14 de ago. de 2014



Carpe Diem


A expressão carpe diem voltou a repercutir após a morte do ator americano Robin Williams, na segunda-feira. Uma livre tradução poderia ser aproveite o momento, uma conclamação à vida feita de incertezas. “... colha o dia de hoje e confie o mínimo possível no amanhã”, aconselhava o poeta latino Horácio (Livro 1 de Odes).
Carpe Diem é o que o professor interpretado por Robin Williams no filme Sociedade dos Poetas Mortos (1989), de Peter Weir, sussurra na primeira aula de literatura inglesa a uma turma de garotos de uma escola tradicional, na década de 50 do século passado.
Na famosa cena, Keating, o professor, indica a leitura da estrofe “apanha os botões de rosa enquanto podes” e em seguida comenta o significado desse apelo. “Porque somos pasto para os vermes, rapazes. Acreditem ou não, todos nós nesta sala um dia vamos deixar de respirar, vamos ficar frios e morrer”.
Em seguida, convida-os a observar a foto antiga de ex-alunos que um dia também tiveram “olhos cheios de esperança”. O que fizeram disso? O mestre conclama: “Tornem suas vidas extraordinárias”.
A mensagem é de aceitar, sedento, o agora e não se intimidar com a individualidade dos desejos e sonhos, porque nela estão seu canto e força maiores. Tornar a poesia aliada de uma busca apaixonada, criativa, amorosa. Reconhecer que o tempo é fugidio, que o futuro escapa. Livrar-se do peso excessivo de regras e convenções que dão segurança e garantias enquanto roubam a alegria das descobertas e engessam o ser.
Tal proposta nada tem a ver com o convite a um prazer imediato  e sem fim, ilusão ardilosa que enreda os desesperados. Ao contrário, segue amparada pela esperança de que vale a pena, mesmo com tropeços e dores, existir, resistir, transformar. O extraordinário da vida não precisa estar em grandes feitos e prêmios com aplausos mundiais, mas na constatação íntima de estar sendo fiel a si mesmo. Simples, embora nada fácil. São tantas as encruzilhadas pelo caminho a nos confundir com insegurança, medo, equívocos, distrações, que muitas vezes, frágeis, decidimos por trilhas infelizes ou apenas paramos, imóveis, reféns da indecisão. E o tempo não perdoa.
Carpe Diem é apreciar o presente possível, mesmo almejando mais, para que não seja a promessa uma condenação ao adiantamento eterno do que se poderia experimentar hoje. É ter lembranças sem idealizar que perfeito era o passado, porque reconstruído pelo filtro tendencioso das memórias.
Carpe Diem é abraço de quem mais se ama, flor nova no jardim, superlua brilhando no céu limpo do Cerrado na seca, recompensa ao esforço de aprender e se reinventar, conquista por mérito, compaixão, música, dança, comida temperada pela vontade de agradar, palavra sincera, encontros e reencontros...
Os embates virão, inimigo silencioso que nos consome ou fatalidade que não permite defesa. É certo que do sofrimento ninguém está completamente livre e que chegará a hora de ter de partir ou nos despedir  para sempre de quem se foi. Mesmo cientes dessa perigosa aventura humana, sigamos. Carpe Diem.

Autora: Karla Jaime
Jornal o Popular

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