Simpatia pelo mal
RHBN lança reportagem em vídeo: “Entre a suástica e a palmatória” conta história de fazenda que, nos anos 1930 e 1940, sujeitou 50 meninos órfãos a situação análoga à escravidão.
Responsável por alguns dos mais nefastos episódios do século XX, o nazismo disseminou sua influência para além do continente europeu. O Brasil, infelizmente, não ficou de fora de seu alcance. A reportagem especial “Entre a suástica e a palmatória”, publicada em janeiro de 2013 na Revista de História da Biblioteca Nacional, e que virou também vídeo homônimo disponível no nosso canal do Youtube [veja abaixo o link de acesso], é um exemplo de como o pensamento político autoritário se manifestou no país.
Nos anos 1930 e 1940, uma fazenda do interior paulista adotou abertamente símbolos nazistas para marcar gados, documentos e até os próprios tijolos. Por sua vez, a propriedade vizinha, da mesma família, colocou em prática teorias racistas e eugênicas: recrutou 50 crianças órfãs, a maioria negras, para trabalhar em suas terras. A história ficou esquecida durante décadas. Em 1990, um fazendeiro descobriu uma dessas peças com a cruz suásticas e a história começou a ser revelada. Posteriormente o pesquisador Sidney Aguilar Filho, em tese de doutorado defendida em 2011 na Unicamp, a estudou mais profundamente.
A reportagem da Revista de História viajou a Campina do Monte Alegre, no estado de São Paulo, e a Foz do Iguaçu, no Paraná, para entrevistar as últimas testemunhas vivas e conhecidas desta história. Aloísio Silva, chamado durante a adolescência de Vinte e Três, trabalhou no local e aguentou a situação de exploração até a sua “liberação”, como ele próprio diz, em 1945. E Argemiro Santos, que fugiu da fazenda quando tinha apenas 14 anos, enfrentando uma vida difícil nas ruas de São Paulo até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, momento em que decidiu ingressar na Marinha para servir o país.
Apesar de lidarem com o passado de forma diferente, seu Aloísio e seu Argemiro são fontes dos fatos. Seus depoimentos se complementam e a vida posterior ao episódio reforçam ainda mais a ideia já levantada na abertura do dossiê desta edição da Revista de História: “Em vez de pensar que ‘o trabalho liberta’, como os nazistas estampavam em seus campos de concentração, é melhor afirmar que a memória salva”.
Autora: Alice Melo
Iguais na diferença
Afirmar a singularidade das mulheres ou defender a igualdade de direitos: é falso o dilema que desafia o feminismo.
Desde a Revolução Francesa, marco inicial da luta feminista, as mulheres identificaram que a construção de sua cidadania dependia de dois caminhos aparentemente opostos: igualdade e diferença.
Olympe de Gouges morreu na guilhotina, em 1793, por argumentar que, “por natureza”, as mulheres tinham direitos iguais aos dos homens. Ela escreveu a “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”, explícita provocação à “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, de 1789. Olympe havia percebido que, além de garantir a igualdade de direitos entre homens e mulheres, era preciso lutar pelo reconhecimento das diferenças, a fim de atender às demandas particulares.
Na Inglaterra do mesmo período, Mary Wollstonecraft defendia que as mulheres têm capacidades, talentos, necessidades e preocupações específicas, que devem ser levados em conta na sua cidadania. O direito à diferença, no entanto, não deveria ser incompatível com o direito à igualdade – de direitos civis, como o voto, e de direitos trabalhistas, como salários iguais para funções equivalentes.
Carla Rodrigues
O
Comum Digital: as dimensões conectivas e o surgimento de um novo comunitarismo
Numa nota à edição de Pleiade, o escritor
romântico francês Berbey d’Aurevilly narrava a seguinte lenda:
O imperador Carlos Magno, já em avançada idade,
apaixonou-se por uma donzela alemã. Os barões da corte andavam muito
preocupados vendo que o soberano, entregue a uma paixão amorosa que o fazia
esquecer-se de sua dignidade real, negligenciava os deveres do Império. Quando
a jovem morreu subitamente, os dignitários respiraram aliviados, mas por pouco
tempo, pois o amor de Carlos Magno não morreu com ela. O imperador mandou
embalsamar o cadáver e transportá-lo para sua câmara, recusando separar-se
dele. O arcebispo Turpino, apavorado com essa paixão macabra, suspeitou que havia
ali um sortilégio e quis examinar o cadáver. Oculto sob a língua da morta
encontrou um anel com uma pedra preciosa. A partir do momento em que o anel
passou às mãos de Turpino, Carlos Magno apressou-se em mandar sepultar o
cadáver e transferiu seu amor para a pessoa do arcebispo. Turpino, para fugir
daquela embaraçosa situação, atirou o anel no lago de Costança. Carlos Magno
apaixonou-se então pelo lago e nunca mais quis se afastar de suas margens
(CALVINO, 1996, p. 78).
Revista: Vida Pastoral
Autor: Massimo
Di Felice
Teoria da Modernidade em
Durkeim
No centro da teoria da
modernidade de Durkein estava a preocupação de explicar os efeitos que as
transformações modernas ocasionavam nos mecanismos de integração dos indivíduos
na sociedade. A modernidade se caracteriza pela divisão do trabalho e pela
especialização das funções. O advento da era da máquina acentuava a
diferenciação social, com o surgimento das, mais diversas esferas de
atividades, sejam sociais ou econômicas. Esta transição também implica em novos
tipos de laços sociais, ou, novos tipos de relações entre os indivíduos. A
sociologia de Durkeim procurou refletir sobre a ambigüidade desta situação
mostrando que, por um lado, implicava em maior autonomia individual e, por
outro, trazia dificuldades para os processos de coesão social.
Na primeira de suas grandes obras,
Durkeim busca analisar qual é a função que a divisão do trabalho cumpre nas
sociedades modernas. Nesta obra, o autor adota a tese de que o mundo moderno é
resultado de um processo de diferenciação social. Em seu esquema, o ponto de
partida do processo de evolução social seriam as sociedades regidas pela
solidariedade mecânica e seu ponto de chegada as sociedades caracterizadas pela
solidariedade orgânica. A teoria da modernidade de Durkeim é construída na
interpretação polar destes dois tipos de sociedade que ele procura explicar a
partir dos seguintes elementos:
Solidariedade Mecânica
(sociedade
tradicional)
Solidariedade Orgânica
(sociedade moderna)
Laço de solidariedade
Consciência coletiva
Divisão do trabalho social
Organização social
Sociedades segmentadas
Sociedades diferenciadas
Tipo de direito
Direito repressivo
Direito restitutivo
Livro: Sociologia Clássica
Autor: Carlos Eduardo Sell
Karl Marx
Embora sua vasta obra não tivesse
como objetivo a fundação da sociologia enquanto ciência, Karl Marx elaborou uma
ampla teoria social cujo escopo fundamental foi compreender a modernidade em
sua dimensão econômica. Em sua análise do modo de produção capitalista, ele
criticou este sistema econômico que, na sua visão, era marcado por relações de
exploração e alienação. Desta forma, seu pensamento exerceu uma importância
decisiva para o desenvolvimento da sociologia que sempre debateu e, em determinadas
correntes, incorporou parte de suas reflexões para o entendimento da sociedade
moderna. É por essa razão que Marx foi incluído entre os “clássicos” da
sociologia e, neste sentido, costuma ser considerado um doa grandes
“precursores” e, sob certo aspecto, “fundadores” do pensamento sociológico.
Vinculada diretamente a uma visão
política, a interpretação da obra de Marx sempre provocou as mais agudas
polêmicas. Mesmo as escolas marxistas divergem sobre o significado de sua obra,
o que torna difícil distinguir o pensamento marxiano (de Marx) do marxismo
(teorias que partem de Marx). Atualmente, a queda do muro de Berlim e o fim do
comunismo não apenas colocaram em derrocada seu projeto político, mas também
acentuaram ainda mais os questionamentos sobre a atualidade e mesmo validade de
suas teses. Apesar das divergências, defensores e críticos de seu pensamento
são unânimes em reconhecer que Marx constitui um autor de fundamental
importância histórica no debate intelectual e sociopolítico da modernidade. Refletir
sobre temas tão complexos e polêmicos demanda um estudo cuidadoso de sua obra.
Neste capítulo, nosso objetivo será oferecer ao leitor, na medida do possível,
uma compreensão dos elementos básicos de seu pensamento e, principalmente, de
sua influência na história da sociologia.
Livro: Sociologia Clássica
Autor: Carlos Eduardo Sell
A
Ilíada e a Odisseia
Existem
obras que certamente são designadas como “Livros que mudaram o mundo”. São
obras que transformaram a maneira como nos enxergamos e enxergamos os outros;
livros que inspiraram debates, guerras e revoluções; que iluminaram,
indignaram, provocaram ou consolaram o mundo. Livros que reuniram os melhores
pensadores, pioneiros, radicais e visionários, cujas idéias balançaram a
civilização e ajudaram a ser quem somos. São livros que não celebram a guerra,
mas as batalhas que mais impactaram a história mundial. Além das batalhas
tiveram importância vital na formação cultural e geográfica dos povos e das nações.
Entre essas obras, evidentemente, estão aquelas que fazem parte do chamado
Cânone Ocidental: a Ilíada e a Odisséia. A
Ilíada (em grego antigo: Ἰλιάς,
AFI: [iːliás])
é um poema épico grego (do poeta Homero) que narra
os acontecimentos ocorridos no período de pouco mais de 50 dias durante o
décimo e último ano da Guerra de Tróia e cuja gênese radica na ira (μῆνις, mênis), de Aquiles
. O título da obra deriva de um outro nome grego para Troia, Ílion. A
Ilíada é atribuída a Homero, que se julga ter vivido por volta do século VIII
a.C
, na Jônia
(lugar que hoje é uma região da Turquia), e constitui o mais antigo e extenso documento
literário grego (e ocidental) que chegou nos nossos dias. Ainda hoje, contudo,
se discute a sua autoria e a existência real de Homero
A
Ilíada é constituída por 15.693 versos em hexâmetro datílico, que é a forma tradicional
da poesia épica grega. Foi composta por uma mistura de dialetos, resultando
numa língua literária artificial, que nunca foi de fato falada na Grécia.
Considera-se
que tenha a sua origem na tradição oral desde tempos micênicos ou seja, teria
originalmente sido cantada pelos aedos, e só muito mais tarde os versos foram compilados numa
versão escrita, no século VI a.C. em Atenas. O poema
foi então posteriormente dividido em 24 cantos, divisão que persiste até hoje.
A divisão, com cada canto correspondendo a uma letra do alfabeto grego, é
atribuída aos estudiosos da biblioteca de Alexandria, mas pode ser
anterior. Tornou-se,
juntamente com a Odisséia (atribuída ao mesmo autor), modelo da poesia épica,
seguido pelos autores clássicos, como Virgílio,
na sua Eneida,
dentre outros. No entanto, a Ilíada influenciou fortemente a cultura clássica
de maneira geral, abrangendo campos não só da literatura, como a poesia lírica
e a tragédia (influenciando a linguagem e os temas desses), mas também a
historiografia (não só pela temática bélica, mas a também a estrutura das
narrativas historiográficas), a filosofia, etc., sendo estudada e discutida na Grécia Antiga
(onde era parte da educação básica) e, posteriormente, no Império
Romano. É
considerada como a "obra fundadora" da literatura ocidental e uma das
mais importantes da literatura mundial.
A
Ilíada passa-se durante o décimo ano da guerra de Tróia
e trata da ira de Aquiles.
