POLÍTICA


Protestos despertaram Brasil para realidade, diz sociólogo francês

Os atuais protestos em várias cidades brasileiras resultam do fato de que os brasileiros "caíram na realidade", na avaliação do sociólogo francês Alain Touraine, especialista em América Latina e autor de inúmeros livros sobre movimentos sociais.

"A situação (econômica e social) no Brasil vinha sendo descrita de maneira exageradamente cor-de-rosa", disse o sociólogo em entrevista à BBC Brasil.
Para ele, os protestos aproximaram a imagem que se tinha do Brasil da realidade do país.

"Construiu-se uma imagem do Brasil em que tudo vai bem e que o país se dirige rapidamente em direção ao crescimento e ao bem-estar", disse ele. "Fico feliz ao ver que o que acontece atualmente no Brasil corresponde melhor à realidade do país do que as imagens que vinham sendo transmitidas", afirmou.
"É ridículo ter a imagem de que há sucesso em todas as áreas, sobretudo em um país como o Brasil, onde as instituições são fracas e a corrupção é profunda", disse Touraine, que foi professor do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Ele disse que em uma comparação com o México, por exemplo, apesar de este país ter vários indicadores econômicos e sociais mais positivos, é o Brasil que possui a imagem de país "onde tudo vai bem".
O sociólogo definiu os movimentos de protestos no Brasil como a "quebra da esperança", um sentimento de "decepção, que cria uma situação favorável ao descontentamento".
"Quando há crescimento econômico e ele diminui, como é o caso do Brasil, isso representa exatamente o bom momento para protestar", disse ele.
"O balanço da situação brasileira é bom. Mas o país sofre desigualdades e benefícios do desenvolvimento são muito mal distribuídos", afirmou.
"O Brasil ainda está muito longe de ter um nível de distribuição de renda aceitável".
Nível baixo de vida
O balanço da situação brasileira é bom. Mas o país sofre desigualdades e benefícios do desenvolvimento são muito mal distribuídos.Alain Touraine, sociólogo
De acordo com Touraine, os protestos no Brasil demonstram "um sentimento real, justificado, de que o nível de vida é muito baixo".
E também, acrescentou, "o sentimento de que se constituiu, estranhamente, no topo do poder, um mundo de riquezas."
"A pobreza, que permanece imensa, é sacrificada em benefício do espetáculo", disse ele, se referindo aos gastos "gigantescos" com as obras da Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, que geraram protestos "no país do futebol".
Mas Touraine ressaltou que os protestos no Brasil não assumiram, "pelo menos até o momento", uma forma política, com o objetivo de derrubar o governo, como ocorreu nas revoluções nos países árabes.
"O caso brasileiro é um pouco atípico. As reivindicações econômicas e sociais são, pelo menos aparentemente, mais importantes do que os protestos ou ataques puramente políticos", afirmou.
"Não há um furor pela democracia no Brasil como ocorreu, por exemplo, na praça Tiananmen, em Pequim. Em vários países os protestos se concentraram contra um ditador", disse Touraine à BBC Brasil.
"No caso do Brasil, não acredito que os protestos representem uma ameaça política contra o governo atual. Mas é possível que a situação evolua. Hoje, não posso dizer que o movimento seja voltado contra Dilma Roussef".

