no
lamaçal para nós pegarmos o rabo do boi. Tocou o cavalo à frente para puxar o
bicho atolado. O laço esticou todo, o boi se mexeu, mas o laço arrebentou. Teve
que ser emendado. O fazendeiro que bebera uns goles de pinga proferia impropérios
a mais não poder.
Nós os meninos fizemos promessa de acender
velas a São Sebastião para nos ajudar a retirar o boi do atoleiro e para não
apanharmos do Sr. Francisco que já estava uma fera.
São Sebastião
não falhou. A muito custo o boi saiu e nos apressamos em tocar toda boiada de volta. Lá na sede nem sei o
que aconteceu depois, pois peguei minha roupa e voltei para casa. Depois o
Jaime, meu colega, me contou na escola que sua mãe não deixou seu pai lhe bater,
mas a recompensa saiu pelo ralo jogada pelo danado do marimbondo.
Trocando os presos
Naquela noite estava de sentinela o
soldado João, conhecido pelas suas malandragens que o levaram para a carceragem
muitas vezes.
Voltava um oficial já bem tarde da
noite, um major, feroz perseguidor do pobre João. Foi entrando sem pedir
autorização ao guarda. Cambaleava e cantarolava
sem sequer olhar para a guarda, como se diz do asfalto, querendo furar o
sinal.
Porém, parou assustado quando o
guarda lhe disparou um tiro de fuzil de
admoestação próximo de seus pés. Assustado e irritado, perdeu o equilíbrio e
caiu ao chão, levantando-se com dificuldade e com boca mole se identificou
praguejando.
No
dia seguinte mandou prender o guarda, o soldado João, pelo atrevimento em
tratar um oficial do EXÉRCITO BRASILEIRO.
A prisão era por três dias. A isso
o soldado já estava acostumado. O oficial era mau e vingativo, olhava os
soldados como a ralé da plebe, parecia um nobre do tempo da Revolução Francesa
com as “lettres de caché” ou ordem de prisão sem nenhum motivo de culpa.
Mas
dessa vez foi diferente .
Acontece que o general comandante do
regimento, visitando os presos, quando viu João lhe perguntou: o que foi desta
vez que você aprontou? Ao tomar conhecimento do fato da noite anterior, disse a
João: Pode sair. Eu vou mandar para cá o major porque parece que ele não sabe o
que é disciplina militar e as consequências de sua violação. Foi o que
aconteceu.
Quando encontrou o soldado, o major
disse a ele que não sabia que ele tinha tanto poder e amizade com o comandante.
Ao que João respondeu: quem cumpre seu dever não merece castigo e o senhor se
esqueceu disso. Acho que agora vai maneirar suas perseguições.
Os companheiros de João riram do
caso até não poder mais e lhe disseram: “nunca imaginávamos que um camundongo conseguisse
prender um gato”...
Autor: Paulo motta
Não sou eu não
A empregada da família era casada e tinha duas filhas. O
marido queria um garoto. Disse à pobre mulher que se no próximo parto se ela
lhe desse um machinho ele ficaria com ela, caso contrário iria embora.
A mulher engravidou pela terceira vez e rezava muito para
nascer um filho homem. Quem diria, nasceu outra menina. A mãe ficou alucinada e
rezava para que a menina virasse menino. Todos os dias esperava o milagre. Não
recebeu o milagre. E o marido desapareceu. A pobre coitada com três filhas e
empregada doméstica, pediu à patroa para dar suas filhas para alguém criar. Não
foi difícil. A patroa ficou com a mais nova que precisava de sua mãe. As outras
duas foram entregues para casais que ficaram radiantes com a presença de uma
criança. As irmãs não ficaram mais se encontrando. Nenhuma delas sabia do
paradeiro das irmãs. A pobre mãe se via aliviada, pois não tinha como criá-las.
A caçula estava em sua companhia mas era criada e cuidada
pelos patrões que tinham para com ela todos cuidados que davam aos filhos.
A mãe sentia-se desobrigada de qualquer preocupação com as
filhas. E se sentia na condição de solteira.
Passeava aos sábados e domingos visitando os parentes dos
patrões ou em outros lugares em companhia de amigas.
Certa vez o patrão viajando por uma cidades próxima
encontrou-a na gandaia com outras mulheres. E estranhou por vê-la gastando seu
dinheirinho em festinhas com amigos.
Ao descer do carro chamou-a pelo nome para averiguar o que
estava fazendo por ali. Quando começou a conversar a empregada vendo-se
apanhada foi logo dizendo: não eu não, patrão eu sou outra pessoa.
Contos de Paulo Motta
Livro: Memórias de um seminarista
O dois irmãos, uma menina de nove
anos de idade e seu irmão de sete anos foram à cidade de Aperibé comprar remédio na farmácia do Senhor Alceu.
Da estação até a cidade havia duas
pontes da estrada de ferro que eram o único
caminho. Feita a compra os meninos voltavam. Atravessaram a primeira
ponte, caminharam pela ilha que separava as duas pontes e entraram na segunda
ponte que era a mais comprida. Estavam no meio da ponte quando um trem de carga
a toda velocidade vendo as crianças na ponte começou a apitar. Os dois irmãos
se assustaram, mas o menino pegando a mão de sua irmã a levou até uma pilastra
da ponte e disse para ela: não olhe nem para baixo nem para o trem, segure
forte em mim.
O maquinista ao passar pelas
crianças gritou para eles: seus maluquinhos vou contar para o pai de vocês essa
aventura perigosa. De fato ele conhecia o pai das crianças que era o chefe da
estação onde o trem iria parar.
Passado o perigo, os irmãos ainda
assustados voltaram aos trilhos e diziam: “vamos fazer uma promessa porque
escapamos do perigo e tivemos coragem e jeito de escapar”.
Fica provado que os anjos da guarda
acompanham e protegem as crianças. Pena que nem sempre as famílias ensinam seus
filhos a rezar a seu anjo zeloso guardador que sempre os guardam, protegem dos
perigos e os defendem do mal, iluminando seus caminhos para casa.
Contos de Paulo Motta
O MENINO QUE IA VIRAR SABÃO...
A família ia se despedir de um filho seminarista que deveria seguir para São Paulo. Eram ao todo onze pessoas. Além dos pais, uma amiga bem gorda, e oito filhos na idade de 2 a 14 anos. Era uma tropa!
Viajavam de trem e o tempo era chuvoso. A meta era a cidade de Cachoeiro de Itapemirim e a chegada era prevista para as dezoito horas, mas tendo caído uma barreira na estrada, o trem chegou somente às duas da madrugada. Dezoito horas de viagem. Todo mundo moído de cansaço... Quando ainda em casa a irmã mais velha, Mariinha, tinha dito para os mais novos que deveriam andar sempre de mãos dadas na cidade para não se perderem, pois havia um carro que pegava os cachorros e crianças perdidos nas ruas e levava para fazer sabão.
Chegados ao destino o pai se dirigiu com a família para procurar um hotel, deixando na estação as malas e um filho de sete anos para ficar vigiando, que ele voltaria para levar em seguida a bagagem mais pesada que ali ficava.
O menino admirado com as manobras dos trens, máquinas e vagões indo e vindo, apitos, ficou absorto. Ele era filho de chefe de estação e nunca vira tanta movimentação nos trilhos.
O pai voltou depois de algum tempo, pegou as malas e foi ao encontro da família já localizada no hotel, sem reparar que o menino não o seguia. O garoto quando olhou e não viu nem as malas nem o pai, corria por toda a extensão da plataforma de um lado
para outro procurando seu pai, e não o achando se viu sozinho. Então começou a chorar. Um soldado que estava ali de serviço foi ao encontro do menino, mas este corria com medo do soldado, porém, este o alcançou e perguntou por que estava ali sozinho e chorando. O menino contou sua desventura. O soldado se prontificou a ir com ele ao encontro dos pais e irmãos, pois tinha reparado aquela numerosa família, inclusive a presença de uma senhora gorda. Mas o menino não aceitou a ajuda do policial, dizendo: o senhor quer é me levar para a carrocinha para me fazerem sabão. O militar e outras pessoas que ouviam a conversa começaram a rir da resposta do menino e se perguntavam onde ele ouvira esta estória de fazer sabão de menino perdido.
Então várias pessoas juntas foram acompanhando o menino até seus pais. Quando alcançaram, o soldado perguntou ao pai se não tinha perdido um filho.
O pai começou a chamada de um por um. Não faltava ninguém, mas o soldado disse: esse aqui, e apontou para ele, ia virar sabão...
Aí foi a gozação de todos em cima do pobre coitado que se distraíra com os trens e acreditara na invenção de Mariinha.
Moral da estória: “Não se educa através do medo.”
Paulo Motta
Livro: Memórias de um Seminarista
Descendo a Serra da Mantiqueira
Serra da
Mantiqueira, nome indígena que significa serra que chora. O nome traduz á
abundância das nascentes que dali brotam.
No mais alto
desta serra está a cidade de Campos de Jordão a 1.625 m de atitude, cercada
de florestas e morros. O local oferece um verdadeiro paraíso de trilhas que
levam a lugares de belezas incomparáveis.
Doze
seminaristas passavam suas férias numa pousada de propriedade do seminário.
Deviam lá permanecer por quinze dias descansando dos trabalhos escolares.
Numa noite,
apenas no terceiro dia da estada o chefe da excursão, um padre anunciou, após
as orações rezadas seguidas de silêncio até o dia seguinte que dois dos doze
seminaristas deveriam deixar o grupo e voltar para São Paulo, onde estava o
colégio onde todos trabalhavam.
Os dois
ficaram sem saber a razão do que parecia um castigo por alguma falta muito
grave. O chefe não quis dar satisfação aos dois indiciados.
No dia
seguinte os afastados do grupo tomaram o ônibus da linha para São Paulo. Naquele
tempo a estrada não era asfaltada, e como se tratava de descer a montanha,
havia muito barro após as chuvas anteriores. Imagine-se o estado de espírito
dos viajantes, que sequer tomaram o café da manhã.
Durante a
viagem aconteceram dois fatos que distraíram os ânimos de todos, mas
particularmente dos dois seminaristas em estado quase de depressão.
O primeiro
deles foi quando uma senhora passando mal no ônibus, vomitou pela janela. Logo
em seguida gritou para que o ônibus parasse, pois tinha deixado cair alguma
coisa de sua bolsa. Parado o ônibus, a senhora desceu e foi procurar o que
caíra pela janela e quando voltou o motorista lhe perguntou se achara o que
tinha perdido. Ela respondeu que sim e que o objeto era a sua dentadura que já
estava na boca.
Mas adiante já
descida a serra, o ônibus parou por defeito desconhecido. Depois de meia hora
os passageiros perguntaram ao motorista o que acontecerá, e o que ele respondeu
que talvez o coletivo tinha soltado algum parafuso. Depois de longa espera os
passageiros viram duas pessoas transportando aos ombros um enorme cilindro de
aço, que era nada mais nada menos que o eixo de transmissão do ônibus. Apesar
da chateação dos viajantes a risada foi geral quando um gaiato gritou que nunca
tinha visto um parafuso tão grande...
A viagem
seguiu sem outros transtornos até São Paulo, naturalmente com um bom atraso.
Os dois
seminaristas seguiram para o colégio onde trabalhavam, e perguntaram ao diretor
a razão do comportamento do chefe da excursão ao excluí-los do grupo. A
resposta recebida foi que se o chefe assim agira tinha lá suas razões e que os
dois aprendessem uma lição que vigora no seminário e no Exército: “os meus
superiores sempre têm razão”.