A ira é causada por uma disputa entre Aquiles e Agamenon,
comandante dos exércitos gregos em Tróia, e consumada com a morte do herói
troiano Heitor (ou Héctor), terminando com seu funeral. Embora
Homero
se refira a uma grande diversidade de mitos e acontecimentos prévios, que eram
de amplo conhecimento dos gregos e portanto da sua platéia, a história da
guerra de Tróia não é contada na íntegra. Dessa forma, o conhecimento prévio da
mitologia grega acerca da guerra é relevante para a compreensão da obra.
A guerra de Troia
Helena de
Troia, por Evelyn de Morgan, 1898 Os gregos antigos acreditavam que
a Guerra de
Troia era um fato histórico, ocorrido por volta de 1 200 a.C. no período micênico, mas alguns estudiosos
atuais têm dúvidas sobre se ela de fato ocorreu. Até à descoberta do sítio
arqueológico na Turquia, na Anatólia, a historiografia moderna acreditava-se que Troia era uma cidade
mitológica.
A
Guerra de Troia deu-se quando os aqueus atacaram a cidade de Troia, buscando vingar o rapto de Helena,
esposa do rei de Esparta, Menelau, irmão de Agamemnon. Os aqueus eram os povos que hoje conhecemos como gregos, que compartilhavam
uma cultura e língua comuns, mas na época se definiam como vários reinos, e não
como um povo único.
A
lenda conta que a deusa (ninfa) do mar Tétis era desejada
como esposa por Zeus
e seu irmão Posidão.
Porém Prometeu
profetizou que o filho da deusa seria maior que seu pai. Então os deuses
resolveram dá-la como esposa a Peleu, um mortal já idoso, intencionando enfraquecer o filho,
que seria apenas um humano. O filho de ambos é o guerreiro Aquiles.
Sua mãe, visando fortalecer sua natureza mortal, mergulhou-o, ainda bebê, nas
águas do mitológico rio Estige. As águas tornaram o herói invulnerável, exceto
no calcanhar, por onde a mãe o segurou para o mergulhar no rio (daí a famosa
expressão calcanhar de Aquiles, significando ponto
vulnerável). Aquiles tornou-se o mais poderoso dos guerreiros, porém, ainda era
mortal. Mais tarde, sua mãe profetiza que ele poderá escolher entre dois
destinos: lutar em Tróia e alcançar a glória eterna, mas morrer jovem, ou
permanecer em sua terra natal e ter uma longa vida, mas sendo logo esquecido.
Para
o casamento de Peleu e Tétis todos os deuses foram convidados, menos Éris,
ou Discórdia. Ofendida, a deusa compareceu invisível e deixou à mesa um pomo de
ouro com a inscrição “à mais bela”. As deusas Hera, Atena e Afrodite
disputaram o pomo e o título de mais bela. Zeus então ordenou que o príncipe
troiano Páris,
à época sendo criado como um pastor ali perto, resolvesse a disputa. Para
ganhar o título de “mais bela”, Atena ofereceu a Páris poder na batalha, Hera o
poder e Afrodite o amor da mulher mais bela do mundo. Páris deu o pomo a
Afrodite, ganhando assim sua proteção, porém atraindo o ódio das outras duas
deusas contra si e contra Troia.
A
mulher mais bela do mundo era Helena,
filha de Zeus e Leda. Leda era casada com Tíndaro,
rei de Esparta. Helena possuía diversos pretendentes, que incluíam muitos dos
maiores heróis da Grécia, e o seu pai adotivo, Tíndaro, hesitava tomar uma
decisão em favor de um deles temendo enfurecer os outros. Finalmente um dos
pretendentes, Odisseu (cujo nome latino era Ulisses), rei de Ítaca,
resolveu o impasse propondo que todos os pretendentes jurassem proteger Helena
e sua escolha, qualquer que fosse. Helena então se casou com Menelau,
que se tornou o rei de Esparta.
Quando
Páris
foi a Esparta em missão diplomática, se enamorou de Helena e ambos fugiram para
Troia, enfurecendo Menelau. Este apelou aos antigos pretendentes de Helena,
lembrando o juramento que haviam feito. Agamémnom então assumiu o comando de um
exército de mil barcos e atravessou o mar Egeu
para atacar Tróia. As naus gregas desembarcaram na praia próxima a Tróia e
iniciaram um cerco que duraria dez anos, custando a vida de muitos heróis, de
ambos os lados. Finalmente, seguindo um estratagema proposto por Odisseu,
o famoso Cavalo de Tróia, os gregos conseguiram invadir
a cidade governada por Príamo e terminar a guerra.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Il%C3%ADada
Simpatia pelo mal
RHBN lança reportagem em vídeo: “Entre a suástica e a palmatória” conta história de fazenda que, nos anos 1930 e 1940, sujeitou 50 meninos órfãos a situação análoga à escravidão.
Responsável por alguns dos mais nefastos episódios do século XX, o nazismo disseminou sua influência para além do continente europeu. O Brasil, infelizmente, não ficou de fora de seu alcance. A reportagem especial “Entre a suástica e a palmatória”, publicada em janeiro de 2013 na Revista de História da Biblioteca Nacional, e que virou também vídeo homônimo disponível no nosso canal do Youtube [veja abaixo o link de acesso], é um exemplo de como o pensamento político autoritário se manifestou no país.
Nos anos 1930 e 1940, uma fazenda do interior paulista adotou abertamente símbolos nazistas para marcar gados, documentos e até os próprios tijolos. Por sua vez, a propriedade vizinha, da mesma família, colocou em prática teorias racistas e eugênicas: recrutou 50 crianças órfãs, a maioria negras, para trabalhar em suas terras. A história ficou esquecida durante décadas. Em 1990, um fazendeiro descobriu uma dessas peças com a cruz suásticas e a história começou a ser revelada. Posteriormente o pesquisador Sidney Aguilar Filho, em tese de doutorado defendida em 2011 na Unicamp, a estudou mais profundamente.
A reportagem da Revista de História viajou a Campina do Monte Alegre, no estado de São Paulo, e a Foz do Iguaçu, no Paraná, para entrevistar as últimas testemunhas vivas e conhecidas desta história. Aloísio Silva, chamado durante a adolescência de Vinte e Três, trabalhou no local e aguentou a situação de exploração até a sua “liberação”, como ele próprio diz, em 1945. E Argemiro Santos, que fugiu da fazenda quando tinha apenas 14 anos, enfrentando uma vida difícil nas ruas de São Paulo até a eclosão da Segunda Guerra Mundial, momento em que decidiu ingressar na Marinha para servir o país.
Apesar de lidarem com o passado de forma diferente, seu Aloísio e seu Argemiro são fontes dos fatos. Seus depoimentos se complementam e a vida posterior ao episódio reforçam ainda mais a ideia já levantada na abertura do dossiê desta edição da Revista de História: “Em vez de pensar que ‘o trabalho liberta’, como os nazistas estampavam em seus campos de concentração, é melhor afirmar que a memória salva”.
Autora: Alice Melo
Iguais na diferença
Afirmar a singularidade das mulheres ou defender a igualdade de direitos: é falso o dilema que desafia o feminismo.
Desde a Revolução Francesa, marco inicial da luta feminista, as mulheres identificaram que a construção de sua cidadania dependia de dois caminhos aparentemente opostos: igualdade e diferença.
Olympe de Gouges morreu na guilhotina, em 1793, por argumentar que, “por natureza”, as mulheres tinham direitos iguais aos dos homens. Ela escreveu a “Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã”, explícita provocação à “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão”, de 1789. Olympe havia percebido que, além de garantir a igualdade de direitos entre homens e mulheres, era preciso lutar pelo reconhecimento das diferenças, a fim de atender às demandas particulares.
Na Inglaterra do mesmo período, Mary Wollstonecraft defendia que as mulheres têm capacidades, talentos, necessidades e preocupações específicas, que devem ser levados em conta na sua cidadania. O direito à diferença, no entanto, não deveria ser incompatível com o direito à igualdade – de direitos civis, como o voto, e de direitos trabalhistas, como salários iguais para funções equivalentes.
Carla Rodrigues
O
Comum Digital: as dimensões conectivas e o surgimento de um novo comunitarismo
Numa nota à edição de Pleiade, o escritor
romântico francês Berbey d’Aurevilly narrava a seguinte lenda:
O imperador Carlos Magno, já em avançada idade,
apaixonou-se por uma donzela alemã. Os barões da corte andavam muito
preocupados vendo que o soberano, entregue a uma paixão amorosa que o fazia
esquecer-se de sua dignidade real, negligenciava os deveres do Império. Quando
a jovem morreu subitamente, os dignitários respiraram aliviados, mas por pouco
tempo, pois o amor de Carlos Magno não morreu com ela. O imperador mandou
embalsamar o cadáver e transportá-lo para sua câmara, recusando separar-se
dele. O arcebispo Turpino, apavorado com essa paixão macabra, suspeitou que havia
ali um sortilégio e quis examinar o cadáver. Oculto sob a língua da morta
encontrou um anel com uma pedra preciosa. A partir do momento em que o anel
passou às mãos de Turpino, Carlos Magno apressou-se em mandar sepultar o
cadáver e transferiu seu amor para a pessoa do arcebispo. Turpino, para fugir
daquela embaraçosa situação, atirou o anel no lago de Costança. Carlos Magno
apaixonou-se então pelo lago e nunca mais quis se afastar de suas margens
(CALVINO, 1996, p. 78).
Revista: Vida Pastoral
Autor: Massimo
Di Felice
No centro da teoria da
modernidade de Durkein estava a preocupação de explicar os efeitos que as
transformações modernas ocasionavam nos mecanismos de integração dos indivíduos
na sociedade. A modernidade se caracteriza pela divisão do trabalho e pela
especialização das funções. O advento da era da máquina acentuava a
diferenciação social, com o surgimento das, mais diversas esferas de
atividades, sejam sociais ou econômicas. Esta transição também implica em novos
tipos de laços sociais, ou, novos tipos de relações entre os indivíduos. A
sociologia de Durkeim procurou refletir sobre a ambigüidade desta situação
mostrando que, por um lado, implicava em maior autonomia individual e, por
outro, trazia dificuldades para os processos de coesão social.
Na primeira de suas grandes obras,
Durkeim busca analisar qual é a função que a divisão do trabalho cumpre nas
sociedades modernas. Nesta obra, o autor adota a tese de que o mundo moderno é
resultado de um processo de diferenciação social. Em seu esquema, o ponto de
partida do processo de evolução social seriam as sociedades regidas pela
solidariedade mecânica e seu ponto de chegada as sociedades caracterizadas pela
solidariedade orgânica. A teoria da modernidade de Durkeim é construída na
interpretação polar destes dois tipos de sociedade que ele procura explicar a
partir dos seguintes elementos:
Solidariedade Mecânica
(sociedade
tradicional)
|
Solidariedade Orgânica
(sociedade moderna)
|
|
Laço de solidariedade
|
Consciência coletiva
|
Divisão do trabalho social
|
Organização social
|
Sociedades segmentadas
|
Sociedades diferenciadas
|
Tipo de direito
|
Direito repressivo
|
Direito restitutivo
|
Livro: Sociologia Clássica
Autor: Carlos Eduardo Sell
Karl Marx
Embora sua vasta obra não tivesse
como objetivo a fundação da sociologia enquanto ciência, Karl Marx elaborou uma
ampla teoria social cujo escopo fundamental foi compreender a modernidade em
sua dimensão econômica. Em sua análise do modo de produção capitalista, ele
criticou este sistema econômico que, na sua visão, era marcado por relações de
exploração e alienação. Desta forma, seu pensamento exerceu uma importância
decisiva para o desenvolvimento da sociologia que sempre debateu e, em determinadas
correntes, incorporou parte de suas reflexões para o entendimento da sociedade
moderna. É por essa razão que Marx foi incluído entre os “clássicos” da
sociologia e, neste sentido, costuma ser considerado um doa grandes
“precursores” e, sob certo aspecto, “fundadores” do pensamento sociológico.