Autor: Daniela Fernandes


Vai faltar água, vai faltar luz, mas sobra

 indignação


A frase do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, já faz parte de qualquer antologia dos despautérios de autoridades que pouco têm a dizer quando apresentadas a problemas incontornáveis, que lhes parecem alheios.
Disse ele, depois do apagão de segunda-feira passada na Região Sudeste: "Deus é brasileiro. Temos de contar que ele vai trazer um pouco de umidade e chuva para que possamos ter mais tranquilidade". Para seu azar, como numa comédia insossa, em meio à entrevista aos jornalistas as luzes do auditório em Brasília se apagaram. Braga fez tudo errado ao apelar para Deus, e só alimentou as críticas de quem, com razão, se vê à beira do abismo e rapidamente põe a culpa nas autoridades. Houve lerdeza, leniência e inépcia públicas, mas é fácil atribuir o drama de abastecimento de água e luz apenas à falta de planejamento. Não se trata de absolver o governo de São Paulo no caso da escassez de água e o federal no da pane elétrica da semana passada, mas convém lembrar que nem tudo pode ser antecipado, que variações climáticas como as dos dois últimos verões são pontos extraordinariamente fora da curva. A previsão sazonal de chuvas pode ser feita em poucas regiões do planeta — basicamente apenas onde a meteorologia é condicionada pelas variações dos oceanos. Não é o caso do Sudeste brasileiro.
Dado que pedir socorro divino é inócuo, para não dizer inconcebível, e a ciência não pode tudo, um caminho é admitir que houve fracasso e que, infelizmente, a população terá de pagar a conta — postura que muitos brasileiros, solidários e conscientes da crise hídrica, já exercitam, economizando como podem, com algum orgulho cívico. Jerson Kelinan, presidente da Sabesp, a empresa responsável pelos serviços de saneamento básico de São Paulo, admitiu que "não é sensato brigar com os fatos".
Em artigo para a Folha de S.Paulo, ele distribuiu sinceridade, produto mais escasso que água desde janeiro de 2014, quando se começou a falar do nível baixo dos reservatórios. "A Sabesp pode ser forçada a fazer racionamento se não chover nos lugares certos e nas quantidades necessárias. Na atual crise, a empresa não tem como prestar o serviço como se a situação fosse de normalidade", escreveu Kelman. Não é — e não será — de normalidade, nem mesmo pedindo ajuda a Deus. As agruras que vão se abater sobre os brasileiros nos próximos meses exigirão tolerância, colaboração e engenhosidade de todos — só indignação é pouco, como anota a Carta ao Leitor desta edição. Nas próximas páginas, VEJA esmiúça os impactos do duplo a pagão, de água e luz no cotidiano do país.
Autoras: Mariana Barros e Jennifer Ann Thomas
Revista: Veja 


 A comissão da Verdade produziu um amontoado de idiotices (desculpem, não existe outro termo par ao fato de ter relacionado Castello Branco como torturador) que não resistem à mínima lógica. Suas conclusões são parciais e revanchistas. O fato que vou contar, apesar de não ter tido a autorização do outro protagonista, pelo seu caráter tenho certeza de que ele nada teria a opor. Tive a oportunidade de compor tripulação na rede postal noturna com o engenheiro de vôo filho do capitão Lamarca. Um profissional muito bom. Em um dos pernoites, durante uma conversa, ele me perguntou o que achava de seu pai. Respondi-lhe que um dia a história iria julgar seu pai pela morte do tenente PM Alberto Mendes Júnior a coronhadas. Ele então me disse que havia sugerido a sua família pedir desculpas à família do tenente, mas fora voto vencido. Disse-lhe que lamentava não o terem feito, o que teria sido muito importante para a reconciliação e consolidação da Lei da Anistia. Esses são fatos que uma comissão em busca da verdade, e não de reescrever a história pela ótica da ideologia comunista, deveria pesquisar. Quem tem Lula como mentor, porém, não consegue entender isso.
Revista VEJA
Autor: Marcelo Hecksher




Sempre à espreita

Como dilema moral de primeira grandeza, a tortura é uma ameaça constante à civilização, mas é um engano supor que seus ressurgimentos esporádicos decorram de um primitivismo residual.

