As propostas políticas precisam pensar na famílias
Não basta apenas dizer “que vai continuar” ou “dar uma melhorada” no que já é feito.
A
partir de temas importantes da atualidade e da consideração de
diferentes campos – político, acadêmico, econômico e religioso – a
Igreja Católica, por convocação do Papa Francisco, debate e estuda a
situação da família humana. A 3ª Assembleia Extraordinária do Sínodo dos
Bispos, em Roma, sobre esse tema, congrega representantes de todo o
mundo. Contribui para o avanço e compreensão de aspectos cruciais de
tudo o que se refere à família na contemporaneidade. O Sínodo indica a
preocupação central da Igreja sobre a vida familiar. Sua organização
começou há muito tempo e, certamente, esse significativo processo de
escuta e reflexão deve continuar até a sessão ordinária do Sínodo dos
Bispos, a ser realizada em outubro de 2015.
Família
humana é tema central, emoldurado por grande complexidade,
principalmente quando se considera aspectos do presente e do futuro da
sociedade.
A atenção às famílias, sua compreensão e a definição
de políticas emancipatórias em seu favor não podem se reduzir a aportes
financeiros mínimos, de caráter compensatório. É preciso
avançar na direção da justiça, além de compreender melhor o significado
humanístico e o sentido ético-moral de família, uma insubstituível
escola de humanidade. Trata-se de ambiente onde cada pessoa vive as
experiências mais determinantes em sua trajetória. O sucesso de outras
escolas tem íntima relação com as significativas experiências
familiares. E as lacunas nestas experiências provocam prejuízos, atrasam
processos e inviabilizam avanços culturais.
A
família tem um evangelho próprio, que é sua maior riqueza.
Compreendê-la inclui, pois, não apenas as definições sobre sua dimensão
funcional e de sua sustentabilidade. Assim, quando se pensa a família,
explicita-se a exigência importante de não apenas tratá-la como
adjetivação de programas sociais. Evidentemente, ao reconhecer o seu
amplo papel, deve-se empenhar na criação de condições mínimas para sua
sobrevivência. Mas, além disso, governantes e gestores são desafiados a
construir, de modo criativo, estratégias capazes de configurar garantias
mais amplas aos grupos familiares. Passou aquele tempo em que grande
era o bombardeio contra a família, praticado por setores importantes da
sociedade. Contudo, apesar de ter amainado a “guerra” contra essa
instituição, continua desafiador o seu tratamento no atual contexto
sociocultural, caracterizado por muitas nuances.
Exigente,
pois, é a escuta e reflexão do evangelho da família, tesouro que guarda
valores determinantes para a educação afetiva e humanística de cada
pessoa, fonte do insubstituível sentido moral que a consciência cidadã
não pode dispensar.
Abdicar-se dessa tarefa é contribuir para processos degradantes, como a desumanização, que pode ser até irreversível. Sem dúvida, o ideal de família é um horizonte inspirador.
A
compreensão de família cristã, por exemplo, inclui o balizamento de um
desígnio de Deus. Constitui um complexo de relações interpessoais, em
referência à vida conjugal, paternidade, maternidade, fraternidade,
filiação, configurando a “pertença” à família humana e à família de
Deus. Esta compreensão tem o seu nascimento no sacramento do Matrimônio.
O contexto sociocultural, no entanto, desafia entendimentos e
distinções que apontam no sentido de se considerar muitas exigências e
necessidades humanitárias. O certo é que a importância global da família
não dispensa, visando seu bem maior e a fecundidade de sua
insubstituível tarefa na vida da sociedade, a abordagem das dimensões
espiritual, humanística, educativa e social. Nesse sentido, as Igrejas
têm, no seu serviço à família humana, uma tarefa própria. Também possuem
atribuições nesse âmbito as diferentes instituições e instâncias da
sociedade pluralista.
É
pertinente, por exemplo, que empresas, ao definirem suas políticas de
responsabilidade social, considerem investir nas famílias que sofrem com
a miséria, falta de moradia, educação e saúde. No campo político, por
que não instituir uma legislação, semelhante a que já existe, para
incentivar projetos culturais, que estimule as empresas a investirem no
amparo às famílias mais pobres? Talvez fosse um caminho para superar a
dependência de alguns grupos familiares das ajudas esporádicas, com
alcance muito limitado. No calor dos debates e programas eleitorais,
entre outros anseios, espera-se dos candidatos a apresentação de
propostas mais ousadas, com força de comprometimento social e político,
para as famílias, especialmente as que necessitam de moradia, educação,
saúde, lazer e tudo que represente um direito de todos.
Não basta apenas dizer “que vai continuar” ou “dar uma melhorada” no que já é feito.
O
momento eleitoral decisivo de agora não requer propagandas e debates
caracterizados pelos ataques pessoais e promessas sem a indicação dos
caminhos para sua concretização. É hora de escolher quem, de fato, é
propositivo, capaz de mostrar o caminho real das mudanças. Exige-se um
perfil com a competência para articular, em rede, a educação, a saúde, a
segurança, o respeito aos direitos fundamentais, indo além de questões
meramente partidárias. Especialmente, almeja-se que inovadoras políticas
voltadas para a família sejam construídas, reconhecendo sempre a
centralidade da instituição familiar para a vida em sociedade.
Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte - MG

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