Vinculada diretamente a uma visão
política, a interpretação da obra de Marx sempre provocou as mais agudas
polêmicas. Mesmo as escolas marxistas divergem sobre o significado de sua obra,
o que torna difícil distinguir o pensamento marxiano (de Marx) do marxismo
(teorias que partem de Marx). Atualmente, a queda do muro de Berlim e o fim do
comunismo não apenas colocaram em derrocada seu projeto político, mas também
acentuaram ainda mais os questionamentos sobre a atualidade e mesmo validade de
suas teses. Apesar das divergências, defensores e críticos de seu pensamento
são unânimes em reconhecer que Marx constitui um autor de fundamental
importância histórica no debate intelectual e sociopolítico da modernidade. Refletir
sobre temas tão complexos e polêmicos demanda um estudo cuidadoso de sua obra.
Neste capítulo, nosso objetivo será oferecer ao leitor, na medida do possível,
uma compreensão dos elementos básicos de seu pensamento e, principalmente, de
sua influência na história da sociologia.
Livro: Sociologia Clássica
Autor: Carlos Eduardo Sell
A Ilíada e a Odisseia
Alagoas é fruto de um castigo...
O povo aderiu à revolução provocando tumultos antilusitanos, apedrejamentos de casas de portugueses e destruindo bandeiras. A revolta foi contida em menos de dois meses. Como punição, além de executar quatro líderes, o governo do Rio de Janeiro cortou um pedaço de Pernambuco. Declarou, em setembro de 1817, a emancipação de Alagoas, comarca que tinha permanecido fiel à corte durante a revolta daquele ano.
Livro: Guia Politicamente incorreto da história do Brasil. Autor: Leandro Narloch
Além da Era Vargas
Uma carta, uma bala no coração, um defunto. A madrugada de 24 de agosto
de 1954 no Palácio do Catete teria desdobramentos imprevisíveis. O
suicídio do presidente Getúlio Vargas afastou movimentações golpistas
por dez anos, mas o estampido daquele tiro desorientou as forças
políticas do seu tempo e continuou ecoando em nossa formação nacional.
O desaparecimento repentino da figura que dominou o cenário público por
um quarto de século deu lugar às disputas por seu legado – e daí
emergiram Getulios suficientes para atender aos interesses das mais
diversas posições no espectro ideológico, como mostra o dossiê
organizado pelo historiador Bruno Garcia. Do ditador de 1937 ao
democrata de 1950, as correntes que lutaram pela direção do Estado
brasileiro souberam aproveitar – ou atacar – o Vargas que lhes era
conveniente.
Símbolo de muitas das nossas contradições, o presidente autoimolado
havia comandado o processo de transformação econômica do país, lançando
as bases para a expansão da indústria e, por outro lado, formalizando a
relação entre patrões e empregados. Também é seu legado a
obrigatoriedade do voto, que se mantém como um laço entre cidadania
política e obediência ao Estado. Até que ponto o sistema político e
eleitoral no qual vivemos está em dia com a vontade e com a necessidade
dos brasileiros? No especial preparado pela historiadora Nashla Dahás,
estudiosos tratam da obrigatoriedade do voto, princípio que oscila entre
a garantia de uma participação efetiva de todos os setores sociais e o
exercício livre de um direito político.
Em meio ao processo de escolha dos representantes, a herança de Vargas e
o voto compulsório são pequenas amostras de que os temas que definem
nossa vida política – logo, nossa existência social – não são facilmente
resolvíveis. A não ser, é claro, que queiramos olhar para a realidade
de forma simples – ontem como hoje.
Autor: Rodrigo Elias
Lampião é o Pai do Brega
“Lampião dava a vida para estar
entre coronéis”, contou, num depoimento ao historiador Frederico Pernambucano
de Melo, o cangaceiro Miguel Feitosa, que conheceu Virgulino na década de 1920.
“Vivia de Coronel em Coronel,” ele completa. Em 1923, Lampião invadiu a cidade
de Triunfo, na Paraíba, só para tirar de lá um homem chamado Marcolino Diniz,
que tinha matado o juiz da cidade durante uma discussão. A invasão à delegacia
foi um serviço encomendado pelo sogro do assassino, José Pereira Lima, maior
chefe político do interior da Paraíba daquela época. Já com pobres, mulheres e
vilas indefesas, o cangaceiro não era tão camarada. Há relatos de que marcou,
com ferro quente, o rosto de mulheres surpreendidas com vestidos curtos e
decotes cavados. Contrário à construção de estradas no sertão, em pelo menos
cinco ocasiões atirou em operários quando eles trabalhavam em alguma obra.
A violência contra os fracos, que
até então poderia ser vista como um dos instrumentos de dominação de classe, com
o cangaço de Lampião se banaliza, afirma, no livro A Derradeira Gesta, a
historiadora Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros.
Existe um lado de Lampião que é
menos conhecido. O homem era brega no último. Obcecado por luxos, novidades
estrangeiras e pela própria aparência, ele costumava exagerar. Fã de uísque
White Horse e licor de menta francês, perambulava pelo sertão com os botões de
ouro no casaco e cheio de perfume. “Os cabelos, negros, lisos, levemente
ondulados, untados por brilhantina da melhor qualidade, a que fazia juntar
respingos generosos de um dos bons perfume que a França nos mandava à época: O
Fleur D’Amore, descreveu o historiador Frederico Pernambucano de Melo.
De acordo com o autor, Lampião
gostava tanto do perfume que o colocava até nos cavalos do bando. O cangaceiro
tinha uma preocupação especial com a roupa: usava túnicas de chita de cores
berrantes e lenços de seda. Ao se apresentar para pessoas importantes, dava a
elas um cartão de visitas com foto – coisa que só os mais endinheirados da
época possuíam. Lampião também adorava andar pelo sertão de carro, dentro dos
primeiros modelos que chegaram ao Nordeste.
“O uso do automóvel por Lampião
se deu de modo mais pródigo do que normalmente se imagina”, afirma Melo.
Pessoas vestidas com elegância desmedida, exibindo-se em caros novos pelo
sertão... Você já viu o vídeo da cantora piauiense Stephany em seu Cross Fox, hit do Youtube
em 2009?
Autor: Leandro Narloch
Livro: Guia
Politicamente Incorreto da História do Brasil
Machado de
Assis – censor do Império
Machado
de Assis é um tipo incomum de gênio -
aquele que alcança a fama muito antes de publicar suas grandes obras,
antes mesmo de publicar os primeiros romances. Na década de 1860, quando tinha
vinte e poucos anos, era um jornalista cultural respeitado e temido. José de
Alencar, uma década mais velho e já escritor conceituado, chama-o de “o
primeiro crítico brasileiro”. Contrário ao teatro francês romântico e
exagerado, feito para divertir as madames do bulevares franceses, Machado
pregava que o teatro tinha “uma missão nacional, uma missão social e uma missão
humana”, e que por isso os palcos precisavam de histórias mais realistas. Sua
fama como crítico literário lhe rendeu um cargo rotineiro para a época, mas
hoje em dia odiado: agente da censura.
Machado
foi censor do Conservatório Dramático, o órgão da corte do imperador dom Pedro
II encarregado de julgar as peças que poderiam ser levadas ao público. Entre
1862 e 1863, avaliou dezessete peças, proibindo três delas. A mulher que o
mundo Respeita não ganhou a licença porque o censor achou a comédia “um
episódio imoral, sem princípio nem fim”,
“uma baboseira”. O drama As conveniências foi reprovado com uma
justificativa curta que zelava os bons costumes:
Não posso dar
o meu voto de aprovação ao drama A conveniências. Tais doutrinas se proclamam
nele, tal exaltação se da paixão diante do dever, tal é o assunto, e tais as
conclusões que é um serviço à moral proibir a representação desta peça. E se o
pudor da cena ganha com essa interdição, não menos ganha o bom gosto, que não
terá de ver à ilharga de boas composições esta que é um feixe de
incongruências, e nada mais.
No artigo “Machado de Assim, leitor e crítico
de teatro”, o professor João Roberto Faria, da Universidade de São Paulo,
detalha as regras que Machado de Assis tinha que seguir em seu trabalho de
censor. O conservatório pedia aos censores que barrassem as peças baseados em
dois motivos. Primeiro, se a história tivesse assuntos e expressões que
ferissem o decoro, pois era preciso garantir que “pudesse a Imperial Família
honrar com sua presença o espetáculo”, como regia uma norma do conservatório.
Segundo, deveria barrar as peças contrárias à religião e às autoridades
brasileiras. Para Machado, isso era pouco. Numa crônica de 1860, ele defende
que os censores deveriam ter o poder de ser “uma muralha de inteligência às
irrupções intempestivas que o capricho quisesse fazer no mundo da arte, às
bacanais indecentes e parvas que ofendessem a dignidade do tablado”.
Como
não tinha esse direito, o escritor foi obrigado a aprovar várias peças em que
não viu mérito literário algum. Claro que não fez isso sem esbravejar contra os
autores. O estilo de alguns de seus pareceres mostra que, se pudesse, Machado
censuraria mais.
Autor: Leandro Narloch
Livro: Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil.
Jango favorecia empreiteiras
“Quando se anunciava alguma obra
pública, o que valia não era a concorrência – todas as concorrências vinham com
cartas marcadas, funcionavam como mera fachada” escreveu Wainer. O que tinha
valor era a combinação feita entre homens do governo e das empresas por trás
das cortinas. Naturalmente, as empresas beneficiadas retribuíam com generosas
doações, sempre clandestinas, à boa vontade do governo. Samuel Wainer afirmou
no livro que ele próprio entrou no esquema, lavando o dinheiro das empreiteiras
por meio de contas de publicidade no Última Hora. Minha tarefa consistia em,
tão logo se encerrasse a concorrência, recolher junto ao empreiteiro premiado a
contribuição de praxe. Havia tanta intimidade entre as empreiteiras e o governo
Jango que elas chegaram a financiar pronunciamentos do presidente. “O famoso
comício das reformas ocorrido em 13 de março de 1964, por exemplo, teve suas
despesas pagas por um grupo de empreiteiros”, contou Wainer.
Autor: Leandro Narloch
Livro: Guia Politicamente
Incorreto da História do Brasil
Quanto custa o Acre?
Apesar de sobrarem suspeitas
sobre sua existência, o Acre é frequentemente objeto de polêmicas. Em 2006, Evo
Morales, presidente da Bolívia, reclamou que o país deu território do Acre ao
Brasil em troca de um cavalo. Logo
vieram protestos: na verdade, não foi pelo preço de um cavalo, mas por 2
milhões de libras inglesas de 1903, que em 2006 valeriam por volta de 230
milhões de dólares. Acreanos mais indignados apareceram depois que o jornalista
Diogo Mainardi, no programa Manhattan Connection, disse que até um pangaré
seria um preço alto pelo Acre.
A fala do presidente Evo Morales
fez parecer que o Brasil aproveitou um momento de ingenuidade dos vizinhos para
fazer um negócio da China. Foi ao contrário. A Bolívia aproveitou um momento de
ingenuidade do Brasil para se livrar do Acre. Conseguiu ganhar um dinheiro com
a venda e largar mão de um território que lhe traria gastos monumentais. Talvez
o governo brasileiro da virada do século previsse que o Acre seria um mau
negócio. Até adquirir a área definitivamente, em 1903, o Brasil tinha tentado,
por três vezes, empurrá-la para os bolivianos. Só aceitou ficar com a região
depois da insistência de seringueiros teimosos, militares clandestinos
patriotas e até de um visionário espanhol que sonhava em fazer do Acre uma
sociedade perfeita.
