Carpe
Diem
A expressão carpe diem voltou a repercutir
após a morte do ator americano Robin Williams, na segunda-feira. Uma livre
tradução poderia ser aproveite o
momento, uma conclamação à vida feita de incertezas. “... colha o dia de hoje e
confie o mínimo possível no amanhã”, aconselhava o poeta latino Horácio (Livro
1 de Odes).
Carpe Diem é o que o professor
interpretado por Robin Williams no filme Sociedade dos Poetas Mortos (1989), de
Peter Weir, sussurra na primeira aula de literatura inglesa a uma turma de
garotos de uma escola tradicional, na década de 50 do século passado.
Na famosa cena, Keating, o
professor, indica a leitura da estrofe “apanha os botões de rosa enquanto podes”
e em seguida comenta o significado desse apelo. “Porque somos pasto para os
vermes, rapazes. Acreditem ou não, todos nós nesta sala um dia vamos deixar de
respirar, vamos ficar frios e morrer”.
Em seguida, convida-os a observar
a foto antiga de ex-alunos que um dia também tiveram “olhos cheios de esperança”.
O que fizeram disso? O mestre conclama: “Tornem suas vidas extraordinárias”.
A mensagem é de aceitar, sedento,
o agora e não se intimidar com a individualidade dos desejos e sonhos, porque
nela estão seu canto e força maiores. Tornar a poesia aliada de uma busca
apaixonada, criativa, amorosa. Reconhecer que o tempo é fugidio, que o futuro
escapa. Livrar-se do peso excessivo de regras e convenções que dão segurança e
garantias enquanto roubam a alegria das descobertas e engessam o ser.
Tal proposta nada tem a ver com o
convite a um prazer imediato e sem fim,
ilusão ardilosa que enreda os desesperados. Ao contrário, segue amparada pela
esperança de que vale a pena, mesmo com tropeços e dores, existir, resistir,
transformar. O extraordinário da vida não precisa estar em grandes feitos e prêmios
com aplausos mundiais, mas na constatação íntima de estar sendo fiel a si
mesmo. Simples, embora nada fácil. São tantas as encruzilhadas pelo caminho a
nos confundir com insegurança, medo, equívocos, distrações, que muitas vezes,
frágeis, decidimos por trilhas infelizes ou apenas paramos, imóveis, reféns da
indecisão. E o tempo não perdoa.
Carpe Diem é apreciar o presente possível,
mesmo almejando mais, para que não seja a promessa uma condenação ao
adiantamento eterno do que se poderia experimentar hoje. É ter lembranças sem
idealizar que perfeito era o passado, porque reconstruído pelo filtro
tendencioso das memórias.
Carpe Diem é abraço de quem mais
se ama, flor nova no jardim, superlua brilhando no céu limpo do Cerrado na
seca, recompensa ao esforço de aprender e se reinventar, conquista por mérito,
compaixão, música, dança, comida temperada pela vontade de agradar, palavra
sincera, encontros e reencontros...
Os embates virão, inimigo
silencioso que nos consome ou fatalidade que não permite defesa. É certo que do
sofrimento ninguém está completamente livre e que chegará a hora de ter de
partir ou nos despedir para sempre de
quem se foi. Mesmo cientes dessa perigosa aventura humana, sigamos. Carpe Diem.
Autora: Karla Jaime
Jornal o Popular

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