As 4 328 páginas do relatório final da Comissão Nacional da Verdade sobre crimes cometidos durante o regime militar somadas às 528 páginas do relatório do senado americano sobre o papel da CIA na guerra ao terrorismo islâmico encerram uma verdade ao mesmo tempo dramática e alentadora. Mostram que a tortura é uma chaga insistente, sempre à espreita para dar o bote, seja na ditadura brasileira, seja na democracia americana, mas o antídoto contra seus ressurgimentos esporádicos é exatamente o que se fez em Brasília e em Washington na semana passada: lembrar e denunciar.
Lembrar, como foi feito no Brasil, com a divulgação de um compêndio que não traz fatos novos significativos, mas consolida o que talvez seja o mais completo documento sobre a ditadura. E denunciar, como ocorreu nos EUA, com a divulgação parcial do trabalho de cinco anos do comitê de inteligência do senado. O documento traz um quadro desastroso da CIA, acusada de torturar suspeitos da Al Qaeda e superfaturar os resultados obtidos com os suplícios — entre os quais incluía-se a "alimentação retal", que, num dos casos, consistia de "homus, macarrão com molho, nozes e uva-passa, tudo liquidificado e introduzido retalmente". Alimentação retal não nutre ninguém. Era usada apenas para maltratar e, como informa o relatório, exercer "controle total sobre o detento".
Na sua história ocidental, a tortura começou como instrumento legal. Era parte do sistema jurídico. Havia tortura no Egito dos faraós, na Grécia antiga, na Roma imperial. Na Europa medieval, era usada nos julgamentos. O que o réu dizia sob tortura servia para condená-lo ou absolvê-lo. No século XVIII, um movimento contra a tortura tomou vulto. A Escócia aboliu-a em 1708. A França, em 1790. No século seguinte, a prática estava banida em quase toda a Europa. Humanista empolgado com o avanço da época, o escritor Victor Hugo declarou em 1874: "A tortura deixou de existir". Só que não demorou a voltar à Europa e suas colônias até reinstalar-se por completo.
A Alemanha hitlerista torturava. A União soviética dos expurgos de Stalin torturava. No fim da II Guerra Mundial, renasceu a indignação contra a brutalidade da tortura, aplicada com ou sem respaldo legal. Indiferente à indignação, o Exército da França torturava rebeldes na guerra da Argélia (1954-1962).
A ditadura grega (1967-1974) torturava. As ditaduras latino-americanas torturavam. Mais uma vez, porém, a repulsa à tortura foi ganhando terreno até que a organização das Nações Unidas, depois de uma série de declarações e códigos, aprovou uma convenção contra a tortura em 1984 — enfim, esse tormento estava banido de forma inequívoca e universal, e sob qualquer circunstância. Era o fim da história.
Mas a tortura voltou depois dos atentados terroristas de 2001 nos Estados Unidos. Diante desse ciclo, é fácil supor que a humanidade retém um resíduo de primitivismo, que impede o banimento definitivo dessa prática brutal. Edward Peters, autor do clássico Tortura, explica que a retomada da tortura se acelerou no século XX quando crimes políticos passaram a ser concebidos quase do mesmo modo como crimes comuns eram concebidos no passado. Com a mudança, juristas e agentes do Estado voltaram a reviver na necessidade das confissões — a chamada "rainha das provas" — dificuldades semelhantes às vividas por juristas na Europa medieval. O retorno da tortura é consequência do novo funcionamento do Estado moderno, e não de uma réstia de barbárie que carregamos oculta dentro de nós. Dito de outro modo: a tortura nasceu — e nasce — do poder, não da maldade.
Em boa medida, as ressurreições e mortes da tortura decorrem da noção de que se trata de um método rápido e eficaz. Com a tortura, arranca-se a confissão sem demora. Obviamente, submeter um ser humano à dor física funciona, mas nem de longe tem a eficácia apregoada. Os agentes da CIA recorreram à tortura logo depois dos atentados de 2001. Torturaram na prisão iraquiana de Abu Ghraib, mas arrancaram apenas o repúdio internacional e uma mancha na honra americana. Osama bin Laden só foi encontrado em 2011, uma década depois da rendição à tortura, demora que não ajuda a conferir eficácia à prática. Segundo o relatório do Senado, a descoberta do paradeiro do terrorista não veio de depoimentos feitos sob tortura. Aliás, o documento empenha-se em mostrar que as informações obtidas com simulação de afogamento, privação do sono por até uma semana ou a tal "alimentação retal" não eram, em geral, confiáveis, nem úteis. Sob tortura, confessa-se qualquer coisa, não apenas a verdade. Nas torturas da Inquisição, as bruxas confessavam conspirar com o demônio.
A proposição mais corriqueira para demonstrar que a tortura não deve ser um interdito absoluto está no velho dilema da bomba-relógio. Segue-se assim: terroristas espalharam bombas-relógio pela cidade e um suspeito preso recusa-se a dizer onde estão as bombas, e milhares de inocentes podem morrer. O dilema: tortura-se o suspeito ou arrisca-se o massacre de inocentes? A resposta é fácil, mas o segredo é outro: a proposição é formulada de modo a legitimar a tortura. O cenário construído tem muitos pressupostos — As bombas foram mesmo espalhadas? o suspeito realmente sabe onde estão? Torturado, ele contará a verdade? A informação permitirá a desativação das bombas? É feito para legitimar a tortura e, sobretudo, torná-la inimputável. Qualquer pai ou mãe torturaria para salvar seu filho. A diferença é que todos, ou quase todos, os pais e mães também assumiriam as consequências e se disporiam a sentar no banco dos réus de qualquer tribunal. Provavelmente, seriam absolvidos. A tortura teima em reaparecer mesmo em nações que se enxergam como moralmente superiores. Como dificultar a ressurreição da tortura? Institucionalmente, estabelecer que nenhuma justificativa pode aliviar o peso moral. No plano individual, quem a praticar que assuma as consequências.