Autor: Leandro Narloch
Livro: Guia Politicamente
Incorreto da História do Brasil
Príncipes africanos e Zumbi.
Zumbi, o maior herói negro do
Brasil, o homem em cuja data de morte se comemora em muitas cidades do país o
Dia da Consciência Negra, mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para
que eles trabalhassem forçados no quilombo dos Palmares. Também sequestrava
mulheres, raras nas primeiras décadas do Brasil, e executava aqueles que
quisessem fugir do quilombo.
Essa informação parece ofender
algumas pessoas hoje em dia, a ponto de preferirem omiti-la ou censurá-la, mas na verdade
trata-se de um dado óbvio. É claro que Zumbi tinha escravos. Na sua época, não
havia nada de errado nisso. Sabe-se muito pouco sobre ele – cogita-se até que o
nome mais correto seja Zambi - mas é certo que viveu no século 17 tinha
escravos, sobretudo quem liderava algum povo de influência africana.
Desde a Antiguidade, os humanos
guerrearam, conquistaram escravos e muitas vezes venderam os que sobravam.
É difícil acreditar que, no meio
das matas de Alagoas, Zumbi tenha se adiantado ao espírito humanista europeu ou
previsto os ideais de liberdade, igualdade e fraternidade da Revolução
Francesa. É ainda mais difícil quando consultamos os poucos relatos de
testemunhas que conheceram Palmares. Eles indicam o esperado: o quilombo se
parecia com um povoado africano, com hierarquia rígida entre reis e servos. Os
moradores chamavam o lugar de Ngola Janga, em referência aos reinos que já
existiam na região do Congo e de Angola.
Autor: Leandro Narloch
Livro: Guia Politicamente Incorreto
da História do Brasil.
Olga queria abandonar Prestes
Manuilski, que tinha apresentado Olga ao brasileiro um ano
antes, negou a proposta, pedindo que ela ficasse mais dois meses no Brasil.
Talvez Olga quisesse voltar porque não agüentava as teimosias do dirigente da
conspiração. Num relatório a Moscou sobre a atuação do grupo comunista no
Brasil, o terrorista Jonny de Graaf escreveu que Olga reclamava que Prestes,
quando era contrariado, ficava de mal. Ela teria comentado que nessas ocasiões,
como um cachorrinho, tinha que “abanar o rabo durante oito dias para o dono
ficar outra vez de bom humor.
Autor: Leandro Narloch
Livro: Guia Politicamente
Incorreto da História do Brasil
A retórica da desigualdade
Esses
números saborosos não justificam torturas e perseguições políticas. Mesmo
porque o mérito não é tanto do governo militar, e sim dos empresários, dos
trabalhadores e das multinacionais que investiram no Brasil sobretudo na década
de 1960. a
obra do governo, nos primeiros anos do regime, foi simplesmente a de não
atrapalhar demais a livre iniciativa. Os números acima também não devem ficar à
sombra das lamúrias da desigualdade social. Pois mostram que, sim, milagres
existem.
Autor:
Leandro Narloch
Livro:
Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil
Por volta de 1830, o escravo José Francisco dos
Santos conquistou a liberdade. Depois de anos de trabalho forçado na Bahia,
viu-se livre da escravidão, provavelmente comprando sua própria carta de
alforria ou ganhando-a de algum amigo rico. Estavam enfim livre do sistema que
o tirou da África quando jovem, jogou-o num navio imundo e o trouxe amarrado
para uma terra estranha. José tinha uma profissão – havia trabalhado cortando e
costurando tecidos, o que lhe rendeu o apelido de “Zé Alfaiate”. No entanto, o
ex-escravo decidiu dar outro rumo a sua vida: foi operar o mesmo comércio do
qual fora vítima. Voltou à África e se tornou traficante de escravos. Casou-se
com uma das filhas de Francisco Félix de Souza, o maior vendedor de gente da
África atlântica, e passou a mandar ouro, negros e azeite de dendê para vários
portos da América e da Europa. Foi o fotógrafo e etnólogo Pierre Verger que
encontrou, com um neto de Zé Alfaiate, uma coleção de 112 cartas escritas pelo
ex-escravo. As mensagens foram enviadas entre 1844 e 1871 e tratam de negócios
com Salvador, Rio de Janeiro, Havana (Cuba), Bristol (Inglaterra) e Marselha
(França). Em 22 de outubro de 1846, numa carta para um comerciante da Bahia, o
traficante conta que teve problemas ao realizar um dos atos mais terríveis da
escravidão – marcar os negros com ferro incandescente.
Por esta colega [uma espécie de escuna] embarquei
por minha conta em nome do Sr. Joaquim d’Almeida 20 balões [escravos] sendo 12
H. 8M. com marca “5”
no seio direito. Eu vos alerto que a marca que vai na listagem geral é “V seio”
mas, como o ferro quebrou durante a marcação, não houve então outro remédio
senão marcar com ferro “5”.
Talvez Zé Alfaiate tenha entrado para o tráfico por
um desejo de vingança, na tentativa de repetir com outras pessoas o que ele
próprio sofreu. O mais provável, porém, é que visse no comércio de gente uma
chance comum e aceitável de ganhar dinheiro, como costurar ou exportar azeite.
Autor: Leandro Narloch
Livro: Guia politicamente incorreto da História do Brasil.
Do aperto em que os tamoios do Rio de Janeiro puseram à Capitania de S. Vicente, e o governador lhes mandou fazer guerra.
Os tamoios, não ainda bem
começada a batalha, viraram as costas, que assim o haviam traçado e meteram os
nossos, que atrevidamente os iam seguindo, na cilada, donde saíram as mais
canoas inimigas e subitamente as cercaram por todas as partes. Mas nem por isso
perderam o ânimo os portugueses, antes resistiram valorosamente ajudados do
Divino favor, o qual ainda das coisas que parecem adversas sabe tirar prósperos
sucessos, como aqui se viu que, acaso ascendendo-se a pólvora se alterou tanto
a mulher do general tamoio que, dando gritos e vozes espantosas, atemorizou a
todos e, sendo seu marido o primeiro que fugiu com ela, os seguiram os mais,
deixando livres os nossos, os quais, tornando às suas fronteiras, deram graças
a Deus por tão grande benefício, e por os haver livres de perigo tão grande
pela voz e assombro de uma fraca mulher, ainda que depois declararam os mesmos
inimigos que não fora para isto, senão por haverem visto um combatente
estranho, de notável postura e beleza que, saltando atrevidamente nas suas
canoas, os enchera de medo. Donde creram os portugueses que era o
bem-aventurado S. Sebastião, a quem haviam tomado por padroeiros dessa guerra.
Autor: Frei Vicente do
Salvador
Livro História do
Brasil pág. 125
Os Souza
Os índios perguntam: Onde estão os índios? Durante os três primeiros séculos da conquista portuguesa, nenhuma família teve poder na vila que deu origem a Niterói, Rio de Janeiro, quanto os Souza. Em 1644, Brás de Souza reivindicou ao Conselho Ultramarino o cargo de capitão-mor da aldeia de São Lourenço, utilizando como principal argumento o nome de sua família. O pedido foi aceito. Segundo a carta que concedeu a colocação, era preciso lembrar que Brás era "descendente dos Souza que sempre exercitaram o dito cargo, por isso tinha direito a " todas as honras e proeminências que têm e gozaram os mais Capitães e seus antecessores dadas nesta cidade de São Sebastião do rio de Janeiro". Um século e meio depois, em 1796, Manoel Jesus e Souza era capitão-mor. Em uma consulta do Conselho Ultramarino, consta que ele deveria continuar no cargo por causa de "sua descendência nobre". Típicos membros da elite colonial esses Souza.
O interessante é que esses nobres senhores não eram descendentes de nenhum poderoso fidalgo português. O homem que criou a dinastia dos Souza de Niterói chamava-se Arariboia. Era o cacique dos índios temiminós, que ajudaram os portugueses a expulsar franceses e tupinambás do Rio de Janeiro. com a guerra vencida, muitos temiminós e tupiniquins foram batizados e adotaram um sobrenome português. Arariboia virou Martim Afonso de Souza (em homenagem ao primeiro colonizador do Brasil) e ganhou a sesmaria de Niterói, onde alojou sua tribo. Menos de cem anos depois, seus descendentes já não se viam como índios: eram os Souza e faziam parte da sociedade brasileira. Talvez eles se identifiquem assim até hoje.
Autor: Leandro Narloch
Livro: Guia politicamente incorreto da História do Brasil.
Utopia Missioneira
Patrimônio
Cultural da Humanidade, as ruínas do Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo, em São Miguel das Missões
(RS), contam a história da sociedade dos povos Guarani.
Sim,
restaram pedras sobre pedras para contar a história. Como não se deixar tocar
pela linguagem silenciosa falante das ruínas das Reduções Jesuíticas de São
Miguel Arcanjo, a antiga capital dos Sete Povos das Missões, a 387 quilômetros da
capital Porto Alegre (RS).
O Sítio
Arqueológico sussurra com voz firme, em sua estrutura de pedras cantarias
imponentes e armadas artisticamente com o material ligante que foi o barro. A
eloqüente história sócio-cultural-religiosa dos povos Guarani a partir das
reduções jesuíticas, segundo dom Estanislau Amadeu Kreutz, bispo emérito da
Diocese de Santo Ângelo (RS), é sem dúvida um belo, mas comprometedor capítulo
da história da humanidade e da Igreja Católica.
Após
longos anos da trágica queda das reduções indígenas, da Primeira Etapa
Histórica das Reduções, que vai aproximadamente de 1626 a 1634, o sonho do
projeto utópico socioreligioso desvaneceu com o capítulo tenebroso das frentes
empenhadas na caça de escravos indígenas para serviços de bandeirantes
paulistas em suas fazendas e canaviais.
Dom
Estanislau conta que foi uma busca ávida e sórdida por mão de obra qualificada
dos Guaranis da reduções. “Os bandeirantes incendiavam as igrejas, onde se
encontravam muitos índios refugiados. Massacravam mulheres e crianças. Os
presos capturados eram acorrentados e conduzidos ao mercado de escravos em São Paulo ”, narra o
bispo, que é um dos grandes pesquisadores das Missões Jesuítico-Guaranis.
Revista: Família Cristã
Nº 921 – Pág. 70
Autora: Osnilda Lima
Assombro e adoração
O Universo é “visível” em um diâmetro de cerca de 92 bilhões de
anos-luz, isto é, viajando na velocidade da luz, se gastaria 92 bilhões de anos
para ir de uma extremidade à outra. Em quilômetros seria cerca de 8,7 x 1026 quilômetros ,
isto é 8,7 seguido de 25 zeros. Estima-se que existam entre 1.500 a 2.500 bilhões de
galáxias no Universo e que a Via Láctea (a nossa galáxia) possua cerca de 200 a 500 bilhões de
estrelas, sendo uma delas o Sol, que forma o sistema solar. O Universo,
portanto, possui mais de 100 trilhões de bilhões de estrelas.
A Terra é apenas uma minúscula partícula do Universo. Tem apenas
40 mil quilômetros de circunferência, ou seja, é cerca de 109 vezes menor que o
Sol. Sua velocidade de rotação (em torno de si mesma) é de 1.675 quilômetros
por hora (move-se numa velocidade maior que a do som, que é de 1.224 quilômetros
por hora) e sua velocidade de translação (em torno do Sol) é de 107 mil
quilômetros por hora. E nós não sentimos esse movimento! Você pode imaginar o
que aconteceria se de repente a Terra parasse?
Quando contemplamos toda essa imensidão e característica do
Universo criado por Deus, que sentimentos nos passam no coração?