Claro que a
lição não foi aprendida visto que toda pessoa merece respeito e consideração
ainda que seja de seus superiores.
Contos de Paulo Motta
Livro: Memórias de um Seminarista
Demonstração de coragem
Ele era
um adolescente e estudava num colégio religioso. Sua namoradinha conversando
com ele num grupo de amigos, brincou com ele perguntando se ele teria coragem
de ir ao cemitério à noite. O rapaz disse: Medo, só de gente viva, quem já
morreu está debaixo da terra.
Mas eu quero prova de que você foi ao cemitério...
O adolescente conversou com mais dois colegas que toparam a
aventura. Contaram para o padre diretor a aventura sobre almas de outro mundo e
coisa e tal. O diretor chamou a atenção do grupo porque poderiam ser
identificados como ladrões de cemitério e que o fato era inédito, uma menina
pedir uma demonstração tal de coragem.
Tomaram um pouco de conhaque para aumentar a coragem e lá
pelas vinte e uma horas foram os heróis. Deixaram o carro de fora, pularam o
muro e ei-los com uma lanterna á mão até chegar no centro juntinho à capela.
Lá se lembraram de rezar uma Ave Maria pedindo proteção.
Falavam sobre a paz do cemitério e diziam, isso aqui não é paz é o silêncio da
morte.
De repente a conversa deles despertou um defunto que saiu da
cova... Os três saíram correndo, pularam o muro e até se machucaram.
No dia seguinte foram conversar com o diretor do colégio.
Estavam ainda apavorados.
O padre os tranquilizou explicando que se tratava do vigia
do cemitério que certamente dormia numa cova nova e vazia e acordou com a
conversa deles e naturalmente iria ver se eram ladrões. Eu avisei a vocês... As
almas estão na mão de Deus e não vêm incomodar ninguém. Acho que a experiência
de vocês, apesar do medo, valeu para superar as fantasias de mortos
amedrontarem os vivos.
Certamente contaram às meninas que lá estiveram e que lá o
silêncio domina tudo. Nem parece que abaixo da terra estão os mortos. Só os monumentos a eles é que impressionam, parecendo estar vivos.
O que há de mais bonito é olhar para cima e ver o céu
estrelado.
Assim os medrosos se mostraram poetas olhando as estrelas...
Paulo Motta
Meu Cajueiro
Eu era
adolescente quando li um belo conto: meu cajueiro, do escritor Humberto Campos.
Comparei com a história de minha infância vivida nos galhos das goiabeiras, nos
pés de jenipapo e de tamarindo. Foi meu primeiro contato refletido sobre o amor
e a generosidade das árvores que, acolhedoras, me fizeram sonhar, sentindo-me
um privilegiado comandante da nau de minha vida.
Seus galhos eram braços e
abraços...
A ternura de
suas sombras, a firmeza de seus troncos crescidos e ainda no ventre da
mãe-terra, nascidos e não nascidos totalmente. Folhas soltas ao vento, cabelos
verdes cuidados pelo sol, suas flores polinizadas pelas aves que nelas encontram seu néctar e a
energia para suas experiências esvoaçantes. As flores se transformam em frutos,
degustados pelas aves e insetos e pelos
homens e usados até como sucos. São lembranças adolescentes, guardadas no
íntimo do coração ou na mente, que retira de seu arquivo, pedaços e momentos
que compõem, uma existência tornando-a unificada e com sentido
do novo e do velho num só momento
o melhor momento, o momento presente.
Hoje a vida me trouxe milhares de
árvores, encanto de meu olhar deslumbrado. Não há cajueiro, nem as árvores da
minha infância. Elas moram em mim como amigas de aventuras passadas e venturas
de uma idade de ouro tão bem vivida.
Autor: Paulo Motta
Casamento em Apuros
Um deputado estadual marcou seu casamento a ser realizado na capela do colégio onde estudara e pediu ao padre celebrante que não demorasse muito no sermão porque sua ex-namorada estaria presente e disse que o mataria na igreja...
No dia do casamento havia seis policiais em trajes civis colocados estrategicamente no corpo da igreja enquanto se desenrolava a cerimônia do casamento. O noivo estava inquieto, suava e olhava para os lados tentando verificar se tudo estava normal. O padre naturalmente estava um tanto preocupado. Se houvesse tiros, ele estava também na mira... As pessoas presentes demonstravam preocupação com o casal, embora algumas soubessem da estória do antigo namoro do deputado e da revolta dela pela escolha de outra moça que não ela. Perder um partidão daquele!... Mas tudo decorreu sem transtornos e os noivos, agora casados, saíram da Igreja ao som de música e foram receber os cumprimentos no salão de festa Não dou notícia porque não fui à recepção...
Outro casamento por mim presidido apresentou um conteúdo diferente..
Outro casamento por mim presidido apresentou um conteúdo diferente..
Os noivos já tinham catorze anos de casa- não- casa. O problema era que o noivo tinha fobia de aglomeração, mas a noiva não abria mão de casar na Igreja e de véu e grinalda. Afinal marcaram o dia, escolheram a Igreja de São Judas Tadeu (santo dos desesperados...) e o padre para celebrar o casamento, que era primo da noiva. Esta avisou ao padre que segurasse o noivo no presbitério porque ele era capaz de fugir. O padre fez o que pôde conversando mais de meia hora para distrair o possível fujão. Meia hora é um tempo razoável para demora da noiva. Acontece que ao chegar à porta da igreja a noiva percebeu que tinha esquecido seu buquê em casa.
Ela morava na Tijuca e não duvidou em ir buscá-lo. Ida e volta significava hora e meia. E o padre esperando e segurando o noivo. Mas o estoque de conversa já tinha acabado e o jeito era...contar de novo? E o noivo já suado e a igreja cheia. A conversa agora era: VOU-ME EMBORA!
Com a ajuda de Deus achei outro viés para a conversa, ao descobrir o gosto do rapaz, pelo futebol. Deu certo. Ao todo ficamos esperando duas horas pela princesa.
Ao final do casamento, após a música de praxe, ouviu-se um animado:
ATÉ QUE ENFIM, ATÉ QUE ENFIM, ELES DISSERAM O SIM.
Ela morava na Tijuca e não duvidou em ir buscá-lo. Ida e volta significava hora e meia. E o padre esperando e segurando o noivo. Mas o estoque de conversa já tinha acabado e o jeito era...contar de novo? E o noivo já suado e a igreja cheia. A conversa agora era: VOU-ME EMBORA!
Com a ajuda de Deus achei outro viés para a conversa, ao descobrir o gosto do rapaz, pelo futebol. Deu certo. Ao todo ficamos esperando duas horas pela princesa.
Ao final do casamento, após a música de praxe, ouviu-se um animado:
ATÉ QUE ENFIM, ATÉ QUE ENFIM, ELES DISSERAM O SIM.
Autor: Paulo Motta
Joãozinho e Maria
No seminário de Boa Esperança,
Jaciguá-ES, os próprios seminaristas é que cozinhavam, orientados e supervisionados
por Dona Judite. Semanalmente havia revezamento da turma, sempre de seis.
De certa feita um dos componentes era
um menino de apenas nove anos. Encarregado pelos colegas de lavar as panelas,
quando foi a vez de lavar a de arroz que era a maior e com muita rapa, o
moleque achou mais fácil entrar na
Vasilha
para trabalhar mais à vontade e como era muito pequeno adaptou-se bem.
Seus
colegas quando o viram assim imaginara reproduzir a cena da bruxa com
Joãozinho. Puseram água e sal na panela, chamaram Dona Judite para mexer com
sua vassoura levando a panela ao fogo.
O garoto a princípio gostou da
brincadeira, mas quando viu que acendiam o fogo se apavorou e danou a chorar.
Foi quando apareceu o seminarista assistente (eu) e vendo a brincadeira virando
judiação, mandou tirar o menino da panela.
Este saído do suplício de se tornar
cozido se abraçou ao seminarista e perguntou se eles iriam comê-lo de
verdade...
Mas
o teólogo o tranquilizou dizendo que tudo era de brincadeira. Mas o garoto
disse que a água já estava esquentando e se o ele não chegasse eu ia virar um
leitão cozido.
Os colegas riam e riam e Dona Judite
disse para o garoto que ela não era bruxa não e já ia desligar o fogo quando o padre
chegou. “Sei lá Dona Judite eu tenho minhas dúvidas disse o garoto”, “Menino,
está me chamando de velha bruxa? Eu tenho lá cara de mulher montada na
vassoura? Só hoje é que descobriram? Então não sou bruxa não”.
Lembrando este acontecimento do
passado não sei qual foi o estrago na cabeça da criança ou se ela conseguiu
superar o susto que lhe deram quando era tão criança. Os limites, eis a
questão. Nem sempre são respeitados.
Por conta do chefe
Um empregado da estrada de ferro, meu irmão, admitido como arquivista, era solicitado a fazer coisas outras bem diferentes, como servir café, buscar correspondências, limpar o chão. Mas o maluquinho, como era conhecido pelos colegas, não era de fácil tratamento. Quando mandado para fazer outras coisas, lembrava a seus superiores que tais coisas não faziam parte de seu ofício, arquivista..
Isso irritava seus superiores. Por tais comportamentos foi transferido do Rio para uma estação próxima de Juiz de Fora. Claro que o empregado esperneou dizendo que sua família morava no Rio e não podia mudar com ele. Não adiantou, o castigo foi aplicado. O maluquinho não se deu por achado, continuava resoluto dentro de sua área e sempre lembrando seus direitos.
Certa vez foi reclamar com o chefe que a comida não era boa, dizendo a ele: o senhor não come o que nós comemos...
Uma vez, botou uma barata morta na quentinha e levou ao chefe... Daí para frente vendo que a reclamação não surtia efeito partiu para outra. Disse ao chefe do restaurante que passaria a comer ali e no fim do mês mandaria a conta para a chefia.
Quando o chefe recebeu a conta disse ao empregado: pagarei, mas vou descontar no teu pagamento. Novamente o empregado desafiado disse que era seu direito comer como gente e não como bicho. E mais: se o senhor fizer isso não ficará bem para o senhor. Você me ameaça? De feito nenhum, apenas levarei a conhecimento de sua mulher o que o senhor faz com sua amante. O seu diabo! Você anda vasculhando minha vida? Não doutor, aqui todo mundo sabe, só que eu negocio o silêncio com o senhor.
Você é péssimo empregado. Não doutor, eu sou pequeno e sou pisado. Mas não calo. Vou te devolver para o Rio de onde te mandaram para cá. O senhor fará justiça e fará bem a si mesmo.
Autor: Paulo Motta
Inauguração do banho de piscina
Houve uma transferência de alunos de um colégio para outro. Em um faltava o espaço e noutro sobrava. Num dos colégios havia uma piscina porque havia falta de água para os banheiros. Eram duzentos alunos.
Quando chegaram os transferidos, foram logo recebidos para um banho de piscina. Eles não tinham calções, mas foram orientados que pegassem emprestado com os alunos antigos. Foram orientados também como deviam proceder. Iriam para a piscina de calção, enrolados num cobertor.Para pular ou entrar na água, sempre em silêncio, haveria palmas do chefe de disciplina. Tudo bem! Batidas as palmas, cobertores ao chão e todos pulam na água. Um aluno ao mergulhar ficou pelado sem calção porque era largo para ele. A água era meio turva e não foi fácil encontrar a peça que cobria suas vergonhas como dizia Vaz de Caminha.
Mas de repente, o silêncio foi rompido quando alguém gritou: tem alguém morrendo afogado! Os bons nadadores foram socorrer o colega e o retiraram da piscina. Bebera um pouco daquela água e perdera a fala. Feita a massagem em sua barriga, botou água pelo nariz e ficou bem logo em seguida. Que foi um susto, foi, e que susto, para ele e para os outros.