Revista Veja
Autor: André Petry
 







A comissão da Verdade produziu um amontoado de idiotices (desculpem, não existe outro termo par ao fato de ter relacionado Castello Branco como torturador) que não resistem à mínima lógica. Suas conclusões são parciais e revanchistas. O fato que vou contar, apesar de não ter tido a autorização do outro protagonista, pelo seu caráter tenho certeza de que ele nada teria a opor. Tive a oportunidade de compor tripulação na rede postal noturna com o engenheiro de vôo filho do capitão Lamarca. Um profissional muito bom. Em um dos pernoites, durante uma conversa, ele me perguntou o que achava de seu pai. Respondi-lhe que um dia a história iria julgar seu pai pela morte do tenente PM Alberto Mendes Júnior a coronhadas. Ele então me disse que havia sugerido a sua família pedir desculpas à família do tenente, mas fora voto vencido. Disse-lhe que lamentava não o terem feito, o que teria sido muito importante para a reconciliação e consolidação da Lei da Anistia. Esses são fatos que uma comissão em busca da verdade, e não de reescrever a história pela ótica da ideologia comunista, deveria pesquisar. Quem tem Lula como mentor, porém, não consegue entender isso.


Revista VEJA

Autor: Marcelo Hecksher
 
Dicas do Zé Modesto


1. Não deixe de assistir o horário político na TV. Talvez seja a única oportunidade de você ver os políticos brasileiros em cadeia nacional.

2. Quando olho meu título de eleitor, entendo o verdadeiro significado de "Zona Eleitoral".

3. Um dos primeiros presidentes do Brasil foi o Prudente de Morais. Daí pra frente tivemos um monte de presidentes imprudentes e imorais.

4. A única diferença entre o político e o ladrão é que o primeiro a gente escolhe, e o segundo escolhe a gente. 

5. A nova capital do Brasil mudo de nome: de Brasília para Quadrilha.

6. E que, achou ruim e quiser fazer uma denúncia, segue o e-mail do planalto. O novo e-mail do governo é: planalto@lheira.gov.br
 

