Revolução e Comunismo
Entre a sociedade capitalista e a sociedade comunista
medeia o período de transformação revolucionária da primeira na segunda. A este
período corresponde também um período político de transição, cujo Estado não
pode ser outro senão a ditadura revolucionária do proletariado. (MARX, s.d.; p.
220).
As reticências de Marx em relação
à democracia representativa e aos valores liberais e, principalmente, o
problemático conceito de “ditadura do proletariado”, estão diretamente
relacionados com o caráter repressivo dos regimes totalitários comunistas do
século XX que se apresentavam como a concretização das idéias marxistas e
ceifaram a vida de milhões de seres humanas.
Embora Marx estivesse
profundamente envolvido na lutas de seu tempo, ele não pôde ver os resultados
da revolução socialista pela qual tanto lutara. Aliás, depois da sua morte, o
movimento socialista se dividiu em duas correntes diferentes. Cada uma deles
apontava caminhos distintos para a construção do comunismo:
a)
socialistas revolucionários:
afirmavam que o caminho para o socialismo é a insurreição política (ou
revolução);
b)
socialistas
reformistas ou social-democratas: afirmavam que o caminho para o socialismo
é a democracia e um conjunto de reformas econômicas e sociais graduais.
Os socialistas revolucionários se
organizaram em torno da III Internacional e forma os responsáveis pela primeira
revolução socialista do mundo: a Revolução Russa de 1917. Liderada por Lenin
(1870-1924) e Trotsky (1879-1940), a revolução bolchevique representou a
principal tentativa de suprimir o capitalismo, substituindo-o por outro sistema
econômico. Todavia, a primeira grande experiência de “socialismo real”
mostrou-se apenas como uma ditadura totalitária com economia estatizada, cujos
elementos autoritários foram exacerbados sob a liderança de Josef Stalin
(1879-1953), eliminando a vida de milhões de pessoas. As contradições na URSS
(União das Repúblicas socialistas Soviéticas) acabaram levando ao fim do
comunismo (a partir da queda do Muro de Berlim, em 1989) e provocaram um
profundo questionamento sobre os limites teóricos e as conseqüências sociais e
políticas trágicas que derivaram da tentativa de concretização dos ideais
políticos de Marx.
Já os socialistas
social-democratas optaram por participar das eleições. Com partidos operários
fortes e com sólida vinculação com os sindicatos chegaram ao poder.
Introduzindo reformas graduais, mas profundas, eles achavam que podiam alterar
o capitalismo e construir o socialismo sem rupturas violentas. Ao longo do
século XX, além de aceitarem a democracia representativa como único método
legítimo de disputa do poder político, os partidos social-democratas
abandonaram o socialismo como ideal e concentraram-se na melhoria da vida dos
trabalhadores mediante a institucionalização dos direitos sociais e regulação
dos mercados através do chamado Estado de Bem-estar Social (Welfare State).
Livro: Sociologia Clássica
Autor: Carlos Eduardo Sell
Nenhum comentário:
Postar um comentário