Perguntado se sabia nadar, disse que não. Então como pulou na água? Não disseram que era para pular,então, eu também pulei...
Obedecer tem como limite o bom senso, e a segurança. Autorização não é ordem!
A lição foi aprendida. Água é para peixes e para quem sabe nadar. Brincar com água é tão perigoso como brincar com fogo. O fogo queima, a água afoga. O pior é que não havia no seminário aulas de natação. Quem não sabia nadar era um frustrado que tinha que tomar seu banho nos poucos chuveiros existentes que eram usados só para os padres e seminaristas professores.
Não é bom esquecer o ritual que precedia o banho de piscina. Os rapazes vestiam seus calções, enrolavam-se em cobertores e, passando por uma ponte que ligava a piscina ao prédio esperavam o sinal de retirar os cobertores e em seguida pular na água. Admirável é que tomavam banho, de cada vez cem pessoas;era mais gente do que água...Esta era corrente mas não o suficiente para renovar o sujo; por isso a piscina vez ou outra apresentava cor meio esverdeada...Que tempos, que época. Como diria Cícero o orador romano:”Oh tempora, oh mores”, em suas catilinárias.
Autor: Paulo Motta
O roubo do cabrito
O padre tinha um quintal junto à residência na igreja. Ali ele plantava uma pequena horta e tinha umas árvores frutíferas. O interessante ou até intrigante é que no pequeno quintal ele tinha alguns animais que ganhava de amigos fazendeiros. Para começar, lá estava num engradado, uma jaguatirica. Havia um casal de carneiros branquinhos e já bem criados. Estes seguiam o padre até na igreja e se deitavam para assistir a missa do presbitério. Mas de vez em quando queriam dar marradas aos fiéis que freqüentavam a paróquia. Tartarugas eram também moradoras do ambiente. Um casal de cabritos faziam parte do rebanho caprino e ovino.mas a cadelinha de nome mimi era a fiel acompanhante do velo pároco.
Sobre a jaguatirica, um fato se deu de certa gravidade.
O padre estava na procissão do Senhor Morto. Dois alunos do colégio queriam ver de perto a oncinha. Aproveitando a ausência do padre, pularam o muro e se dirigiram à jaulinha que tinha uma grade de arame. Abaixaram-se para ver o animal. Este, pelo buraco da grade enfiou sua pata e feriu a cabeça de um deles. Foi uma sangueira. Foi preciso seu companheiro ir avisar o padre para poder chamar um enfermeiro ou médico. O padre perdeu a compostura e deixou a procissão. Foi ver o acontecido. Treze pontos no couro cabeludo...
Outro fato se deu quando três professores do colégio que funcionava junto à igreja combinaram roubar um cabrito do padre e comê-lo. Uma camionete A-10, ficaria encostada ao muro do lado de fora e um professor pegaria o cabrito; os de fora avisariam o momento para jogar o bodinho muro abaixo, assobiando. Tudo certo! Não. O professor com o cabrito ficou esperando o sinal do assobio e não obtinha a resposta para jogar o fruto do roubo. Com a demora do sinal e com medo de o padre aparecer, jogou o cabrito muro abaixo. O animal caiu em cima de um cidadão que tinha escolhido o local para soltar suas fezes... Com o cabrito caído nas suas costas,sentiu o maior susto e fugiu com as calças na mão. A camionete não encostou no muro justamente para esperar o fim do trabalho do agachado...
O cabrito fugiu na escuridão, mas foi achado e preso. E, a cabritada acabou na madrugada!
. No dia seguinte, o padre deu falta do caprino. E, o sermão da missa foi sobre o furto do seu cabrito, terminando com uma maldição... Os ladrões morreriam naquele ano. Não morreram... Cabrito bom é o que é roubado...
Autor: Paulo Motta
O IDIOTA
Uma pessoa está num estádio de futebol, acompanhando um jogo transmitido pela TV para o Brasil inteiro. Ao seu lado há um idiota com um cartaz no qual está escrito “Galvão, mostra eu na Globo”. O idiota pede ao vizinho que segure o cartaz um instantinho só, um instantinho que, claro, é suficiente para o cinegrafista da Globo filmá-lo como um idiota capaz de qualquer idiotice para aparecer um instantinho só na televisão.
Claro que o pedido seria atendido mas o rapaz não exibiu o cartaz com a inscrição, pois estava prestando um favor solicitado de segurar o cartaz. As pessoas vendo-o com o cartaz imaginaram tratar-se de um autêntico idiota como o que lhe pedira o favor. Mas aparece outro idiota de verdade e lhe pede emprestado o cartaz. O homem vendo que o dono não aparecia deu-lhe o cartaz. Quem o segurou acho que se cansou de esperar de se tornar celebridade global. Porém, quem espera alcança. E não é que o Galvão mandou focalizar... Mas alguém disse ao homem prestativo que o Galvão era incentivador de bobos alegres se mostrando no vídeo da Globo para contrastar com os jogadores, astros do povo.
Livro: Você e suas circunstâncias (texto modificado)
Autor: Artur Eduardo
Pg.13
Ex-morador de rua carrega o mundo na bicicleta
Ele foi sugado pelas palavras. Quando botou os olhos em A Revolução dos Bichos, obra-prima de George Orwell, a vida de Robson Mendonça mudou. Ele é gaúcho, de Alegrete. Foi morador de rua. É apaixonado pelas letras e se interessou pelo livro. Depois quis ler outros, mas não tinha aceso ás bibliotecas públicas porque não tinha comprovante de endereço. A falta de um pedaço de papel o afastava de prateleiras recheadas de papéis e idéias. Incomodado, ele deixou o Sul, desembarcou em São Paulo e montou num triciclo capaz de carregar um mundo inteiro.
Da criatividade de Robson surgiu a Bicicleta “Nasceu de um sonho meu de que todos pudessem ter acesso à cultura sem burocracia, sem controle”, explica ele. Ali, na garupa equipada com um baú com centenas de livros, Robson carrega 150 quilos de Truman Capote, Lima Barreto, Graciliano Ramos. Todos os dias pedala e estaciona no centro da capital paulista. As obras foram doadas por parceiros do projeto. Todas estão disponíveis para moradores de rua. Quem quer ler pega o livro, pode passar para frente ou desenvolver para a Bicicloteca. Quando uma pessoa recebe a doação, passa facilitar a busca por parentes.
Robson acredita no poder da leitura para a transformação do ser humano. Ele é a prova viva. Graças aos livros, reconstruiu a vida. Deixou a ruas mas depois voltou, só que para ajudar.
Autora: Laís Duarte
Revista: Brasil N°163 Ano 14 Pg. 8
VOCÊ E O VILÃO
Um padre o convenceu uma pessoa a fazer papel de vilão em uma peça infantil cuja renda reverteria para as obras assistenciais da igreja.
O homem envergou estoicamente o figurino do seu personagem: roupa preta, cartola, vasta bigodeira postiça, capa até os pés e um texto que lhe deveria parecer um vilão de verdade de espantar as crianças.
Engano seu que seria uma peça divertida. Durante a encenação, o texto mostrava a malignidade do seu personagem. A representação eletrizou a platéia de modo surpreendente. Os gritos de susto, os aplausos para a mocinha indefesa, os apupos para o vilão e suas tramóias sórdidas, as advertências para o mocinho nas cenas em que ele corre perigo – tudo isso era novidade, uma novidade que o espanta e arrebata. O ator nunca imaginou que instigar a imaginação e a fantasia das crianças fosse tão emocionante. E caprichou... Estava tão eletrizado quanto elas.
Mas no desenrolar do drama, o entusiasmo do público vai aumentando além do recomendável. Crianças ameaçam invadir o palco e salvar pessoalmente a mocinha de suas garras malignas. Será que seu desempenho estava sendo realista demais, pensou. Não seria o caso de substituir o método Stanislavski de interpretação pelo distanciamento brechtiano? Tarde demais. O artista improvisado incorporou o vilão que parecia de verdade.A magia do teatro já impregnara sua alma, ele estava inteiramente absorvido pelas nuances e motivações do seu personagem canalha.
Mas a efervescência do público chegou ao ponto de combustão. Por fim, as mães não conseguiram conter seus fedelhos, que queriam interferir na trama e fazer justiça com as próprias mãos. A invasão do palco tornou-se incontrolável. Logo o vilão ficou cercado de moleques, levou beliscões e pontapés de todos os lados. Metade do seu bigode foi arrancado.Ele tentou fugir, mas tropeçou na capa e caiu. O mocinho, num momento de dramaticidade inédito no teatro, intercedeu a favor do vilão, mas não foi atendido. Enquanto mães subiam ao palco e arrastavam os filhos de volta, uma nova falange de justiceiros avançou. O espetáculo foi interrompido. O vilão fez bem seu papel mas o enredo foi mudado e as crianças todas participaram e a peça ficou até melhor.
Livro:Você e as circunstâncias
Autor: Artur Eduardo
Pg. 38/39
CASTIGO DE DEUS
Um homem está fazendo compras numa mercearia onde um sujeito, alegando urgentes problemas intestinais, implora ao dono para lhe emprestar a chave do banheiro. O dono argumenta que para aquilo que ele está querendo não pode emprestar a chave, porque o estabelecimento só tem um banheiro, pequeno e sem ventilação. O sujeito pergunta, com certa lógica, para que serve então um banheiro, se não pode ser usado para um fim comum. O dono avisa que não vai dar a chave, e o sujeito diz que Deus vai castigá-lo pela maldade..
A discussão é interrompida quando dois assaltantes armados entram na mercearia e trancam os três, o dono e fregueses e o sujeito com problemas intestinais no tal banheiro pequeno e sem ventilação.
Enquanto os ladrões roubam o estabelecimento os fregueses tentam convencer o sujeito com problemas intestinais de que ele fez maldade com o dono da mercearia. De repente, percebem que alguém esta com cheiro de dejetos de intestino nas calças. E fede..,E falta ventilação. Não podendo mais resistir, imaginam que os marginais já se foram. E pé na porta para forçar a saída, e lá se vai a porta e sua tranca. Os assaltantes já tinham feito a coleta desejada e se mandaram Ficaram os prejuízos.
Um dos fregueses se prontificou a comprar um short para o homem que enchera suas calças e anunciara um castigo de Deus.
Claro que foi mera coincidência mas o dono da mercearia aprendeu uma dura lição, pela falta de sensibilidade para com as necessidades alheias..
Livro:Você e as circunstâncias
Autor: Artur Eduardo
A BORBOLETA AMARELA
Rubem Braga viu uma borboleta revoluteando em pleno tráfego das ruas do Rio de Janeiro, driblando carros e pedestres. Resolveu seguí-la, e disso resultaram três belas crônicas que deram título ao livro A borboleta Amarela, publicado em 1955.
Mais de cinquenta anos depois, um sujeito vê uma borboleta amarela voando pelo centro da cidade e, tal como o Braga, põe-se a seguí-la. Desiste depois de cinco minutos de esbarrões em pedestres irritados, protestos de operários, de um garoto chamado a atenção da mãe para o coroa doidão caçando borboleta na rua. Parece o Dirceu do Bem Amado. Um boboca atrás deu uma borboleta e apanhando dela. Ainda bem que ele era bobo e não pegou. O que ele queria fazer com ela? Como há gente malvada, mãe...
Livro:Você e as circunstâncias
Autor: Artur Eduardo
Pg. 110
CACHORRO VAI PARA O CÉU?