Não podemos deixar de nos assombrar!!! Não podemos deixar de
glorificar o Deus criador de tudo isso! Não podemos deixar de reconhecer a
nossa pequenez!
Revista
Ultimato pág. 30
Autor: José Cambraia
CLARICE E O SENSO COMUM
O senso comum sempre alardeou que o
maior poeta brasileiro de todos os tempos é Carlos Drummond de Andrande. Mesmo
recitado como um parnasiano em festas de fim de ano, banalizando por e-mails
com Power Points e camisetas de feira hippie, também concordo que Drummond é o
maior e mais abrangente e mais permanente e mais intenso de todos os poetas
desta terra, embora a poesia e a arte em geral não seja um esporte, e por isso não
necessitaria de um ranking de “melhores”. Mas listas são umas das obsessões
humanas e delas nem os poetas escapam. Sim, concordo, Drummond é “o maior”. Nem
a secura agreste de João Cabral, nem o lirismo desbragado de Bandeira, nem o
imaginário místico de Jorge Amado, nem a poesia multifacetada de Murilo Mendes,
nem a dicção violenta e densa de Gullar conseguem suplantá-lo. Mas nem Drummond
em toda sua glória é unânime.
Alguns artistas são relegados a um plano
menor só por serem acessíveis. Como se o fato de ser ininteligível fosse sinal
de qualidade e grandeza. Cecília Meireles, por exemplo, é uma poeta enorme, mas
por ter ganho uma aura, digamos, “escolar”, por ser aceita, lida e entendida,
sempre foi posta num patamar inferior pelos “entendidos”. Já Clarice Lispector,
outra escritora imensa, tem aura misteriosa, profunda e filosófica, quase
maldita, inalcançável. Mas não quero correr o risco de ser raro. Obviamente a escrita
de Clarice é mais enigmática e cheia de signos e subtextos que a de Cecília,
muito mais simples e despojada, ainda que rica. Mas os lugares que ambas ocupam
num suposto ranking literário é emblemático disso que explanei acima. Quanto
mais difícil, mais maldito. Quanto mais maldito, mais dotado de verniz
estético. Quanto mais inteligível, menor.
Agora, redescoberta (e desvirtuada) pelas
redes sócias, campeão de textos no face, Clarice passou de hermética a
simplória, rainha da autoajuda, emissária do sentimentalismo mais rasteiro,
sacerdotisa do óbvio. É, este mundo é mesmo cheio de ironia.
Revista: Isto é - Ano 36 Nº 2232 / pág.
130
Autor:
Zeca Baleiro
O nome do jogo é atitude
O medalhista de ouro Arthur Zanetti, campeão das argolas na ginástica artística, filho de uma analista contábil e do dono de uma mecânica industrial em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, há quatro anos repete diariamente a rotina de movimentos que o levou ao pódio em Londres. O atleta divide o quarto com o irmão. A parte de baixo do beliche é sua. Por imposição da carreira, ele precisa dormir cedo - o irmão, Victor, ao chegar mais tarde, põe uma toalha em cima da luminária para não incomodar o sono do jovem, que, aos 22 anos, virou herói. Herói depois de uma lesão no punho e uma cirurgia no ombro direito. Zanetti, pela vida absurdamente dedicada, é um exemplo do esforço, estoicismo e resistência de verdadeiros atletas olímpicos - como os da natação, para citar outro esporte, que passam horas e horas contando azulejos no fundo da piscina. São seres humanos excepcionais. Infelizmente, essa é uma condição que não basta quando chega a hora de uma Olimpíada. É preciso que eles saiam dos Jogos maiores do que quando entraram.
Fabiana Murer, favorita ao pódio no salto com vara, saiu menor do que entrou. Culpa dela? Não, da natureza. “Comecei a correr e senti um vento forte”, disse, e em seguida justificou a desistência no terceiro salto: “Era até perigoso me machucar se tentasse”.
O russo Alexander Popov, campeão dos 50 e dos 100 metros no passado, explicou o desempenho de Cielo melhor do que o próprio brasileiro: “Prova olímpica é vencida pelo mais forte. Tinha gente mais forte do que Cielo na piscina”. Thiago Pereira, fenomenal prata nos 400 medley, deixou para trás Phelps e também o temor de se indispor com atletas da própria equipe. Disse Thiago: “Faltou um pouco de comprometimento das nadadoras brasileiras. Lá nos Estados Unidos, tem mulher que fica que nem a gente, não raspa nada e só raspa para melhorar na hora da prova. Aqui, como posso dizer, tem mais vaidade”. A medalha de ouro da desculpa mais esfarrapada da delegação brasileira vai para o cavaleiro José Roberto Reynoso: “A cultura europeia é voltada para o cavalo, no Brasil a pessoa é voltada a ter cachorro em casa”. Ou seja, as magníficas vitórias de cavaleiros brasileiros em Olimpíadas passadas só poderiam ser explicadas como manifestações de contracultura? Reynoso, então, só vencerá uma prova olímpica quando a cultura brasileira mudar de cachorro para cavalo?
Claro que não.
Revista Veja pág. 91
Autor: Fábio Altman
Reinventar-se
Urano gerava filhos e os devolvia ao útero da esposa Geia, para que eles não lhe tomassem o trono. Revoltada, Geia entregou uma foice ao filho Krónos, que amputa a genitália do pai, Urano. Krónos esposa a irmã Réia e gera filhos. Advertido de que os filhos o destronariam, Krónos engole-os à medida que nascem.
Krónos é semanticamente Khónos, o tempo. É imagem do tempo porque gera e engole os filhos, como o passado engoliu o presente e o presente vai engolindo o futuro. É o fluir, a sucessão cronológica, a passagem do tempo.
O tempo influi nos acontecimentos, mas o homem pode mais, Khrónos é o tempo, a duração. Ánthropos é agente criador. O homem trabalho o tempo e organiza o universo com inteligência. E faz história. A humanidade tende a hipervalorizar o tempo. Projeta suas aspirações no tempo. Espera que o tempo lhe traga a felicidade. Contudo, transferir ao tempo o que é produzido pela humanidade é alienação. E adiar o que se deveria fazer no presente é fuga.
O agente histórico é o homem, e não o tempo. Durante o mesmo período de tempo, pode haver grandes conquistas e grandes retrocessos, pode ser criada nova técnica para mutilar vidas. Na mesma época, coexistiram a terna Madre Teresa, de Calcutá, e o cruel Augusto Pinochet.
A questão fundamental não é perguntar o que o tempo nos trará. A questão vital é definir o que a humanidade irá construir. Se história de vida ou morte, se história de crescimento ou de ruína. Não basta assistir ao desfile do tempo. Há que agir ousadamente. Há que planejar e criar nova humanidade. Ricoeur diz que Goethe reescreveu o Prólogo de João, ao afirmar: “No princípio era a ação”. O filósofo Vattimo revela: “Minha existência leva-me a entrar ativamente na história”. E o teólogo Schillebeeckx lembra que Deus confiou ao ser humano a função de Abad, que, em hebraico, significa “cultiva”. Cultivar é prolongar a criação. É germinar nova história. É preencher carências.
A preocupação humana deve concentrar-se no Kairós. Kairós é decisão radical. É optar, assumir e realizar. Kairós é salto histórico. Rompe com o passado, estala estruturas, revolve consciências e muda vidas. A cronologia mede o curso do tempo, sem ponderar situações humanas e desumanas. A kairologia avalia a situação concreta em que se encontra a humanidade. E mostra as condições reais em que a humanidade. E mostra as condições reais em que a humanidade se realiza e as condições em que se desrealiza. O olhar de Kairós enxerga aqueles que transitam pelas amplas estradas. E enxerga também aqueles que estão encostados à beira das estradas. Kairós impacienta-se porque o tempo passa, e grande parte da humanidade continua “engolida” pelas crateras do sofrimento, da miséria e do desespero.
Importa buscar caminhos para nova gênese humana. É necessário ser Kairós, e não apenas Khónos. Ser ruptura e não apenas continuidade. A ilusão cronológica leva a pensar que mudança do tempo significa mudança de vida. Entretanto, verifica-se que o tempo corre e muda, mas os sistemas políticos e econômicos perversos permanecem imutáveis.
Não basta mudar o curso do tempo. Há que mudar a vida da humanidade aviltada. É urgente construir a história da justiça, em vez da história da desigualdade; construir a história da maioria silenciada, em vez da história da minoria falante. A história não está encerrada nem lacrada. E a sociedade brasileira há de acelerar o ritmo de gênese. E ter ousadia para reinventar-se.
Fonte: Livro: “Antropologia: ousar para reinventar a humanidade”/ Juvenal Arduini – páginas: 14-16.
Utopia O grande sonho da modernidade
Quatro anos antes da publicação da Utopia, Nicolau Maquiavel (1469-1527) havia escrito o seu O príncipe, livro no qual se perguntava se seria possível a um governante mudar os costumes de uma sociedade por meio de leis novas que pretendessem alterar esses hábitos. É exatamente essa questão que está posta em forma de diálogo entre Rafael Hitlodeu e o personagem que representa More no livro.
Para o autor inglês, a melhor forma de promover mudanças na sociedade seria por meio da educação, que, aos poucos, eliminaria, ou pelo menos minimizaria, o que estava errado. Para Rafael, esse método seria extremamente lento e incerto, de maneira que o melhor seria elaborar decretos, mesmo que difíceis e detestáveis, capazes de provocar mudanças efetivas no comportamento social.
Trata-se de uma questão plenamente atual: pode a lei modificar os costumes de forma efetiva? Um indivíduo que pratique um ato apenas pela força coativa da lei ou pelo medo da punição, será, de fato, um cidadão?
Para More, na sua Utopia, parece claro que a resposta é não. Na sua opinião, o convenienter seria proceder como os utopianos, ensinando às crianças desde cedo o que são e como se praticam as virtudes cidadãs. Então, à medida que essas virtudes fossem incorporadas à vida social, se tornariam leis.
O Estado moderno, assim como o experimentado viajante Rafael, não aceitou esse demorado e inseguro método de mudança social. A utopia moderna- não a de More – deve ser implementada o quanto antes e pela força coativa da lei. Bastaria que um grupo de letrados ou de legisladores percebesse o que seria certo para que isso fosse legislado e todos os cidadãos passassem a ser obrigados a cumprir a lei. Esse sonho é um dos pilares sobre os quais se assenta o Estado moderno. Se assim for feito, acredita-se, as leis conduzirão, cedo ou tarde, a uma sociedade livre, justa, pacífica e feliz.
Eis a Utopia moderna.
More, no entanto, acreditava que esse não era o caminho, pelo simples fato de que a virtude não pode ser normatizada. O exercício do certo e do conveniente só seria possível por meio de atos virtuosos e voluntários.
Na verdade, a Utopia de More coloca-nos diante de um dilema muito atual: segurança ou insegurança. O homem moderno optou pela segurança e, por isso, acredita no império da lei. Thomas More acreditava na insegurança e, por isso, defendia a necessidade da educação para as virtudes públicas e privadas.
Talvez prefiramos a segurança da lei, mas convém não esquecer de Guimarães Rosa, para quem “viver – não é? – é muito perigoso. Por que ainda não se sabe. Porque aprender a viver é que é o viver mesmo.
Autor: Rafael Ruiz
Revista:História Viva Ano IX N° 106 pg.77
VIVENDO COM ARTE
Obras de arte enriquecem o cotidiano e tornam possível viver com mais estilo.
Talvez não seja possível encontrar alguém que um dia diante de uma obra provocadora não se tenha perguntado se aquilo era realmente arte.