PROPINA EM DOMICÍLIO


Money delivery: Acompanhado de seus advogados, Rafael Ângulo Lopez (à esq.) negocia um acordo de delação premiada com a Justiça. Durante anos, ele distribuiu dinheiro desviado da Petrobras a “clientes” famosos do esquema de corrupção.
Depois de tantas revelações sobre engenharias corruptas complexas de sobrepreços, aditivos, aceleração de obras e manobras cambiais engenhosas, a Operação Lava-Jato produziu agora uma história simples e de fácil entendimento. Ela se refere ao que ocorre na etapa final do esquema de corrupção, quando dinheiro vivo é entregue em domicílio aos participantes. Durante quase uma década, Rafael Ângulo Lopez, esse senhor de cabelos grisalhos e aparência frágil da fotografia acima, executou esse trabalho. Ele era o distribuidor da propina que a quadrilha desviou dos cofres da Petrobras. Era o responsável pelo atendimento das demandas financeiras de clientes especiais, como deputados, senadores, governadores e ministros. Braço-direito do doleiro Alberto Youssef, o caixa da organização, Rafael era “o homem das boas notícias”. Ele passou os últimos anos cruzando o país de Norte a Sul em vôos comerciais com fortunas em cédulas amarradas ao próprio corpo sem nunca ter sido apanhado. Em cada cidade, um ou mais destinatários desse Papai Noel da corrupção o aguardavam ansiosamente.
Os vôos da alegria sempre começavam em São Paulo, onde funcionava o escritório central do grupo. As entregas de dinheiro em domicílio eram feitas em endereços elegantes de figurões de Brasília, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Maceió, São Luís. Eventualmente ele levava remessas para destinatários no Peru, na Bolívia e no Panamá. Discreto, falando só o estritamente necessário ao telefone, não deixou pistas de suas atividades em mensagens ou diálogos eletrônicos. Isso o manteve distante dos olhos e ouvidos da Polícia Federal nas primeiras etapas da operação Lava-Jato. Graças à dupla cidadania — espanhola e brasileira —, Rafael usava o passaporte europeu e ar naturalmente formal para transitar pelos aeroportos sem despertar suspeitas. Ele cumpria suas missões mais delicadas com praticamente todo o corpo coberto por camadas de notas fixadas com fita adesiva e filme plástico, daqueles usados para embalar alimentos. A muamba, segundo ele disse à polícia, era mais fácil e confortável de ser acomodada nas pernas. Quando os volumes era muito altos, Rafael contava com a ajuda de dois ou três comparsas.
A rotina do trabalho permitiu que o entregador soubesse mais do que o recomendável sobre a vida paralela e criminosa de seus clientes famosos, o que pode ser prenúncio de um grande pesadelo. É que Rafael tinha uma outra característica que poucos sabiam: a organização. Ele anotava e guardava comprovantes de todas as suas operações clandestinas. É considerado, por isso, uma testemunha capaz de ajudar a fisgar em definitivo alguns figurões envolvidos no escândalo da Petrobras. VEJA apurou que o entregador já se ofereceu para fazer um acordo de delação premiada, a exemplo do seu ex-patrão.
Entre os políticos que recebiam a grana em mãos estão João Vaccari Neto, tesoureiro do PT; o senador Fernando Collor (PTB-AL); Roseana Sarney (PMDB), que acaba de renunciar ao governo do Maranhão; o ex-ministro das Cidades Mário Negromonte (PP); o deputado Luiz Argôlo (SD-BA);  o deputado Nelson Meurer (PP-PR) e o deputado cassado André Vargas (PR), chefão do PT até outro dia.