Tenho um amigo que é pastor de uma igreja presbiteriana no Rio de Janeiro. Parte da missão de um pastor é esclarecer as dúvidas espirituais que porventura possam advir da leitura confusa das Sagradas Escrituras. Pois ele foi procurado por uma senhora já bem velha, solitária, que morava sozinha e tinha como amigo de todas as horas o seu cãozinho, também já velhinho. A aflição da senhora tinha a ver com o fato de que ela acreditava na Bíblia como consolo. Pois houve um texto que a apunhalou: o escrito no livro de Apocalipse, capítulo 22, versículo 15. nenhuma das passagens terríveis das Sagradas Escrituras a havia abalado. Ela as lera e ficara em paz... Mas esse mínimo versículo havia abalado o seu mundo. Porque esse versículo enumera aqueles que não poderão entrar no Paraíso: “... Fora ficam os cães, os feiticeiros, os impuros...”. “Reverendo, então o meu cãozinho, meu único amigo, não entrará comigo no Paraíso?” Não foi fácil convencer a velhinha. Í aí o pastor teve a ideia de inovar a imagem dos rebanhos de ovelhas. Centenas de ovelhas pastando, os lobos à espreita, o pastor sozinho não dá conta, mas os cães estão sempre atentos. Eles são bons. Eles guardam as ovelhas. Por isso os pastores amam os cães. Pastores, ovelhas e cães entrarão todos juntos no Paraíso...
Autor: Rubem Alves
Livro: Pimentas
Pg. 90/91
MALANDRAGEM REFINADA
Família numerosa é quase uma sociedade...
Eram doze filhos, oito homens e quatro mulheres.
Os meninos não eram levados, eram terríveis.
A mãe dividia o cuidado deles com suas duas filhas
mais velhas. Os filhos mais novos eram os mais endiabrados. Dizer que não paravam em casa é muito pouco. Rua, rio, pomares, trens, pessoas passantes, eram os motivos das façanhas deles. Não havia um dia que não chegasse em casa alguma reclamação da patota. O lugar de onde provinha poucas reclamações era a Escola. A professora, única para três classes, tinha um jeito de tratar seus pupilos que tudo deles conseguia. Convenhamos que sua melhor arma era a sua beleza. Era linda demais, todos achavam. Mas vamos a uma malandragem dos garotos. A irmã que cuidava dos mais novos tinha um namorado. Seus irmãos a vigiavam e não saiam de perto deles.
Certo dia o namorado apareceu de terno todo branco de linho e com gravata. Dois dos irmãos tramaram um jeito de mandar o frajola embora. Tinha chovido no dia anterior e havia barro na rua. Um deles fez uma pelota de barro e jogou-a no terno do namorado. E correram. Conseguiram seu objetivo. O moço se despediu e foi embora. A irmã ficou chateadíssima pela má educação dos irmãos.
Um dos irmãos, o que jogou o barro, encontrou o
namorado de sua irmã numa ocasião e este o pegou pelo pescoço dizendo: e agora seu moleque vai me jogar mais barro? O garoto não se deu por achado e disse. Não fui eu que joguei barro no senhor foi o Francisco. Eu sou o Bosco. Então você diz a teu irmão que qualquer dia eu o pego, e largou o rapaz. O moleque chegou em casa
rindo e disse a seu irmão:usei seu nome para
me livrar do rapaz que namora nossa irmã.
Então te cuida... Oito rapazes em casa, como o pobre almofadinha iria adivinhar quem era quem?
Por essa e por outras a irmã acabou tornando-se Freira...
Paulo Motta
A resposta de São José
Catarina, uma jovem e piedosa costureira tinha muita devoção a São José, aprendera com sua mãe. Na igreja de sua pequena cidade, havia uma bela imagem de São José, a quem ela visitava todos os dias, após a missa. Sua mãe ficou viúva cedo e, por isso, viviam as duas com a avó e se mantinham à custa das costuras de ambas. Catarina ainda menina, habilidosa e inteligente aprendeu com elas a costurar e bordar com perfeição.
O ateliê precisou diminuir o trabalho pela doença da avó. Catarina abandonou o emprego para cuidar dela como sua enfermeira. Sua avó gastou suas economias com a doença. As costuras da mãe já não bastavam para o sustento das três, aparecendo então dívidas para pagar. Melhorando a saúde da avó tentaram recuperar o trabalho das costuras, porém as encomendas não apareciam.
Catarina teve uma idéia: enviar uma mensagem a São José pedindo ajuda na solução do problema de trabalho. Ela tinha uma pombinha muito mansa que vinha até suas mãos. Um dia escreveu um bilhete para São José e amarrou no pé da pombinha pedindo a ela para levar. A pombinha voou muito longe e quando voltou não tinha mais o bilhete no pezinho.
No dia seguinte apareceu na casa da família uma senhora que perguntou se elas costuravam e bordavam, visto que sua filha iria completar 15 anos e precisava encomendar várias costuras feitas com arte. Disse a Catarina que um senhor de idade foi a sua casa e informou o endereço de uma família que costurava muito bem. A principio Catarina não queria aceitar devido ao luxo da senhora e ao numero de trabalhos a fazer. Mas, em seguida lembrando-se de seu pedido resolveu aceitar e quando a senhora saiu começou a chorar, contando para a mãe e a avó o que tinha acontecido. Quando o vigário ficou sabendo falou ao povo sobre o poder de São José.
A paróquia cresceu muito com a freqüência das pessoas para rezar ao Santo Patriarca da Sagrada Família.
Autora: Barbara Honório
Revista: Arautos do Evangelho Ano 2012 pg. 46-47
As trapalhadas de uma viagem
Saímos do aeroporto de Goiânia onde hoje está o bairro com o mesmo nome.
Vim prestar exames de suficiência na então faculdade de Filosofia da PUC-GOÍAS que funcionava no Colégio Santo Agustinho. Corria o ano de 1952. Viajei de Campinas-SP até Goiânia pela estrada de ferro Mogiana. Derci em Vianópolis-Go, para chegar antes do trem, tomamos um táxi.
Prestadas as provas um colega quis voltar antes por não ter obtido resultado positivo. Não tinha dinheiro para a volta. Dei-lhe a ele o que tinha. Fui falar com o Padre Quintiliano, então secretário do Bispo D.Abel, para me emprestar o dinheiro para a volta. Ele me disse vai de avião, visto que tinha que voltar a Campinas e dali seguir para o Rio, onde minha mãe estava hospitalizada. Disse ao Padre que eu nunca viajei de avião e tinha medo. Mas ele disse sempre há uma primeira vez...
Fui pegar o avião da AEROVIAS BRASIL que fazia um pouso em Anápolis para o almoço. Em seguida voava para o Rio.
Acomodado na poltrona a meu lado sentou-se uma jovem Senhora com seus 100 quilos...
Seus pais iam nas poltronas do outro lado. Começamos a conversar. Ambos estávamos com medo...
Eles tinha ganhado na loteria e então a viagem ao Rio. O avião ligou os motores e começou a se preparar para decolar. A companheira apavorada agarrou no meu pescoço com tanta força que o medo do avião acabou e temi ser enforcado...
Chegando em Anápolis fomos para o restaurante. Eu não ia fiquei do lado de fora. Meu dinheiro todo dava para o táxi no Rio. Pela insistência da aeromoça entrei no restaurante e pedi um prato de arroz calculando que seria bem barato. O garçom estranhou mas antes atendeu meu pedido. Comi arroz com arroz e um copo d’água. Ao pedir a conta o garçom me respondeu que era por conta companhia aérea... Não dava mais tempo de pedir mais comida...
Chegando ao Rio fui para o hospital Graffée, onde se tratava do câncer. Nervoso me dirigi a uma sala e perguntei por minha mãe. A freira disse que eu esperasse na sala que ela estava na enfermaria bem de frente. Quando a porta da enfermaria se abriu me apressei em abraçar e beijar com efusão... A doente se espantou. Não era minha mãe... Era uma companheira de enfermaria minha mãe nunca soube do mico... Afinal não foi o primeiro nem será o último mico.
“Viver e não ter vergonha de ser fraco e ser feliz...”
Melhor que esmola
Depois de 10 anos se reunindo com sem-teto de são Paulo, a psicóloga crava: há encontros que podem transformar a vida de quem vive na rua.
“Moradores de rua assumem a visão que a sociedade tem deles: de que são um nada. Mas o amor pleno pode transformá-lo.”
Que estereótipos foram caindo?
O que a pessoa não sai da rua porque não quer. Essas pessoas não estão no exercício pleno de sua vontade. Estão sob escombros sociais, psicólogos. Elas também introjetam a visão que a sociedade tem delas de que são um nada e deixam de acreditar em sua capacidade. Outra questão é achar que o morador de rua é vagabundo porque dorme de dia. Na verdade, esse é o horário mais seguro. Também é falsa a ideia de que eles não têm vergonha da situação. Muitos se escondem atrás de uma barba, de uma roupa suja, deixando-se morrer, porque nem eles mesmos acreditam em uma mudança.
Porque é tão difícil ficarem em um abrigo, onde teriam cama e comida?
Muitos teriam de se separar, por exemplo, do seu cão. Parece secundário, mas, no estado de abandono emocional em que vivem essas pessoas, aquele cão é essencial até para a sanidade mental. Em outros casos, têm uma relação amorosa, que precisariam deixar. Há ainda a dependência química. Se não for tratada, como a pessoa vai ficar um local sem a droga?
Como deveriam ser pensadas as políticas para esse público?
É preciso conhecer a realidade psicoemocional dos moradores de rua. Construir uma relação de confiança com eles leva tempo. Com uma vida tão exposta, eles não se abrem facilmente. Tem haver com um sentido de autopreservação, de proteger a última coisa que é realmente íntima – sua história. Os técnicos que farão o contato direto com os moradores de rua precisam acreditar no potencial deles. É isso que os fará recuperar a esperança. A transformação vem ao reconquistar o sentido da vida.
Revista: Galileu nº 2541 pág. 36-.37
Autora: Vanessa Vieira
O dinheiro não deveria comprar tudo
Há coisas que o dinheiro não compra, mas, atualmente, não muitas. Quase tudo está à venda. Alguns exemplos: upgrade na cela carcerária, US$ 82 por noite. Em Santa Ana Califórnia, os infratores não violentos podem pagar por uma cela limpa e tranqüila na prisão. O celular do médico: de US$ 1,500 a US$ 25 mil por ano. Um número cada vez maior de doutores “de butique” oferece acesso ao seu telefone e consultas para o mesmo dia a paciente dispostos a pagar taxas altas. Matrícula do filho numa Universidade de prestígio? Embora o preço não seja divulgado, funcionários de universidades de primeira linha disseram ao Wall Street Journal que aceitam alunos não propriamente brilhantes cujos pais sejam ricos e suscetíveis a fazer doações financeiras generosas. Nem todo mundo pode pagar por essas benesses. Mas hoje não faltam maneiras de ganhar dinheiro. Algumas possibilidades inovadoras: alugar espaço na testa (ou em outra parte do corpo) para publicidade: US$ 777. A Air New Zeland contratou 30 pessoas para rasparem a cabeça e usarem tatuagens temporárias com o slogan “precisamos mudar? Vá para Nova Zelândia. Ler um livro, no caso de um aluno do ensino fundamental numa escola de Dallas: US$ 2. Para estimular a leitura, as escolas pagam às crianças por cada volume que lêem.
Revista: Galileu nº 2541 pág.90
Autor: Michael J. Sandel
Parada Número Dois
Se considerarmos que fazer cocô na frente de alguém não é corriqueiro, grudando em um desconhecido,
dentro do avião, parece filme.