O conceito de arte movimenta tanto o universo artístico quanto o acadêmico e causa discussões acaloradas entre consumidores e apreciadores de arte.Toda polêmica ainda mais borbulhante depois do surgimento da arte moderna, só demonstra o que é tido como universal: a arte nos rodeia desde o início da história da humanidade e por isso,é natural que compreendê-la seja uma ansiedade e a motivação de inúmeras reflexões.
É possível notar,porém, À parte todas reflexões sobre a arte, ela nunca deixou de ser valorizada. Prova disso é a sentença do filósofo alemão F.Nietzshe: “Temos a arte para que a verdade não nos destrua”.Hoje homens e mulheres que possuem as mais diversas relações com a arte concordam com o filósofo:ela é importante..
Emociona, faz pensar, provoca sensações, expressa sentimentos e enche de beleza los ambientes que a contêm.
E que ambientes são esses?Se antes obras de arte estavam restritas aos espaços aos museus ou às casas dos colecionadores, percebe-se hoje que ela está ou pode estar em qualquer lugar. O que a torna mais acessível e amplia seu poder transformador.
Se a arte saiu dos museus e invadiu as ruas, é claro que ela também foi para as casas das pessoas. E não apenas para as paredes cheias de quadros, mas também para os movéis. É o que têm feito designers de mobiliários com uma concepção artística tão arraigada que as peças ganham verdadeiramente status de obras de arte.Uma lista dos que se destacam nessa produção deve incluir, sem dúvida, os nomes de Daniel Pouzet e Fred Frely. Criadores de uma espreguiçadeira chamada zv, vendida aproximadamente por 48 mil reais. Os criadores referem-se à sua criação como algo simples, básico e essencial. A reação segundo eles é de amar imediatamente, assim como são as reações diante de algumas das mais tradicionais peças artísticas expostas em museus afora. Entre os brasileiros los dos irmãos Campana criadores de peças de mobiliário que já estão até no MoMA, o prestigiado museu de Nova Iorque. Conhecida no mundo inteiro por sua originalidade, a obra dos Campana usa elementos do cotidiano para transformar uma casa num espaço cheio de apuro estético.
Ebm style em Roteiros exóticos. Ano IV.
As entrelinhas do Amor
- O amor é o sentimento que dá forma e alma ao mundo.
Ao longo da história da humanidade,
inspirou pensamentos e obras na arte,
inspirou pensamentos e obras na arte,
na ciência e na espiritualidade.
A palavra amor faz referência a uma variedade de sentimentos, estados e atitudes, que variam do prazer, quando se diz, por exemplo, “amo chocolate”, até uma atração interpessoal intensa, quando se afirma “amo meu filho”.
Dessa forma, muitas vezes, o termo “amor” é usado e associado a “gostar” de alguma coisa ou de alguém.
Embora o amor possa ter uma natureza, existem teorias de que provavelmente não temos capacidade suficiente de compreendê-la. Sócrates, por exemplo, afirmava que a verdadeira natureza do amor estava além da compreensão intelectual da humanidade.
Alguns estudos dizem que o homem criou o amor quando sentiu o peso do desamparo, da solidão e do abandono após assumir sua individualidade, o conhecimento de si mesmo. A necessidade de minimizar seu isolamento fez com que procurasse por outras pessoas, o que deu origem aos relacionamentos e ao amor.
Pode-se dizer então que o amor foi “criado” pelo ser humano para vencer sua solidão e escapar da própria loucura. Isso porque, sem o amor, o homem é um ser árido e estéril, incapaz de encantar-se com a vida ou de envolver-se com outras pessoas.
Do Livro Grandes Temas do Conhecimento (Filosofia)
No início era o Pai
Uma mini- história do sentimento de paternidade no Brasil.
Sabe-se que dom Pedro I batizava seus filhos com a imperatriz Leopoldina ou com sua favorita, Domitila a marquesa de Santos, com exuberância. Ausentem nunca deixou de se manifestar nos seus natalícios. Mesmo de volta à Portugal, dom Pedro escrevia aos filhos que deixou no Brasil: “meu querido filho. Estamos a sair um navio para esta corte, não quis deixar de te escrever e te dar os parabéns do dia do teu nome, como o fiz o ano passado em Paris”.
Dom Pedro, o “bom pai”. Sim, pois o sentido da paternidade estava em transformação. Passava-se do “pai tirano ao pai amante. O jovem imperador inspirava-se nesse novo princípio. Se durante o antigo Regime eram comuns os pais que tratavam seus rebanhos com brutalidade e ignorância, essa era a época dos laços de afeto e cuidados. A paternidade deixava de ser pautada só pelo sangue, pela linhagem, para consolidar-se como resultado de um desejo, de uma vontade. O homem deixava de ser apenas um genitor para responsabilizar-se pelo amor à criança e pelo bem da família.
Revista: Aventuras na História pág. 65
Autora: Marly Del Priore
Escravos modernos
O historiador Theodore Zeldin, em seu livro “Uma História Íntima da Humanidade”, vê a história como meio para interpretar as experiências pessoais e emocionais. Um de seus personagens é uma mulher frustrada com a vida e com sua incapacidade de mudar sua realidade. Ela se vê presa num sistema. Zeldin mostra que a escravidão, no passado, foi sustentada por três razões principais. A primeira foi o medo. As pessoas aceitavam os sofrimentos e humilhações impostos por reis e senhores porque tinham medo da morte e das consequências de uma liberdade sem segurança. Para ele “o medo sempre foi mais poderoso que o desejo de liberdade”.
A segunda razão é que os seres humanos tornaram-se escravos voluntariamente. A forma de se escapar da responsabilidade que a realidade impõe é sujeitar-se a algum tipo de dominação. A terceira é que o escravo do passado é, surpreendentemente, o ancestral do executivo e burocrata de hoje. No passado, os homens livres, que eram parte de uma pequena elite, não trabalhavam, consideravam indigno trabalhar para os outros. Somente os escravos trabalhavam.
De certa forma, a escravidão continua. No passado, famintos vendiam seus corpos como escravos; hoje o corpo continua sendo oferecido como mercadoria para pagar aluguel
e colocar comida na mesa.
Autor: Ricardo Barbosa de Sousa
Revista: Ultimato pág. 34
WAGNER NAZISTA
A matéria “Hit de 200 anos”, da PLANETA 489, não explica suficientemente que a música do compositor Richard Wagner inspirou a ideologia nazista já que ele era um anti-semita militante? Artistas são livres para fazer o que quiserem com a arte. Mas a música de Wagner não pode ser dissociada do horror nazista.
Iran Tainjes
HOMEM E ARTISTA
Falar de Richard Wagner é entrar em polêmica. Podemos dividi-lo em dois: o artista e o homem. Quem conhece a obra certamente fica impressionado com a qualidade e a beleza; trata-se de um artista a ser admirado. Já o homem tinha idéias que não gostaríamos de ver hoje. Temos que absorver o que há de bom: Wagner tem um legado musical que transcende as barreiras que ele próprio acreditou que existissem.
Haroldo Oséias de Almeida
Ministro tem de ser decente
José Bonifácio,
chamado de o Patriarca da Independência, era ministro-conselheiro do imperador
Pedro I e Martin Francisco, seu irmão, ministro da Fazenda. Certa vez, José
Bonifácio recebeu o seu salário, em dinheiro, e o guardou sob o forro do chapéu.
Esqueceu o chapéu em algum lugar e ficou sem o dinheiro. Como era muito
honesto, iria passar dificuldade. O imperador chamou Martin Francisco e o
indagou sobre a possibilidade de compensar José Bonifácio com outra forma de
recuperação do salário perdido. Ouviu de Martin Francisco um respeitoso, mas
sonoro não. “A única coisa que posso fazer, majestade, é dividir o meu salário
com ele”, disse ao imperador. E assim foi feito.
Tanta dignidade nesse
exemplo e tanta falta de dignidade registrada no últimos tempos envolvendo
ministros.
Existe uma expressão,
não muito usada por sinal, que se encontra apenas nos idiomas português e
espanhol, sem correspondente em outras línguas. Um vocábulo rico, pois
incorpora quatro significações. Trata-se do termo pundonor, que o Dicionário
Aurélio define como sentimento de dignidade, brio, honra e decoro.
Ministros tinham de
possuir em elevado grau este quádruplo sentimento, com uma conduta sempre
digna, nunca perdendo o brio, jamais a desonra e mantendo atitudes
permanentemente decorosas. Essa pundonorosa soma de valores é um patrimônio
moral e cívico que oxalá fosse encontrado em maior quantidade.
Autor: Hélio Rocha
Jornal: O Popular
08/12/2012
Em meados de
novembro, quando a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa)
anunciou que planeja trabalhar em um projeto (que não tem prazo de conclusão,
pois ainda depende da aprovação de seu próprio
departamento jurídico e aval do IBAMA) de clonagem de animais ameaçados de
extinção entre os quais lobo-guará, onça pintada e veado catingueiro, ela
também despertou a atenção internacional. Mas, enquanto a versão on-line da
revista New Scientist noticiava a iniciativa, citando a primeira clonagem da
Embrapa em 2001 uma vaca batizada de vitória, que morreu no ano passado, e os cem animais obtidos
desde então com a técnica (sobretudo bovinos e eqüinos), o jornal britânico The
Guardian destacou que muitos conservacionistas veem com reservas a clonagem de
animais ameaçados, por temerem um desvio de foco em relação à preocupação
principal, que seria a de proteger o habitat desses mesmos animais. Mas,
segundo declarações do pesquisador Carlos Frederico Martins à BBC Brasil, a
clonagem não será a principal ferramenta de conservação das espécies ameaçadas,
principalmente, porque ela diminui a variedade genética do reino animal. “É
algo complementar a esforços de conservação de matas, rios e reservas. Nosso objetivo
principal é estudar a técnica, ver como ela se comporta e se é possível
produzir animais do nosso bioma, para quando precisarmos.”
Revista: Leituras da História
Editora Escala nº 56 / pág. 12
Sociedade Secreta – Os Cátaros / Albigenses
O início do
catarismo é impreciso. Alguns historiadores acreditam que o movimento religioso
nasceu em Constantinopla e foi trazido para a Europa Ocidental depois da 2ª
Cruzada, por volta de 1147 e 1149. Outros pesquisadores sugerem que as
primeiras idéias de um movimento religioso (que ainda não tinha um nome
oficial) começaram, por volta de 1022, quando dois monges foram injustamente
queimados vivos, acusados de satanismo.
O bispo de
Toulouse, a maior cidade de Languedoc, na França, foi contra a execução. Mas o que a
autoridade eclesiástica escondia dos poderosos da Igreja é que ele se reunia
secretamente em outros clérigos. Para
discutir suas idéias pouco ortodoxas e as insatisfações com o catolicismo praticado na época. O grupo acreditava,
por exemplo, que Deus era um espírito puro e que a criação do mundo não tinha
nada de divino, mas era, sim, o resultado de uma obra perversa, criada pelas
forças do mal.
As idéias dos
primeiros cátaros que aspiravam a volta do cristianismo primitivo começaram a
se espalhar pela Europa. A nova crença arregimentou adeptos na Catalunha
(Espanha), na Alemanha, na Inglaterra e na Itália. Seguidores da doutrina
cátara recebiam diferentes nomes de acordo com seu país de origem.
O movimento,
entretanto, levou mais de 150 anos para se afastar definitivamente da igreja
oficial.
