10 de nov. de 2012


Marcos que balizam a vida e a reflexão cristã
(L. Boff)

Inspirar-se no sonho de Jesus, o Reino, que se realiza já na história, começando pelos últimos e sempre onde houver verdade, justiça e amor.
Re-criar o comprometimento de Jesus com os excluídos e com os empobrecidos na luta contra sua pobreza em favor da vida e da libertação.
Falar de Deus e de sua graça a partir da experiência do mundo, da história do sofrimento e da certeza que a última palavra não é morte mas vida, não é cruz mas ressurreição.
Dar centralidade à misericórdia e à ternura porque são elas que salvam a vida e o amor e revelam o rosto materno de Deus.
Compreender o ser humano como um projeto infinito, como a própria Terra que sente, pensa, ama e venera.
Cuidar da Terra, nossa Grande Mãe, Pachamama e Gaia, com a qual temos a mesma origem e a mesma destinação de sermos metáfora da Fonte originária de todos os seres.
Re-viver a piedade cósmica e a confraternização universal com todas as criaturas no seguimento de Clara e de Francisco de Assis.

Autor: Leonardo Boff
Livro: Graça e Experiência
 

Salmos, Um encontro de vida


Os salmos são, flor e fruto de um longo romance mantido entre Deus e o homem, um romance cujos primeiros 
balbucios se perdem na alvorada do povo de Deus.
Todo encontro é o cruzamento de duas rotas, de dois itinerários ou interioridades. O homem busca Deus, e não pode deixar de buscá-lo. Em sua oficina de artesanato - homem não deixa de ser uma obra de artesanato -, no coração em que o concebeu e modelou, Deus deixou nas raízes do homem uma marca dele mesmo, o selo de seu dedo, sua própria imagem que vem a ser como uma poderosa força de gravidade que o arrasta com atração irresistível para sua Fonte Original. (Isso me faz lembrar os salmões, que nascem em um rio e, depois de percorrer milhares de quilômetros por todos os mares do mundo, voltam, não se sabe por que misterioso mecanismo magnético, 
ao mesmo rio em que nasceram).
Também Deus busca o homem, porque também Deus se sente atraído pelo homem, porque Deus vê sua própria figura refletida nas profundas águas humanas.
Por isso, o cruzamento ou encontro desses dois provoca o gozo típico de duas naturezas harmônicas que se encontram, e o choque típico de dois “indivíduos” diferentes.
É um encontro vivo, ou melhor, um encontro de vida, de uma vida a dois. De repente, surgem entre os mútuas, reconciliações, como na convivência normal de duas pessoas humanas. Não raro, na Bíblia, Deus acaba se aborrecendo do homem, e também o homem se cansa de Deus, e principalmente se decepciona, se confunde por seus silêncios, tardanças e ausências. O homem é tentado a deixá-lo e ir atrás de outros deuses mais gratificantes.
Mas, apesar de tudo, os dois voltam a se encontrar para continuar juntos e percorrer, um ao lado do outro, o itinerário da vida e da história. Dessa convivência na fé nasce a amizade entre os dois que, no caso dos homens de Deus,
foi e é insubornável, inquebrantável.


A Rotina

Contra todas as aparências, eu poderia afirmar que a causa radical da rotina não é a repetição. Entre duas pessoas que se querem loucamente, a frase “eu te amo” repetida mil vezes é capaz de ter mais conteúdo e vida. Cinco mil dias vividos junto da pessoa amada talvez tragam cada vez mais emoção. Dizem os biógrafos que São Francisco de Assis repetia durante a noite inteira: “Meu Deus e meu Tudo”. É provável que, ao amanhecer, a expressão tivesse para ele mais significado
que no começo da noite.
A solução profunda e o segredo verdadeiro estão sempre dentro do homem. Também a novidade, solução para a rotina, tem que vir de dentro. Uma paisagem maravilhosa, contemplada por um espectador triste, 
sempre vai ser uma triste paisagem. 
Para um melancólico, uma primavera esplêndida
é como um lânguido outono.
Afinal, o que importa é a capacidade de admiração. É essa capacidade que reveste de vida as situações reiteradas, que dá um nome novo a cada coisa. Se for a mesma coisa, percebida mil vezes, dá-lhe mil nomes diferentes. É a re-criação inesgotável. 
O problema, portanto, está dentro.
Um salmo rezado por um coração vazio é um salmo vazio, por mais acréscimos e temperos que se ajuntem. Um salmo ressoando em um coração cheio de Deus fica repleto de presença divina e, quanto mais repleto de amizade divina estiver o coração, mais se povoarão de Deus cada uma de suas palavras.
Tocamos o fundo do mistério: um coração vazio, essa é a explicação final da rotina. Para um morto, tudo está morto. Para um coração vazio, todas as palavras dos salmos estão vazias. Pois bem, como vivificar o coração justamente
com o auxilio dos salmos?
Vou propor alguns meios.


Autor: Inácio Larrañaga
Livro:Salmos para a vida

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