Sabia que um dia isso iria acontecer... Pegando de dois a quatro aviões por semana, nada é mais humano que ter vontade de fazer cocô em uma dessas viagens... já estava sentada na poltrona quando chamei a comissária para relatar o meu desejo. Ela me oferece uma cadeira de rodas da companhia aérea, pois a minha já estava no compartimento de bagagens. Sair do avião para ir ao banheiro no aeroporto seria arriscado demais, e tive certeza de que largaria em São Paulo. Além do que, cada transferência vem com um aperto na barriga e fazer poltrona-cadeira, cadeira-vaso seria uma longa e arriscada distância.
Desde que sofri o acidente, nunca mais tinha entrado num banheiro de avião. Compreensível, devido ao tamanho reduzido para uma pessoa de porte médio. Eu nem sou de porte médio e, agravante, não consigo ir sozinha e, mais agravante ainda, tivemos que ir em três. A Gil me abraçando pela barriga e a comissária levando minhas pernas.
Esse é o jeito que entro e saio do avião.
Dentro do toalete foi quase um show cômico. Primeiro que adquiri intimidade com a moça em cinco minutos de convivência, já que a Gil me levantava e ela tinha que tirar minhas peças de roupas. E, se considerarmos que fazer número dois na frente de alguém já não é corriqueiro, grudada em alguém desconhecido parece filme. Vida de tetra tem muito dessas coisas... Outro dia um garçom que eu acabara de conhecer ajudou o Melo a vestir o meu casaco. Uma vez, na praia, várias crianças me perceberam embaixo do chuveiro e dividiram bucha, sabonete e xampu, num trabalho em equipe que mal tive controle. Isso traz uma humanidade indescritível às relações, sem contar a satisfação de conseguir fazer as coisas com poesia e sem movimentos. Ir ao banheiro para mim é algo prazeroso! Acontece que muita gente com deficiência fica refém da própria necessidade fisiológica, não saindo de casa por medo de precisar usar uma toalete e não encontrar um adequado com almas disponíveis a ajudar. Geralmente, quando isso acontece comigo, eu opto pelo meu carro, por causa da dificuldade de achar espaços acessíveis. Além do mais, seria surreal sair perguntando na rua: “Oi, você poderia me ajudar a fazer cocô?
Momento íntimo
Com três pessoas grandes dentro daquele banheiro, a porta não fechou. Tivemos que recrutar uma quarta pessoa para segurar a cortina e impedir que outros passageiros transitassem por ali. O processo demorou uns 40 minutos. Pois é, esse momento tão íntimo, porém impessoal, não disse respeito a mim e às três participações especiais, envolveu cerca de 170 passageiros, sem contar funcionários, que aguardavam a decolagem. E ainda aqueles que ficaram esperando em Brasília para embarcar para o próximo destino da mesma aeronave. Simples, né? É o mais incrível é que todo banheiro de avião tem símbolo internacional de acessibilidade. Embora os funcionários tenham sido impecáveis, o mundo não foi feito para quem tem uma deficiência.
Autora: Mara Gabrilli, 42 anos, é publicitária, psicóloga e deputada federal pelo PSDB. É tetraplégica e fundou a ONG Projeto Próximo passo (PPP).
Revista: TPM Ano 11 nº 123 pág. 114
Manoel de Barros
Eu tinha vontade de fazer como os dois homens que vi sentados na terra escovando osso. No começo achei que aqueles homens não batiam bem. Porque ficavam sentados na terra o dia inteiro escovando osso. Depois aprendi que aqueles homens eram arqueólogos. E que eles faziam o serviço de escovar osso por amor. e que eles queriam encontrar nos ossos vestígios de antigas civilizações que estariam enterrados por séculos naquele chão. Logo pensei de escovar palavras. Porque eu havia lido em algum lugar que as palavras eram conchas de clamores antigos. Eu queria ir atrás dos clamores antigos que estariam guardados dentro das palavras. Eu já sabia também que as palavras possuem no corpo muitas oralidades remontadas e muitas significâncias remontadas. Eu queria então escovar as palavras para escutar o primeiro esgar de cada uma. Era escutar os primeiros sons, mesmo que ainda bígrafos. Começei a fazer isso sentado em minha escrivaninha. passava horas inteiras, dias inteiros fechado no quarto, trancado a escovar palavras. Logo a turma perguntou: o que eu fazia o dia inteiro trancado naquele quarto? Eu respondi a eles, meio entre sonhado, que eu estava escovando palavras. Eles acharam que eu não batia bem. Então eu joguei a escova fora.
Manoel de Barros
Manoel de Barros
Na Casa das Palavras, sonhou Helena Villagra, chegavam os poetas.
As palavras, guardadas em velhos frascos de cristal,
esperavam pelos poetas e se ofereciam,
loucas de vontade de ser escolhidas:
Elas rogavam aos poetas...
Que as olhassem... as cheirassem... as tocassem... as provassem!
Os poetas abriam os frascos,
provavam palavras com o dedo e então...
lambiam os lábios ou fechavam a cara.
Os poetas andavam em busca de palavras que não conheciam,
e também buscavam palavras que conheciam e tinham perdido.
Na casa das palavras havia uma mesa das cores.
Em grandes travessas as cores eram oferecidas,
E cada poeta se servia da cor que estava precisando:
amarelo-limão ou amarelo-sol,
azul do mar ou de fumaça,
vermelho-lacre, vermelho-sangue, vermelho-vinho...
(Eduardo Galeano)
“Nasce como a Flor” (Jó 14.2)
A flor de lótus
A flor de lótus (o símbolo espiritual do Oriente) crava suas raízes na lama. E sua beleza provém, em parte, desse barro, quase tanto quanto provem do ar e da luz do Sol.
Não devemos menosprezar o estudo do cultivo das raízes das plantas, dando preferência à contemplação de uma orquídea, por exemplo. Embora essa belíssima flor seja cultivada no galho de uma árvore, precisa estar ligada a um tronco forte. Este, por sua vez, tem de estar enraizado no solo, extraindo dele os nutrientes de que precisa para alimentar a si mesmo e ao parasita, a orquídea. E, em muitos casos, a árvore hospedeira sobrevive à orquídea durante muitos anos.
Certo escritor relatou o seguinte:
“Algum tempo atrás, já no final do outono, visitei a estufa de um floricultor. Naquele porão, pouco iluminado, havia uma fileira de vasos de planta. O homem me explicou que neles ele plantara a batata das flores de inverno. E era bom para elas se desenvolver naquele ambiente semi-escuro.”
Suas raízes cresciam melhor num lugar de sombras do que ao brilho da luz do sol. Daí a algum tempo, as flores estariam no ponto de se abrir. Então suas cores vistosas iriam alegrar muitos corações, e seu doce perfume permearia o ar de inverno.
Plantado nas sombras para florescer na luz.
Primeiro, raízes, depois, rosas.
Livro: Mananciais do Deserto pág. 263-264
Autor: Lettie Cowman
Casa do Gigante
Antes de Caiapônia ser lançada com uma das maravilhas naturais de Goiás por causa de suas cachoeiras, ela sempre foi conhecida como a terra do gigante adormecido. Em diferentes pontos da cidade, você dá uma paradinha. Olha para a serra que a cerca e verá um gigante adormecido. Uma visão impactante, par ao turista, pois quem nasceu em Caiapônia logo se acostuma com o grandalhão preguiçoso, que nunca se levanta.
Na mesma linha de pedra sobre pedra está o morro do peão, ou outro gigante de beleza arrebatadora. O interior das serras abriga inúmeras cavernas. Algumas contam com inscrições rupestres. Mas esse tipo de turismo de aventura é muito incipiente. Pouco praticado. Merece maior atenção do poder público e da iniciativa privada.
O volumoso corredor de água em Caiapônia é formado graças às oito nascentes que o município abriga – entre elas, dos Rios Pântano, Verdão, Paraíso e Claro. Par achegar às maravilhas aquáticas, a cidade oferece o Centro de Apoio ao Turista (telefone 64 3663-7170), que pode orientar o visitante.
Converse com o guia, ele vai oferecer aas melhores opções. As mais acessíveis. São mais de dez cachoeiras, portanto, haja condicionamento físico.
Em todo caso, duas visitas são indispensáveis. A primeira: na cachoeira da Abóbora (ou 52 metros de queda livre), a 37 quilômetros do Centro de Caiapônia e fica na saída para Piranhas. Na mesma direção outro susto obrigatório: a Cachoeira da Samambaia (algo em torno de 54 metros de queda livre retinha, retinha). Alguns se aventuram com o guia antes para ele levar o equipamento adequado.
O roteiro de belezas naturais de Caiapônia conta ainda com as cachoeiras do Pântano, Jalapa e, surpreenda-se com a de São Domingos. Ufa. São 82 metros de queda livre. Um triunfo da natureza disputado pelos municípios de Caiapônia e Piranhas. Os dois querem assumir a paternidade da mina d’água.
Enquanto não se faz o teste de DNA, fica uma certeza. Mamãe natureza admite: flertou com os dois. E não quer saber de rixas. Senão a fonte d’água pode secar.
Caiapônia fica a 328 quilômetros de Goiânia, pela Rodovia dos Romeiros. Fundada em 1873, a cidade também já denominada de Torres do Rio Bonito. Pertence ao Sudoeste Goiano.
Jornal: O popular
Autor: Sebastião Vilela Abreu
O Caso Cesari Battisti
O Supremo Tribunal Federal decidiu, por cinco votos a quatro, pela invalidação do ato de concessão de refúgio, praticado pelo Ministro da Justiça e, na seqüência, autorizou a extradição requerida pela Itália. Também por cinco votos a quatro, o STF entendeu que sua decisão é meramente autorizativa, cabendo a decisão política final ao Presidente da República. Não é o caso de se reproduzir, aqui, o conjunto de argumentos da defesa, que podem ser lidos nesse site (Atuação como advogado).
No tocante à segunda parte da decisão, embora tenha suscitado polêmica no próprio tribunal e na opinião pública, a Corte limitou-se a reproduzir jurisprudência antiga e pacífica: a competência final é do Presidente da República, por ser ele a autoridade competente para conduzir as relações internacionais do país, nos termos da Constituição. No tocante à primeira parte da decisão, com o respeito devido e merecido, penso que a maioria do STF cometeu um erro jurídico e outro político.
O erro jurídico foi o de considerar que a decisão de conceder refúgio constitui ato vinculado. Em nenhuma circunstância, a valoração dos fatos relevantes e das implicações políticas de uma decisão dessa natureza, típico ato de soberania, pode ser considerada um ato imune a valorações subjetivas da autoridade competente. O Professor Celso Antônio Bandeira de Mello demonstrou o desacerto dessa visão em parecer conciso e fulminante.
O erro político consistiu na decisão da Corte de sobrepor a sua própria valoração à que havia sido feita pelo Ministro da Justiça, com apoio do Presidente da República. Por voto de Minerva, optou por conceder a extradição, interrompendo uma longa série de decisões garantistas e projetivas dos direitos fundamentais. Mandar alguém para a prisão de trinta anos por voto de desempate é um precedente que não merece ser celebrado.
Blog: Luís Roberto Barroso.
História Antiga
Na época das vacas magras
redemocratizado o país Governava a Paraíba
alugava de meu bolso em Itaipu uma casa
do Estado só um soldado que lá ficava sentinela
um dia meio gripado que passara todo em casa
fui dar uma volta na praia e vi um pescador
com sua rede e jangada mar adentro saindo
perguntei se podia ir junto não me reconheceu, partimos
se arrependimento matasse nunca sofri tanto
jogado naquela velhíssima jangada
no meio de um mar brabíssimo
voltando agradeci meses depois num despacho
anunciaram um pescador já adivinhando de quem
e do que se tratava dei (do meu bolso) três contos
é para uma nova jangada que nunca vi outra
tão velha voltou o portador com a seguinte notícia
o homem não quer jangada quer um emprego público.