O catarismo
também baseou seus fundamentos no Sermão da Montanha, um longo discurso
proferido por Jesus, no qual o próprio Cristo ensinou aos seus seguidores
lições de conduta e de moral, ditando os princípios que normatizam e orientam a
vida cristã, aquela que conduzirá o homem à sua verdadeira liberdade. De acordo
com a doutrina cátara, Cristo não foi um mensageiro de Deus que veio para
ensinar o caminho da salvação, como prega a Igreja Romana, mas representou a
vitória do mal que jamais poderia ser vencido pela crucificação de Cristo. A
salvação segundo eles, só era alcançada por quem seguisse ao pé da letra os
preceitos do Sermão da Montanha, pois a Igreja Romana era, sim, um reduto de
anticristos. Eles abdicavam de suas posses materiais e procuravam levar uma
vida pura. Seus padres se vestiam com hábitos negros e rejeitavam os
sacramentos, como o batismo, a eucaristia e o matrimônio. E não se incomodavam
com o sexo fora do casamento. ‘A castidade devia ser priorizada, mas se não
fosse possível mantê-la, melhor seria manter encontros casuais do que
oficializar o mal por meio do casamento, um sacramento não aceito por eles.
O papa
Inocêncio III autorizou uma Cruzada, comandada pelo rei da França, Felipe II
que, com outros nobres de Toulouse, iniciaram a carnificina que durou de 1209 a 1244. Na primeira
fase da cruzada, foram mortos 20 mil pessoas entre homens, mulheres e crianças.
Quando um oficial perguntou ao representante do papa, o Abade Arnaldo Amauri,
como ele conseguiria distinguir os hereges dos crentes verdadeiros, a resposta
foi: “Matem-nos todos. Deus reconhecerá os seus.”
Os cátaros que
resistiram às cruzadas finalmente foram exterminados pela inquisição em Ariège,
na metade do século 13.
Autor: Rose Mercatelli
Revista: Leituras da História pág. 50-53
Farol da Barra (Bahia)
O Farol da Barra ou Farol de Santo Antônio localiza-se na antiga ponta do Padrão, atual Ponta de Santo Antônio, em Salvador,
no litoral do estado da Bahia,
no Brasil.
Torre
troncônica em alvenaria
com lanterna
e galeria, 22 metros
de altura e pintada com bandas preta e brancas. O farol está construído no
interior do Forte de Santo Antônio da Barra.[3]
História
No século XVII,
o porto de Salvador era um dos mais movimentados
e importantes do continente, e era preciso auxiliar as embarcações que chegavam
à Baía de Todos os Santos em busca de pau-brasil
e outras madeiras-de-lei, açúcar,
algodão,
tabaco
e outros itens, para abastecer o mercado consumidor europeu.
No fim desse século, após o trágico naufrágio
do Galeão Santíssimo Sacramento, capitania da
frota da Companhia Geral do Comércio do Brasil,
num banco de areia
frente à foz do rio Vermelho, a 5 de maio
de 1668, o
Forte de Santo Antônio da Barra foi
reedificado a partir de 1696,
durante o Governo Geral de João de Lencastre (1694-1702), vindo a receber
um farol -
um torreão quadrangular encimado por uma lanterna
de bronze envidraçada, alimentada a
óleo de baleia
-, de acordo com o Instituto Geográfico e Histórico da
Bahia, o primeiro do Brasil e o mais antigo do Continente (1698), quando passou a ser
chamado de Vigia
da Barra ou de Farol da Barra.
Farol e Forte de Santo Antônio da Barra.
Localização
do Farol.
O diário de bordo do corsário
inglês William Dampier, em 1699, relata: "A
entrada da Baía de Todos os Santos é defendida pelo imponente Forte de Santo
Antônio, cujos lampiões acesos e suspensos para orientação dos navios, vimos de
noite."
O Decreto Regencial de 6 de julho
de 1832
determinou a instalação de um farol mais moderno, fabricado na Inglaterra,
em substituição ao antigo. Ao término das obras, inauguradas em 2 de dezembro
de 1839, o
novo equipamento de luz catóptrico erguia-se sobre uma torre troncônica de alvenaria,
com alcance de dezoito milhas náuticas com tempo claro.
Em 1937,
o antigo sistema "Barbier" (incandescente a querosene)
de iluminação foi substituído por luz elétrica, comemorando-se o primeiro
centenário do farol a 2 de Dezembro de 1939.
Atualmente o farol encontra-se consagrado como um dos ícones da capital baiana,
inspirando artistas e poetas.
Adolf Hitler, fanfarrão?
Publicamente, Hitler só tomava chá, era vegetariano e foi primeiro chefe de Estado a proibir que fumasse diante dele. Apesar da suposta retidão, na juventude, foi um boêmio assumido, tanto que o biógrafo Robert Payne afirma que seu comportamento adulto foi moldado a partir da propaganda fictícia espalhada pelo ministro nazista Joseph Goebbels, que visava enfatizar o autocontrole do tirano e sua total dedicação à Alemanha.
Por muito tempo, ele também foi tido como homossexual. Segundo a mídia de sua época, Hitler demonstrava desinteresse pelas mulheres, embora exercesse um magnetismo indescritível sobre elas. No entanto, entre os casos mais famosos, que depois vieram à tona – entre os quais se destaca o de Eva Braun, com quem o ditador se casou, quase ninguém menciona que em 1908, ele enviou uma carta de amor anônima a jovem Stephanie Rabatsch, de 19 anos, por quem nutria um sentimento platônico desde quando ela tinha 16 anos; namorou por seis anos a própria sobrinha Grete Raubal – jovem que se suicidou em 1931, aos 23 anos, devido à possessividade de Hitler e ainda teve um noivado frustrado com a irmã de seu velho amigo Dr. Ernest.
Hoje é inegável que o ditador vivia rodeado de mulheres e se entregava com gosto aos prazeres da carne. Se real, a foto do autor desconhecido provavelmente propagada pelos Aliados ou até pelos russos, após o fim da 2ª Guerra Mundial, na qual Hitler aparece ao lado de duas beldades seminuas e bêbado, contraria a imagem puritana que ele forjava perante a sociedade alemã que, hipocritamente, primava pela moral cristã, enquanto o mundo assistia à desastrosa ascensão do ditador e o posterior massacre de judeus em campos de concentração.
Revista: Leituras da História
Editora Escala nº 56 / pág. 66
Qual é a grandeza da Humanidade?
Sofrendo um influência evidente do cristianismo, a Idade Média exilou a figura do homem em uma espécie de cápsula de flagelo existencial: o mundo era mau, a vida um exílio e o corpo algo que precisava ser mantido sob rígida disciplina – a humanidade almejava a redenção e o perdão divino.
Veio o século 15 e, o Renascimento, que representou de imediato a redescoberta e revalorização do homem e da vida da Terra. Interpretações baseadas em dogmas de fé perderam força pela incapacidade de a Igreja explicar a natureza das aflições e trazer conforto definitivo às desgraças que inquietavam as pessoas que, corajosamente, teimavam em sobreviver. Tudo , então, tornou-se outra coisa! O renascimento deixou uma marca indelével em, basicamente, todas as áreas do conhecimento humano. Desnecessário citar as mentes brilhantes que floresceram sob a égide renascentista. O homem se sentiu à vontade no “centro do universo”, como a medida de todas as coisas, e, assim explodiu em criatividade: na religião, na filosofia, nas artes... um prestígio somente antes experimentado na Antiguidade Clássica.
Recomendo a leitura de nossa matéria de capa como uma inspiração para os dias sombrios que vivemos nesses tempos difíceis essa Idade Média social e moral a que estamos submetidos. O ano que se avizinha merece essa ponderação, pois o homem exaltado pelos renascentistas em força, beleza, sabedoria e bondade, coragem e honra, chega a causar um certo desconforto quando inseridos em essência nos dias atuais em que os superlativos geralmente degeneram pela natureza dos significados. Onde estão os heróis? Ricardo Frantz nos leva a refletir sob a possibilidade de nos recriar do modo que bem quisermos, com capricho e prudência, de modo que o livre-arbítrio não seja inconveniente na medida de nossa imperfeição. Podemos “renascer” planamente, com dignidade, levando em conta o bem comum tanto quanto o individual. O legado do Renascimento ainda pode devolver a paz, a beleza, a felicidade, a harmonia e a justiça à Terra? Onde estão os heróis?
Um ano novo extraordinário é o que desejamos!
Autor: Valter Costa
Revista: Leituras da História
Editora Escala nº 56 / pág. 5
O nascer da Terra
“Nós viemos até aqui para explorar a Lua, porém a coisa mais importante é que nós descobrimos a Terra.” Essa famosa frase foi emitida pelo Astronauta William Anders, após o registro da célebre imagem que recebeu, da NASA, o nome de Earthrise.
Como tripulante da Apollo 8 que, por sua vez, só orbitou a Lua, ele captou a silhueta do nosso planeta no dia 24 de dezembro de 1968, à 75h49m de tempo decorrido de missão aproximadamente à 15h40m UTC (sigla em inglês para Tempo Universal Coordenado). Embora o procedimento não estivesse previsto, incentivado pelo entusiasmo do comandante Frank Borman, Anders pegou uma câmera Hasselblad, devidamente munida de filme colorido, e se permitiu a ousadia.
Na foto, a superfície lunar se destaca em primeiro plano, enquanto a Terra, parcialmente na sombra, surge em segundo, como que se quisesse imitar a onipotência do nascer do Sol. Desde então, a imagem ganhou fama e se tornou inspiradora para muitos, inclusive para alguns ambientalistas.
No entanto, apesar do deslumbramento imensurável que nosso planeta causa em pleno espaço, a foto escondendo o desrespeito com que os homens tratam a superfície. Hoje, passados 44 anos, os estragos já efetuados causam desequilíbrios de proporções incalculáveis na natureza. Mas, a maioria que ainda se empolga com a imagem, também já acostumou com eles e, aparentemente, não pensa em reverter tal situação, nem mesmo para preservar o que resta na Terra.
Revista: Leituras da História
Editora Escala nº 56 / pág. 3
Personagem da Disney nasceu
A edição do gibi Tio Patinhas número 203, publicada em 1982, veio com uma novidade: a história O nascimento do Biquinho, sobre o surgimento do sobrinho arteiro e sapeca do Peninha. Engana-se quem pensa que se trata de uma criação dos estúdios da Disney nos Estados Unidos. A elaboração do Biquinho ficou a cargo da filial da Disney em São Paulo , capitaneada pelo ítalo-brasileiro Primaggio Mantovi.
A equipe de Mantovi fazia reuniões periódicas de planejamento e avaliação de trabalho. O grupo percebeu que era necessária a existência de um interlocutor mirim para o Peninha, para que se desgrudasse um pouco do círculo de relações do Pato Donald e do Tio Patinhas. Chegaram à conclusão de que o ideal seria criar um sobrinho. O primeiro nome proposto foi Penugem. A decisão fina, porém, foi batizá-lo de Biquinho, ema criança pra lá de espevitada para ser sobrinho do personagem mais espevitado da Disney. “A intenção era ver como o Peninha se sairia convivendo com alguém pior do que ele”, conta Mantovi.
A principal novidade do patinho é a sua cor amarela, tal qual a cor dos filhotes de pato- todos os outros patos da Disney são brancos. As cores da roupa foram escolhidas por concurso. O sucesso não se restringiu ao Brasil. “Os italianos adotaram o personagem, depois de eu ‘empurrar’ estrategicamente algumas amostras para eles”, diz Mantovi. Apesar do sucesso na Europa, Biquinho continua a ser um personagem tipicamente brasileiro.
Revista: Brasil N°163 Ano 14 Pg. 11
Funeral Militar
Este “toque de silêncio” (TAPS) nos dá um nó na garganta e geralmente nos faz lacrimejar.
Mas, vocês conhecem a verdadeira história desta canção?
Se não sabem, devem estar interessados em conhecer sua origem.
Tudo começou em 1862 durante a Guerra Civil Americana quando o Capitão do Exército da UNIÃO, Robert Elly estava com seus homens perto de Harrison’s Landing no Estado da Virginia e o Exército Confederado estava próximo a eles, do outro lado do terreno.