Livro: Os cem melhores poemas brasileiros do século Pág. 321
Autor: Francisco Alvim
Lambe-Lambe
- Fotos que contam histórias
Da primeira vez que um papa visitou o Brasil, 1980, além de todas as honrarias, recebeu um presente inusitado: o paraibano Damião Galdino fez questão de entregar ao sumo pontífice um jumento caprichosamente batizado de Jericar. Como era de se esperar, João Paulo II não pode levar o simpático animal para pastar no vaticano. O bichano ficou em Brasília mesmo, onde participou de manifestações políticas e até subiu a rampa do palácio do Planalto em um ato das Diretas Já. Só quando Jericar morreu, anos depois, Damião conseguiu cumprir seu objetivo: “Consegui, finalmente, dar o presente que sempre sonhei para o papa”, declarou na época. Tinha acabado de enviar as cinzas do jumento para o Vaticano.
Revista: BRASIL - Almanaque de Cultura Popular
Ano 14 nº 160 pág. 05
Padre empresário queria
abrir shopping na paróquia
Num certo domingo de agosto de 1966, quem estivesse caminhando por Ipanema, Rio de Janeiro, poderia ser surpreendido pelo melhor do iê-iê-iê. Mas não se tratava de nenhuma casa de espetáculos com a apresentação de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. O som vinha, na verdade, da Igreja de Nossa Senhora da Paz, comandada pelo frei Leovigildo Balestieri, que convocou o grupo The Brazilian Bitles para animar uma das missas. Seu argumento era irrefutável: “tenho que concorrer com a praia à frente”. O frei não inovou somente à missa. Leovigildo, que estava na paróquia desde 1939, tinha uma visão empresarial do comando da igreja.
Não achava que deveria sobreviver apenas de dízimos.
Como fontes alternativas de recursos,
abriu uma pequena fábrica de azulejos
no subúrbio e ganhou o controle
do guarda-volume da Central do Brasil.
Passou a controlar um cinema,
um rinque de patinação e até um boliche.
Em 1973, reuniu-se com empresário e anunciou que construiria um shopping no terreno da igreja. Entre lojas de Surfwear e restaurante de comida rápida, manteria uma capelinha para receber os fiéis. Mas a idéia nunca saiu do papel,
sobretudo por uma forte campanha contrária do Pasquim.
Para o escritor e jornalista Ruy Castro, “frei Leovigildo talvez não vendesse sua alma ao diabo.
Mas aceitaria reunir-se com ele para discutir o negócio.
Revista: BRASIL - Almanaque de Cultura Popular
Ano 14, nº 160 pág. 06
Barriga de Leila Diniz
provocou revolução
Maria Helena Malta, repórter e amiga de Leila Diniz, cansou de sugerir matérias com a atriz na revista Claudia, em 1970. “Ela não tem nada a ver com o nosso público”, respondiam editores. A brecha veio na gravidez de Leila, que parecia aproximar a rebelde dos temas da publicação.
A repórter e o fotógrafo Joel Maia a encontraram em 15 de agosto de 1971 na ilha de Paquetá. Ela curtia a gravidez à vontade de biquíni, na casa onde o marido Ruy Guerra trabalhava. “como você quer tirar as fotos, Leila?” perguntou a reportagem. “Assim mesmo está ótimo”, disse ela, sem saber quanto as imagens do barrigão descoberto na praia
virariam um clássico da iconografia feminina no país.
Na edição da Claudia de outubro, pela primeira vez a sociedade deparava-se com uma barriga de oito meses de gravidez fora dos livros de medicina. A Antropóloga Miriam Goldemberg comenta: “Leila fez uma verdadeira revolução simbólica ao revelar o oculto, a sensualidade feminina fora do controle masculino, em sua barriga grávida ao sol”.
Revista: BRASIL - Almanaque de Cultura Popular
Ano 14 nº 160 pág. 10
Autor: Joaquim Ferreira dos Santos
Olho de Boi não manchava
a imagem do imperador
Depois apenas da Inglaterra, o Brasil foi a segunda nação a emitir selos com validade para todo o território.
A ordem de dom Pedro II determinando a impressão de selos em folhas de papel fino branco, não muito ordinário, acabou por criar uma preciosidade buscada até hoje
pelos faz da filatelia mundial
Impressas pela Casa da Moeda em 1º de agosto de 1843,
hoje Dia nacional do Selo, nossas primeiras emissões postais eram objetos bem simples: redondos, apenas com inscrição do valor em réis ao centro e arabescos no entorno.
Pela aparência, ficaram conhecidos como olho-de-boi.
Enquanto a Inglaterra imprimia o rosto da rainha nas emissões postais, por aqui a ideia de estampar em selos a efígie do imperador encontrou resistência. Ninguém queria que a face de Pedro II pudesse ser manchada com um reles carimbo postal.
Revista: BRASIL - Almanaque de Cultura Popular
Ano 14 nº 160 pág. 05
Professor Curitibano tem Palíndromo
até no nome
Foi lá nos anos 1960, no colégio, que Ziro Roriz se deparou pela primeira vez com o que seria a sua especialidade: “Socorram-me subi no ônibus em Marrocos”. A palídromia, brincadeira com palavras e frases que continuam iguais se lidas da direita para a esquerda, nunca mais saiu da vida do professor de matemática. Com mais de 500 palíndromos criados, aos 45 anos Ziro se deu conta de que o próprio heterônimo, formado pelo apelido de infância e o sobrenome, era palíndromo. “Posso dizer que sou um palindromista legítimo”, afirma orgulhoso.
E completa: “ Se vocês escrever seguidas vezes meu prenome,
Osíris, ele também fica palidrômico (osirisosirisosirisosiris)”.
Ziro estudou tudo sobre o tema que cativou de Millôr Fernandes
(autor de “A mala nada na alma”) a Chico Buarque
(“Até Reagan sibarita tira bisnaga ereta”).
Aos 62 anos, afirma ter criado o maior palíndromo
da língua portuguesa, com 309 palavras.
Chama-se “É na tropa do avô novo no vão da porta, né”.
Sim, como você deve ter notado, o título
também pode ser lido ao contrário.
Ao longo da vida, Ziro reuniu mais de 4.500 jogos de palavras, entre frases, textos, palíndromos circulares e até um poema palíndromo. Organizou inclusive um livro que pretende ainda publicar. O passatempo já está tão enraizado no dia a dia, que não consegue ler o nome de uma placa ou conhecer o nome de alguém sem imaginar o inverso: “Hoje em dia,
mentalizo a palavra e ela já me vem ao contrário”.
Grego criou a maratona
só para enviar uma mensagem
A maratona é considerada a prova mais nobre e difícil das Olimpíadas. Tanto que é a modalidade escolhida para fechar os jogos olímpicos. Ultrapassar seus 42,195 quilômetros é tarefa para poucos. Se já é uma missão complicada para atletas bem treinados, imagine para Filípedes, o mensageiro grego que precisou correr essa distância para salvar seu povo e, séculos depois, inspirar o surgimento da maratona.
O ano era 490 antes de Cristo e os soldados gregos se envolveram num combate contra os persas na planície de Marathonas. Atenas ficou apreensiva porque os persas prometeram, caso saíssem vitoriosos, entrar na cidade e matar a todos – inclusive mulheres e crianças.
Os soldados atenienses deixaram uma ordem às mulheres: caso não recebessem a notícia da vitória em 24 horas,
deveriam matar seus filhos e se suicidar.
Mesmo em menor número, os gregos venceram. Mas, a batalha durou mais do que o esperado. O general Milcíades ordenou a Filípedes que corresse o mais rápido possível a Atenas para dar a notícia. Ao chegar à cidade, 42 quilômetros depois,
apenas disse: “Vencemos”, e caiu morto.
Os organizadores dos primeiros jogos Olímpicos da Era moderna, em 1896, em Atenas decidiram homenagear o herói grego com a criação da maratona, que então possuía cerca de 40 quilômetros. A distância atual só passou a valer em 1908, na Olimpíada de Londres, para que a família real
britânica pudesse acompanhar
o início da prova dos jardins do Palácio de Windsor.
Revista: BRASIL - Almanaque de Cultura Popular
Ano 14 nº 160 pág. 12
Uma reunião do alto comando
dos militares na rua...
Trabalhando no Ministério da Educação,
voltava para o serviço na parte da tarde.
Entrando pela lateral que leva aos ministérios, parado para poder entrar na pista do outro lado de repente um carro entrou pela esquerda num espaço que não caberia o automóvel,pois meu veículo tinha frente preparada para virar. Não deu outra, esbarrou no carro da frente amassando os dois veículos.
Uma senhora da alta sociedade desceu do carro e se dirigiu a pé para os prédios dos Ministérios militares.
Enquanto isso foi acionada a polícia
Entrando pela lateral que leva aos ministérios, parado para poder entrar na pista do outro lado de repente um carro entrou pela esquerda num espaço que não caberia o automóvel,pois meu veículo tinha frente preparada para virar. Não deu outra, esbarrou no carro da frente amassando os dois veículos.
Uma senhora da alta sociedade desceu do carro e se dirigiu a pé para os prédios dos Ministérios militares.
Enquanto isso foi acionada a polícia
especializada para fazer a devida perícia.
Eis que a senhora volta acompanhada pelo seu marido que era nada mais nada menos que o Ministro da Marinha, um almirante. Logo em seguida foram aparecendo outros militares, ministro da Aeronáutica, depois o Ministro do Exército, o chefe do SNI.
Percebida essa conjunção , o jeito foi chamar
Eis que a senhora volta acompanhada pelo seu marido que era nada mais nada menos que o Ministro da Marinha, um almirante. Logo em seguida foram aparecendo outros militares, ministro da Aeronáutica, depois o Ministro do Exército, o chefe do SNI.
Percebida essa conjunção , o jeito foi chamar
meus colegas de repartição, três coronéis...
Esses chegaram perto do lugar do evento
Esses chegaram perto do lugar do evento
e se mandaram de volta.
O Almirante foi logo tirando a chave de meu carro e me dizendo que providenciasse o conserto do carro de suaesposa.Foi-lhe respondido que a perícia já tinha sido acionada e era esperada. Mas o militar foi dizendo que não era necessária nenhuma perícia...
Nesse instante um colega passava por ali e vendo aquela confusão, me tomou pela mão e me disse: deixa tudo comigo e vai para sua repartição. O chefe do SNI me disse que testemunharia contra você. Ele estava presente na hora? Respondi que não. Pior, vai embora.
Você vai perder o emprego.
O Almirante foi logo tirando a chave de meu carro e me dizendo que providenciasse o conserto do carro de suaesposa.Foi-lhe respondido que a perícia já tinha sido acionada e era esperada. Mas o militar foi dizendo que não era necessária nenhuma perícia...
Nesse instante um colega passava por ali e vendo aquela confusão, me tomou pela mão e me disse: deixa tudo comigo e vai para sua repartição. O chefe do SNI me disse que testemunharia contra você. Ele estava presente na hora? Respondi que não. Pior, vai embora.
Você vai perder o emprego.
Suma daqui, vai embora.
Fui.