Durante a noite, o Capitan Elly escutou os gemidos de um soldado ferido no campo. Sem saber se era um soldado da União ou da Confederação, o Capitão decidiu arriscar sua vida e trazer o homem ferido para dar-lhe atenção médica.
Arrastando-se através dos disparos, o capitão chegou ao soldado ferido e começou a arrastá-lo até seu acampamento.
Quando o Capitão chegou finalmente às suas próprias linhas, descobriu que em realidade era um soldado confederado. Mas, o soldado já estava morto.
O capitão acendeu sua lanterna para, mesmo na penumbra, ver o rosto do soldado.
De repente, ficou sem fôlego e paralisado.
Tratava-se de seu próprio filho.
O menino estava estudando música no Sul quando a guerra se iniciou. Sem dizer nada a seu pai, o moço havia se alistado no exército confederado.
Na manhã seguinte e com o coração destroçado, o pai pediu permissão a seus superiores para dar a seu filho um enterro com honras militares apesar de ele ser um soldado inimigo.
O Capitão pediu se poderia contar com os membros da banda de músicos para que tocassem no funeral de seu filho.
Seu pedido foi parcialmente aprovado.
Por respeito ao pai, lhe disseram que podiam lhe dar um só músico
O Capitão, então, escolheu um corneteiro para que ele tocasse uma série de notas musicais que encontrou no bolso do uniforme do jovem falecido.
Nasceu assim a melodia inesquecível que agora conhecemos como Taps, cuja letra é a seguinte:
O dia terminou, o sol se foi
dos lagos, das colinas e do céu.
Tudo está bem, descansa protegido,
Deus está próximo.
A luz tênue obscurece a visão.
E uma estrela embeleza o céu, brilhando luminosa.
De longe, se aproximando,
cai a noite.
Graças e louvores para os nossos dias
Debaixo do sol, debaixo das estrelas, debaixo do céu,
enquanto caminhamos, isso nós sabemos,
Deus está próximo
Eu ainda sinto calafrios cada vez que ouço o “toque de silêncio” (taps), mas nunca soube que ela tinha uma letra. Nem sequer sabia a história da canção
Recorda com carinho dos que não voltaram das guerras fratricidas, faça uma oração para os soldados de todo o mundo que entregam suas vidas inutilmente.
Judeus e Palestinos: Resolvendo suas zonas de conflito
A gravidade da crise entre judeus e palestinos é para mim o exemplo mais eloqüente da falência da espécie humana. Os ataques terroristas de palestinos e as retaliações do governo de Israel indicam que, apesar de nossa espécie produzir o fantástico mundo das idéias, esse mundo tem sido insuficiente para gerenciar nossos instintos nos focos de tensão e lapidar a arte da solidariedade e tolerância.
Eu tenho origem multirracial, incluindo ascendência árabe e judia. Tenho grande apreço por esses dois povos, mas, como pensador da psicologia, me entristeço em constatar que o conflito entre eles é uma amostra de que a espécie humana está morrendo naquilo que tem de mais nobre. Morrendo na sua capacidade de expor, e não impor, as idéias, de se colocar no lugar dos outros e perceber suas necessidades psicossociais, de se doar sem esperar a contrapartida de retorno, de trabalhar suas dores e frustrações.
Árabes e judeus possuem a mesma carga genérica paterna. São filhos de Abraão. Apesar da mesma origem, combatem-se como se não fossem irmãos e nem pertencentes à mesma espécie. Estão tão feridos nas vielas do seu ser, que não sabem navegar nas águas da emoção e revolucionar seu modo de encarar a vida e reagir aos problemas. A violência substituiu o diálogo. Vivem uma grande crise de confiabilidade.
O único caminho para judeus e palestinos encontrarem a paz não é se esforçarem para obtê-la, mas reeditarem o filme do inconsciente. Se eles não compreenderem o funcionamento da mente e não reurbanizarem as zonas de conflito na grande cidade da memória, sempre serão golpeados pelo medo, pelo ódio e pela insegurança.
Autor: Augusto Cury
Livro: Revolucione sua qualidade de vida
Contágio Tanatólogico
Tânatos é tido como deus da morte. É filho de Nix, a noite. Sísifo conseguiu algemar Tânatos. E, durante certo período, a morte cessou de devastar a vida da humanidade. Entretanto, Zeus decidiu libertar Tânatos, que, desalgemado, eliminou Sísifo. E, então, Tânatos voltou a espalhar as forças mortíferas pelo mundo.
Tânatos distribui a morte “natural” provocada pela velhice, por doenças e acidentes meteorológicos. Nessa área, Tânatos mantém-se moderado porque os avanços científicos estão favorecendo a vida humana. Mas, em outras áreas, Tânatos demonstra fôlego e apetite, e age com fúria. Não lhe basta repartir o “morrer” lentamente. Tem pressa. Mata com voracidade. Tânatos atiça chacinas e extermina multidões barbaramente. E a eficiência tanatológica está crescendo disparadamente.
Matar tornou-se prática rotineira. Programam-se chacinas. Mata-se com frieza, cinicamente. Executam-se existências de forma mano é festa. O código manda matar com arrogância, para ostentar poderio, exibir valentia e arrotar impunidade. Matadores profissionais, bandidos sofisticados e, até, detentores de cargos públicos assassinam e esbanjam orgasmo tanatológico. Babam de prazer mórbido. Usufruem felicidade de monstros. Amedrontam e silenciam testemunhas. O império de Tânatos desafia a sobrevivência da humanidade.
Há contágio tanatológico. Tânatos oferece a pedagogia do homicídio. Propaga a mentalidade assassina e ensina a matar. Difunde-se a crença de que matar é coisa banal, é “normal”. As pessoas são contaminadas pela ferocidade destrutiva. Introduz-se a cultura do assassinato. E não falta o culto ao exterminador, ao ditador sanguinário.
Um fenômeno deve preocupar a quem não perdeu o sentido de humanidade. Tânatos mata com a violência das armas. E mata também com a violência da servidão, do desemprego, do salário insuficiente, da desnutrição, da doença e do pânico. E pode acontecer que o contágio tanalógico consiga encharcar os brasileiros de ódio e crueldade. E aí será uma tragédia. É oportuno lembrar que Tânatos tem coração de ferro e entranhas de bronze. É impiedoso. A contaminação tanalógica pode metalizar a consciência dos brasileiros e despojá-los do senso de humanidade. Seríamos povo sem alma, sociedade barbarizada. A rápida propagação de práticas cruéis já constitui sintoma alarmante.
Perante o cenário tanalógico, alguns se sentem assustados e revoltados. Outros permanecem perplexos e entorpecidos. Hipno era o “sono” que adormecia as pessoas. Hipno tem o poder de hipnotizar, anestesiar a sociedade. Curioso é que Hipno adormece os clientes e Tânatos mata-os. A sociedade que se mostra insensível em relação a tantos assassinatos parece sonolenta, hipnotizada. Bernard Durel diz que “o mal muito propagado hoje é a apatia”.
É hora de despertar para atalhar o surto tanatológico que ensanguenta casas, ruas, praças, bairros e famílias. E reconhecer que o país tem problemas graves e crônicos que exigem soluções radicais. é imprescindível descobrir e extirpar as causas que desencadeiam o extermínio de tantos seres humanos. É urgente ativar a paixão biofílica, que fomenta o amor à vida, para sustar a demolição tanatológica.
Livro: Antropologia
Autor: Juvenal Arduini
Humanismo e técnica
A relação entre humanismo e técnica continua a ser questão cadente. O humanismo preocupa-se com a dignidade pessoal, com os valores fundamentais da vida humana. A técnica comanda a vasta e complexa produção tecnológica. O humanismo pensa o significado e a primazia do ser humano. A técnica fabrica equipamentos cada vez mais sofisticados. O humanismo cultiva a consciência, a liberdade, o diálogo, a subjetividade. A técnica movimenta o universo mecânico, o sistema eletrônico. Huanismo é homo sapiens, técnicas é homo faber.
Daí, surgem duas mentalidades. A mentalidade humanista e a mentalidade tecnológica, mentalidade personalista e mentalidade instrumental. Isso provoca dois tipos de opção. Optar pelo humanismo ou pela tecnologia. Quem opta pelo humanismo prioriza o ser humanismo ou pela tecnologia. Quem opta pelo humanismo prioriza o ser humano e relativiza a tecnologia. Quem opta pela tecnologia prioriza a tecnologia e relega o ser humano. Essa concepção é disjuntiva porque separa e antagoniza humanismo e tecnologia. E, assim, os abraçam o humanismo, minimizam a técnica. E os endeusam a tecnologia depreciam o humanismo.
Essa posição é simplista, acrítica e acanhada. Revela incapacidade para entender que há realidades distintas que não são opostas. Por natureza, humanismo e técnica são aliados, e não adversários. É equívoco considerar humanismo e técnica como mundos dissociados e hostis. Pois o mesmo ser humano é capaz de personalizar-se e de produzir tecnologia. Também a tecnologia é herança humanista, porque gerada pelo homem.
Habermas soube ver a totalidade da razão humana. Reconhece que a razão humana tem função experimental e instrumental, que leva a produzir tecnologia. Mas teve o mérito “comunicacional”, dialogal, intersubjetiva. Por isso, a razão instrumental pode produzir ciências especializadas e técnicas, mas a razão intersubjetiva pode gerar “reflexão emancipatória”, humanismo.
Autor: Juvenal arduini
Livro: Antropologia
A Árvore curiosa de Mil Cores
À primeira vista, pode parecer que a árvore que ilustra este artigo tenha sido alvo de alguns grafiteiros.
Nada está mais longe da realidade, porque a cor variada, que seu tronco tem, é totalmente natural.
Como lemos no "Gestão Ambiental" blog, esta curiosa árvore pertence à espécie "Eucalyptus deglupta".
Sua característica mais marcante é precisamente a coloração vistosa do seu tronco, que a levou a ganhar o apelido de "arco-íris Eucalyptus".
O aspecto marcante destas plantas ocorre devido à forma como eles movem sua casca.
A mudança ocorre em etapas ao longo do ano, de modo que, dentro da casca, o verde escurece para dar lugar aos tons de azul, roxo, marrom, laranja, rosa e ocre.
Na verdade, o nome da espécie, "deglupta" deriva de uma palavra latina que descreve o processo de muda, em função da separação da casca.
Um exemplar nativo do sul das Filipinas, Indonésia e Nova Guiné.
É uma árvore de arco-íris
as duas únicas espécies de eucalipto da Austrália.
Hoje em dia, podem ser encontrados em várias regiões tropicais,
como Porto Rico, porque cresce muito rápido em terra ensolarada, úmida e com boa drenagem.
Em condições ideais, pode crescer até três metros em um ano.
Isto fez com que o seu cultivo, assim como outras espécies de eucalipto, seja muito comum na indústria do papel.
É claro, sua cor marcante natural faz com que seja uma árvore ornamental muito apreciada em jardinagem e, provavelmente, o habitante de qualquer perfeita Enchanted Forest
Arco-íris de eucalipto, a árvore do mundo mais colorido
O Eucalyptus deglupta é o único gênero Eucalyptus
Hemisfério Norte é original.
Sua área natural ocupa-Nova Guiné, Nova Bretanha, Mindanao e Sulawesi.
Sua característica mais marcante é a coloração variada do tronco.
Ao mover a casca anualmente, mas em momentos diferentes, o verde interior
escurece, para dar azul, roxo, marrom,
laranja, rosa ocre, e muitos mais, como você pode ver nestas fotos.
Evergreen pode crescer até três metros em um ano.
Esta árvore é cultivada em todo o mundo para o papel.
Ela também é usada como uma árvore ornamental no paisagismo por suas belas cores.
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