Chegando à repartição os companheiros estavam comentando e rindo a não mais poder...Rapaz você conseguiu reunir
Chegando à repartição os companheiros estavam comentando e rindo a não mais poder...Rapaz você conseguiu reunir
as Forças Armadas num canteiro da esplanada
por causa de uma simples batida...
Recriminei a covardia deles em me abandonar à sanha dos militares. E eles: onde há um general, um almirante e o Ministro da Aeronáutica e ainda o chefe do SNI, coronéis não apitam, são peixinhos miúdos...Seriam presos por se envolverem no meio de patentes mais altas...
Claro que arquei com o prejuízo, sem me ter convencido que a culpa era minha, se fui batido por trás...
Recriminei a covardia deles em me abandonar à sanha dos militares. E eles: onde há um general, um almirante e o Ministro da Aeronáutica e ainda o chefe do SNI, coronéis não apitam, são peixinhos miúdos...Seriam presos por se envolverem no meio de patentes mais altas...
Claro que arquei com o prejuízo, sem me ter convencido que a culpa era minha, se fui batido por trás...
Onde há tubarões fujam os cardumes!
Paulo Motta
Goiânia, GO
Paulo Motta
Goiânia, GO
A pior audiência da minha vida
A minha carreira de Promotor de Justiça foi pautada sempre pelo princípio da importância (inventei agora esse princípio), isto é, priorizava aquilo que realmente era significante diante da quantidade de fatos graves que ocorriam na Comarca em que trabalhava. Até porque eu era o único promotor da cidade e
só havia um único juiz. Se nós fôssemos nos preocupar com furto de galinha do vizinho; briga no botequim de bêbado sem lesão grave e noivo que largou a noiva na porta da igreja nós não iríamos
homicídios, roubos, etc).
quando se trata de “emperramento da máquinajudiciária”. Pois bem. O Procurador Geral de Justiça (Chefe do Ministério
Lá fui eu prestar solidariedade à colega. Cheguei, me identifiquei a ela (não a conhecia) e combinamos que eu ficaria com os
processos criminais e ela faria as audiências e os processos cíveis. Foi quando ela pediu para, naquele dia, eu fazer as audiências, aproveitando que já estava ali. Tudo bem.
Fui à sala de audiências e me sentei no lugar reservado aos membros do
E eis que veio a primeira audiência do dia: um crime de ato obsceno cuja lei diz:
Ato obsceno
O detalhe era: qual foi o ato obsceno que o cidadão praticou para estar ali, sentado no banco dos réus? Para que o Estado movimentasse toda a sua estrutura burocrática para fazer valer a lei? Para que todo aquele dinheiro
gasto com ar condicionado, luz, papel, salário do juiz, do promotor, do defensor, dos policiais que estão de plantão, dos oficiais de justiça e demais funcionários justificasse aquela audiência? Ele, literalmente, cometeu uma ventosidade intestinal em local público, ou em palavras mais populares, soltou um pum, dentro de uma agência bancária e o guarda de
segurança que estava lá para tomar conta do patrimônio da empresa, incomodado, deu voz de prisão em flagrante ao cliente peidão porque entendeu que ele fez aquilo como forma de deboche da figura do segurança, de sua
autoridade, ou seja, lá estava eu, assoberbado de trabalho na minha comarca, trabalhando com o princípio inventado agora da importância, tendo que fazer
audiência por causa de um peidão e de um guarda que não tinha o que fazer. E mais grave ainda: de uma promotora e um juiz que acharam que isso fosse algo
relevante que pudesse autorizar o Poder Judiciário a gastar rios de dinheiro com um processo para que aquele peidão, quando muito mal educado, pudesse ser punido nas “penas da lei”.
Ponderei com o juiz que aquilo não seria um problema do Direito Penal, mas sim, quando muito, de saúde, de educação, de urbanidade, enfim… Ponderei, ponderei, mas bom senso não se compra na esquina, nem na padaria, não é
mesmo? Não se aprende na faculdade. Ou você tem, ou não tem. E nem o juiz, nem a promotora tinham ao permitir que um pum se transformasse num litígio a ser resolvido pelo Poder Judiciário.
Imagina se todo pum do mundo se transformasse num processo? O cheiro dos fóruns seria insuportável.
O problema é que a audiência foi feita e eu tive que ficar ali ouvindo tudo
aquilo que, óbvio, passou a ser engraçado. Já que ali estava, eu iria me divertir. Aprendi a me divertir com as coisas que não tem mais jeito. Aquela era uma delas. Afinal o que não tem remédio, remediado está.
O réu era um homem simples, humilde, mas do tipo forte, do campo, mas com idade avançada, aproximadamente, uns 70 anos.
Eis a audiência:
Juiz – Consta aqui da denúncia oferecida pelo Ministério Público que o senhor no dia x, do mês e ano tal, a tantas horas, no bairro h, dentro da agência bancária Y, o senhor, com vontade livre e consciente de ultrajar o pudor público, praticou ventosidade intestinal, depois de olhar para o
guarda de forma debochada, causando odor insuportável a todas as pessoas daquela agência bancária, fato, que, por si só, impediu que pessoas pudessem ficar na fila, passando o senhor a ser o primeiro da fila.
Esses fatos são verdadeiros?
Réu – Não entendi essa parte da ventosidade…. o que mesmo?
Juiz – Ventosidade intestinal.
Réu – Ah sim, ventosidade intestinal. Então, essa parte é que eu queria que o senhor me explicasse direitinho.
Juiz – Quem tem que me explicar aqui é o senhor que é réu. Não eu. Eu cobro explicações. E então.. São verdadeiros
ou não os fatos?
O juiz se sentiu ameaçado em sua autoridade. Como se o réu estivesse desafiando o juiz e mandando ele se explicar. Não percebeu que, em verdade, o réu não estava entendendo nada do que ele estava dizendo.
Réu – O guarda estava lá, eu estava na agência, me lembro que ninguém mais ficou na fila, mas eu não roubei ventosidade de ninguém não senhor. Eu sou um homem honesto e trabalhador, doutor juiz “meretrício”.
Na altura da audiência eu já estava rindo por dentro porque era claro e óbvio que o homem por ser um homem simples ele não sabia o que era ventosidade intestinal e o juiz por pertencer a outra camada da sociedade não entendia algo óbvio: para o povo o que ele chamava de ventosidade intestinal aquele homem simples do povo chama de PEIDO. E mais: o juiz se
ofendeu de ser chamado de meretrício. E continuou a audiência.
Juiz – Em primeiro lugar, eu não sou meretrício, mas sim meritíssimo. Em segundo, ninguém está dizendo que o senhor roubou no banco, mas que soltou uma ventosidade intestinal. O senhor está me entendendo?
Réu ¬– Ahh, agora sim. Entendi sim. Pensei que o senhor estivesse me chamando de ladrão. Nunca roubei nada de ninguém. Sou trabalhador.
E puxou do bolso uma carteira de trabalho velha e amassada para fazer prova de trabalho.
Juiz – E então, são verdadeiros ou não esses fatos.
Réu – Quais fatos?
O juiz nervoso como que perdendo a paciência e alterando a voz repetiu.
Juiz – Esses que eu acabei de narrar para o senhor. O senhor não está me ouvindo?
Réu – To ouvindo sim, mas o senhor pode repetir, por favor. Eu não prestei bem atenção.
O juiz, visivelmente irritado, repetiu a leitura da denúncia e insistiu na tal da ventosidade intestinal, mas o réu não alcançava o que ele queria dizer. Resolvi ajudar, embora não devesse, pois não fui eu quem ofereci aquela denúncia estapafúrdia e descabida. Típica de quem não tinha o que fazer.
EU – Excelência, pela ordem. Permite uma observação?
O juiz educado, do tipo que soltou pipa no ventilador de casa e jogou bolade gude no tapete persa do seu apartamento, permitiu, prontamente, minha manifestação.
Juiz – Pois não, doutor promotor. Pode falar. À vontade.
Eu – É só para dizer para o réu que ventosidade intestinal é um peido. Ele não esta entendendo o significado da palavra técnica daquilo que todos nós fazemos: soltar um pum. É disso que a promotora que fez essa denúncia está acusando o senhor.
O juiz ficou constrangido com minhas palavras diretas e objetivas, mas deu aquele riso de canto de boca e reiterou o que eu disse e perguntou, de novo, ao réu se tudo aquilo era verdade e eis que veio a confissão.
Réu – Ahhh, agora sim que eu entendi o que o senhor “meretrício” quer dizer.
O juiz o interrompeu e corrigiu na hora.
Juiz – Meretrício não, meritíssimo.
Pensei comigo: o cara não sabe o que é um peido vai saber o que é um adjetivo (meritíssimo)? Não dá. É muita falta de sensibilidade, mas vamos fazer a audiência. Vamos ver onde isso vai parar. E continuou o juiz.
Juiz – Muito bem. Agora que o doutor Promotor já explicou para o senhor de que o senhor é acusado o que o senhor tem para me dizer sobre esses fatos?
São verdadeiros ou não?
Juiz adora esse negócio de verdade real. Ele quer porque quer saber da verdade, sei lá do que.
Réu – Ué, só porque eu soltei um pum o senhor quer me condenar? Vai dizer que o meretrício nunca peidou? Que o Promotor nunca soltou um pum? Que a dona moça aí do seu lado nunca peidou? (ele se referia a secretária do juiz que naquela altura já estava peidando de tanto rir como todos os presentes à audiência).
O juiz, constrangido, pediu a ele que o respeitasse e as pessoas que ali estavam, mas ele insistiu em confessar seu crime.
Réu – Quando eu tentei entrar no banco o segurança pediu para eu abrir minha bolsa quando a porta giratória travou, eu abri. A porta continuou travada e ele pediu para eu levantar a minha blusa, eu levantei. A porta continuou travada. Ele pediu para eu tirar os sapatos eu tirei, mas a porta continuou
travada. Aí ele pediu para eu tirar o cinto da calça, eu tirei, mas a porta não abriu. Por último, ele pediu para eu tirar todos os metais que tinha no bolso e a porta continuou não abrindo. O gerente veio e disse que ele podia abrir a porta, mas que ele me revistasse. Eu não sou bandido. Protestei e eles disseram que eu só entraria na agência se fosse revistado e aí eu fingi
que deixaria só para poder entrar. Quando ele veio botar a mão em cima de mim me revistando, passando a mão pelo meu corpo, eu fiquei nervoso e, sem querer, soltei um pum na cara dele e ele ficou possesso de raiva e me prendeu. Por isso que estou aqui, mas não fiz de propósito e sim de nervoso.
Passei mal com todo aquele constrangimento das pessoas ficarem me olhando como seu eu fosse um bandido e eu não sou. Sou um trabalhador. Peidão sim, mas trabalhador e honesto.
O réu prestou o depoimento constrangido e emocionado e o juiz encerrou o interrogatório. Olhei para o defensor público e percebi que o réu foi muito bem orientado. Tipo: “assume o que fez e joga o peido no ventilador. Conta toda a verdade”. O juiz quis passar a oitiva das testemunhas de acusação e eu alertei que estava satisfeito com a prova produzida até então. Em outras palavras: eu não iria ficar ali sentado ouvindo testemunhas falando sobre um cara peidão e um segurança maluco que não tinha o que fazer junto com um gerente despreparado que gosta de constranger os clientes e um juiz que gosta de ouvir sobre o peido alheio.
Eu tinha mais o que fazer.
Aliás, euestava até com vontade de soltar um pum, mas precisava ir ao banheiro porque
meu pum as vezes pesa e aí já viu, né?
No fundo eu já estava me solidarizando com o pum do réu, tamanho foi o abuso
do segurança e do gerente e pior: por colocarem no banco dos réus um homem simples porque praticou uma ventosidade intestinal.
É o cúmulo da falta do que fazer e
da burocracia forense, além da distorção
do Direito Penal sendo usado como instrumento de
coação moral. Nunca imaginei fazer uma audiência
por causa de uma, como disse a denúncia, ventosidade
intestinal. Até pum neste País está sendo tratado como
crime com tanto bandido, corrupto, ladrão andando
pelas ruas o judiciário parou para julgar um pum.
Resultado: pedi a absolvição do réu alegando que o
fato não era crime, sob pena de termos que ser todos,
processados, criminalmente, neste País,
inclusive, o juiz que recebeu a denúncia e a promotora que a fez.
O juiz, constrangido, absolveu o réu, mas ainda quis fazer
discurso chamando a atenção dele,
dizendo que não fazia aquilo em público,
ou seja, ele é oúnico ser humano que está nas ruas
e quando quer peidar vai em casa rápido,
peida e volta para audiência, por exemplo.
É um cara politicamente correto.
É o tipo do peidão covarde,
ou seja, o que tem medo de peidar.
Só peida no banheiro e se não tem banheiro ele se
contorce, engole o peido, cruza as perninhas e continua
a fazer o que estava
fazendo como se nada tivesse acontecido.
Afinal, juiz é juiz.
Moral da história:
perdemos 3 horas do dia com
um processo por causa de um
peido. Se contar isso na Inglaterra,
com certeza, a Rainha jamais irá
acreditar porque ela também,
mesmo sendo Rainha… Você sabe.
Rio de Janeiro, 10 de maio de 2012.
Paulo Rangel (Desembargador do Tribunal de Justica
do Rio de Janeiro).
“Ostra feliz não faz pérola”
A ostra, para fazer uma pérola,
precisa ter dentro de si um grão
de areia que a faça sofrer.
Sofrendo, a ostra diz
Para si mesma:
“Preciso envolver essa areia
pontuda que me machuca
com uma esfera lisa que
lhe tire as pontas...”
Ostras felizes não
fazem pérolas...
Pessoas felizes não sentem
de uma dor. Não é preciso que
seja uma dor doída...
Por vezes a dor aparece
como aquela coceira que
tem o nome de curiosidade.
Livro: Ostra feliz não faz peróla
Autor: Rubem Alves
A VACA QUE FOI REZAR
São João Del-Rei, Colégio São João.
Num domingo pela tarde os alunos
estavam na igreja para uma aula de Catecismo.
Os educadores ficaram do lado de fora, no pátio enquanto se ministravam os ensinamentos pelo Padre Francisco, diretor do Colégio.
Eis que no pátio aparece uma vaca não sei de onde veio e andava sossegada não sei à procura de que.
Os educadores tiveram um mau pensamento e tentaram por em prática: pegar a vaca pelo chifre.Eram quatro e parecia que
tudo podia dar certo e seria uma peça...
Acuaram a vaca de vagar e tentavam se acercar bem próximos dela. Parecia que estavam conseguindo, pois o bicho não era bravo,
não era vaca parida, se não...
Mas de repente a vaca se assustou e desembestou para o lado da porta lateral da igreja que estava aberta e entrou espavorida. Escorregou no ladrilho e caiu de joelhos bem em frente do altar...
A princípio foi um pânico geral .Um gaiato gritou lá de traz. Milagre ela está ajoelhada, veio rezar... A mente deles ainda estava lembrando o milagre de Santo Antonio que fez uma mula ajoelhar-se diante do ostensório para convencer um incrédulo da presença real de Jesus na hóstia consagrada.
O padre acalmando a meninada foi com alguns convencer a vaca que saísse por onde tinha entrado.
Os educadores ? Sairam de mansinho e um pacto de silêncio escondeu a maldade
deles com o pobre animal.
A meninada ficou convencida de que a vaca tinha mesmo entrado para rezar!
Paulo Motta
Um desastre diferente
Os padres e irmãos do Ateneu Salesiano de Belo Horizonte foram num feriado até o colégio que fica na cidade de Pará de Minas, cerca de 90 quilômetros de distância.
Iam em dois carros pois era doze passageiros. Lá ouve confraternização, com muitas brincadeiras e um almoço regado a um bom e abundante vinho.
Chegando a tarde, à hora da volta, uma das kombis, que era aposentada e já destinada à venda para alguma oficina mecânica. O proprietário pediu a um colega que pegasse a direção pois ele estava bastante alto,
devido ao álcool ingerido. Eram quatro os passageiros.
devido ao álcool ingerido. Eram quatro os passageiros.
O motorista proprietário ia no banco da frente
com o colega substituto.
Este dizia que a Kombi estava tão velha
que mais parecia uma carroça, pois não chegava a sessenta quilômetros nem numa descida.
com o colega substituto.
Este dizia que a Kombi estava tão velha
que mais parecia uma carroça, pois não chegava a sessenta quilômetros nem numa descida.
Não custava verificar. Foi o que foi feito. Numa descida bem forte o improvisado motorista pisou no acelerador até ao assoalho, enquanto o outro verificaria o velocímetro. Mas eis que apareceu uma curva acentuada e, pé no freio. Foi a conta.
Três capotadas e a Kombi de rodas para cima fora da pista...
O dirigente imprudente e os demais passageiros
foram todos arremessados para
foram todos arremessados para
fora. Para fora? mas ao procurar cada um, faltava o proprietário do carro.Sim, senhores, ei-lo que estava sentado entre as quatro rodas todo sujo de óleo queimado. Perguntado se estava bem respondeu gemendo que achava que tinha perdido o pescoço...Risos curtos. Logo foi ajudado a descer e se constatou que de fato seu pescoço tinha afundado...
Mas puxado pelos colegas voltou ao lugar...
Mas puxado pelos colegas voltou ao lugar...
Autor: Paulo Motta
Goiânia 03 de julho de 2012
Acredite se quiser
Ia o padre a um colégio fazer palestra para professores e alunos. Foi na cidade de Belo Horizonte. A rota era a Avenida Amazonas que mais parece um tabogan de carros. O veículo era uma Kombi que parecia ter sido aposentada e chamada à ultima hora para quebrar um galho.
Descendo a Avenida no sentido da cidade do Barreiro, de repente aparece uma roda de carro descendo a ladeira em meio aos carros. Viu-a também o padre e imaginava o tumulto que causaria...
Os automóveis que passavam pela Kombi buzinavam e o padre respondia com sua buzina, querendo dizer que também tinha visto o raro fenômeno.
Mas quando o terceiro carro buzinou ao passar pela velha Kombi, o padre desconfiou que era alguma coisa com ele mesmo.
Resolveu acostar e para seu assombro percebeu que a roda desembestada avenida abaixo era o pneu traseiro de sua Kombi e ele estava viajando com apenas três rodas...
Entre risos e amolação foi procurar a foragida roda e parafuzá-la no seu devido lugar com os parafusos que foram fiéis à roda fujona a continuar sua viagem mesmo com a roda traseira dançando por falta de mais parafusos...
E consegui chegar a seu destino, fazer sua palestra e ainda voltar para contar aos colegas o acontecimento. Ninguém acreditou e todos diziam que aquilo era impossível, eram pois muitos Tomés, mas o padre não repetiu o acontecimento para os incrédulos aceitar o fato. Então,
o impossível aconteceu e o padre era eu mesmo...
o impossível aconteceu e o padre era eu mesmo...
Paulo Motta
UM CONTO ENGRAÇADO
PIQUINIQUE DOS SEMINARISTAS
Era costume um piquenique em algum lugar aprazível.
À hora do almoço uma Kombi iria levar a manjuba.
Vinagrete, tutu, arroz, carne ensopada, macarrão e chega...
A estrada era dentro de uma fazenda. Tinha chovido no dia anterior. O motorista acompanhado de um padre ouviu dele um conselho que na descida não freasse o carro mas reduzisse a marcha, pois era barro escorregadio. Foi como não se tivesse dito . Na primeira descida o rapaz mete o pé no freio.
A kombi foi deslizando e tombou.
As panelas foram viradas e a comida
derramada dentro do carro.
derramada dentro do carro.
Desvirando o carro, a comida foi recolhida às panelas...
Chegados ao lugar onde os seminaristas aguardavam, as panelas foram descidas para todos se servirem. Quando tudo parecia estar sossegado um seminarista virou-se para o motorista e lhe disse que estava borrado atrás, que fosse se trocar e limpar...
Acontece que o tutu derramado
chegou até ao banco da direção do carro.
chegou até ao banco da direção do carro.
Mas ninguém ficou sabendo da malandragem de comida ter sido retirada do chão do carro e todos gostaram...
Paulo Motta
O MENINO QUE ÍA VIRAR SABÃO...
A família ia se despedir de um filho seminarista que deveria seguir para São Paulo. Eram ao todo onze pessoas. Além dos pais, uma amiga bem gorda, e oito filhos na idade de 2 a 14 anos... Era uma tropa!
Viajavam de trem e o tempo era chuvoso. A meta era a cidade de Cachoeiro de Itapemirim e a chegada era prevista para as dezoito horas, mas tendo caído uma barreira na estrada, o trem chegou somente às duas da madrugada. Dezoito horas de viagem...
Todo mundo moído de cansaço...
Todo mundo moído de cansaço...
Quando ainda em casa a irmã mais velha, Mariinha disse para os mais novos que deveriam andar sempre de mãos dadas na cidade para não se perderem, pois havia um carro que pegava os cachorros e crianças perdidos nas ruas e levava para fazer sabão...
Chegados ao destino o pai se dirigiu com a família para procurar um hotel, deixando na estação as malas e um filho de sete anos para ficar vigiando, que ele voltaria para levar em seguida
a bagagem mais pesada que ali ficava.
a bagagem mais pesada que ali ficava.
O menino admirado com as manobras dos trens,
máquinas e vagões indo e vindo, apitos, ficou absorto...
Ele era filho de chefe de estação e nunca vira
tanta movimentação nos trilhos...
tanta movimentação nos trilhos...
O pai voltou depois de algum tempo, pegou as malas e foi ao encontro da família já localizada no hotel, sem reparar que o menino não o seguia.
O garoto quando olhou e não viu nem as malas nem o pai, corria por toda a extensão da plataforma de um lado
para outro procurando seu pai,
para outro procurando seu pai,
e não o achando se viu sozinho. Então começou a chorar...
Um soldado que estava ali de serviço foi ao encontro do menino, mas este corria com medo do soldado, porém, este o alcançou e perguntou por que estava ali sozinho e chorando. O menino contou sua desventura. O soldado se prontificou a ir com ele ao encontro dos pais e irmãos, pois tinha reparado aquela numerosa família, inclusive a presença de uma senhora gorda. Mas o menino não aceitou a ajuda do policial, dizendo: o senhor quer é me levar para a carrocinha para me fazerem sabão... O militar e outras pessoas que ouviam a conversa começaram a rir da resposta do menino e se perguntavam onde ele ouvira esta estória
de fazer sabão de menino perdido...
Então várias pessoas juntas foram acompanhando o menino até seus pais. Quando alcançaram, o soldado perguntou
ao pai se não tinha perdido um filho.
ao pai se não tinha perdido um filho.
O pai começou a chamada de um por um. Não faltava ninguém, mas o soldado disse: esse aqui, ia virar sabão...
Aí foi a gozação de todos em cima do pobre coitado que se distraíra com os trens e acreditara na invenção de Mariinha.
Moral da estória: “Não se educa através do medo”
Paulo Motta
Goiânia, GO
Maravilhosos textos... Me diverti muito!
ResponderExcluirObrigada criança por seres assim!
beijos
Madá