                                                                                               Autor: Robson Bonin e Hugo Marques




A fraude fiscal de Dilma

A tumultuada votação no congresso Nacional na quinta-feira serviu para anistiar a presidente Dilma Rousseff (PT) por um crime que ela praticou contra a população. De forma intencional, ela escondeu a realidade durante todo o processo eleitoral: nossa conta não fecha. A economia de fantasia vendida na eleição acabou. Hora de enfrentar a realidade.
O projeto de Lei (PLN) 36, que altera a forma de cálculo do superávit primário, vai anular a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Essa lei impõe aos governantes limites em gastos veiculados a arrecadação. O seu descontrolo significa a mola alavancadora do tão temido processo inflacionário.
E o mais grave: abre precedente para que outros governante copiem esta fraude fiscal, como tão rapidamente já vemos ocorrer em nosso Estado. Por aqui, projeto enviado à Assembleia modifica o resultado primário das contas do Estado de 2014, de um superávit de R$ 440 milhões para um déficit de R$650 milhões.
Um cidadão me disse há alguns dias: “Deputado, essa lei que a Dilma quer mudar é a lei que segura a inflação”. Ele resumiu bem. Dilma ao não cumprir o Orçamento e ao rasgar a Lei de Responsabilidade Fiscal, faz com que o brasileiro volte a conviver com uma das piores chagas de nossa história. E que atinge principalmente os cidadãos de até cinco salários mínimos.
O mais grave foi que, uma vez cometido o crime, era preciso apagar suas digitais. Mas como fazer isto? Encaminhando ao Congresso Nacional esse projeto de lei que modifica, nas últimas horas do fechamento do ano, as regras de Orçamento. Transferindo para a população brasileira a responsabilidade de pagar por sua incompetência e por sua anuência com o processo de corrupção e de loteamento da máquina pública.
Isso só foi possível na votação de quinta-feira porque ela fez o Congresso Nacional um balcão de negócios. Distribuiu ministérios para o alto clero dos partidos da base e, para o baixo clero, publicou um decreto transferindo para cada deputado federal e senador R$ 444 milhões em emendas parlamentares. Criou-se então, como ficou apelidado no Parlamento, o “Bloco 748”, ou seja, grande parte da bancada governista chamada pelo valor que cada parlamentar vai receber em emendas: R$ 748 mil.
Em resumo: Dilma quebrou o País, corrompeu a máquina pública, loteou os ministérios, praticou fraude eleitoral, e, em vez de ser condenada, usou o Congresso Nacional para passar uma borracha em todos os seus crimes. Mas ela cometeu um grave erro: hoje com as redes sociais o brasileiro sabe como cobrar. O desrespeito à população fez com que aflorasse uma consciência política. Os brasileiros estão se movimentando em reação a esse estelionato eleitoral. Está finalmente exposta a radiografia real do País e não há mais como fingir que o País está bem. E o PLN 36, em resumo, é o atestado do crime.
                                                                                                                      Autor: Ronaldo Caiado
  



 "Domínio dos fatos"
Veemente nos termos e implacável na objetividade, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, não deixou margem a dúvida ao defender, na abertura de Conferência Internacional de Combate à Corrupção, punições com ênfase a "todos, todos os envolvidos" no escândalo da Petrobras.
O procurador não cita nomes; nem seria ainda o momento, tampouco é necessário que o faça, uma vez que a referência é muito clara em relação à impossibilidade de o governo seguir tentando desconhecer a real dimensão do estrago. Diante de um quadro de "gestão desastrosa", a atitude correta seria o afastamento desses gestores e a imediata colaboração dos responsáveis pela companhia com as investigações do Ministério Público.
O mundo jurídico nunca foi tão explícito ao falar sobre a corrupção no País. Outro dia mesmo ouvimos de ministros do Superior Tribunal de Justiça a constatação sobre a existência de "roubalheira" desenfreada.
Agora é o procurador-geral da República - e não um líder de oposição a quem se possa apontar como arauto do golpismo ou do terceiro tempo eleitoral - quem se diz envergonhado por o Brasil ainda ser um País "extremamente corrupto". Apontou que a resposta "àqueles que assaltaram a Petrobras" será firme e que a Justiça não dará descanso enquanto não houver punição a "todos".

Cobrou do governo decreto que regulamenta a Lei Anticorrupção em vigor desde o início do ano. Esse mesmo governo que dias atrás editou decreto de lei ainda a ser aprovada (da meta fiscal) apenas para poder embutir no texto a promessa de liberação de emendas parlamentares se o projeto fosse aprovado.

Em seguida à manifestação do procurador, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, convocou entrevista para rebater Rodrigo Janot. Posicionou-se de modo ambíguo. Ao mesmo tempo em que se referiu à existência de "fortes indícios" de corrupção, negou com segurança quaisquer indícios contra a direção da companhia que, segundo ele, tudo tem feito para ajudar as investigações.

Não foi o que vimos, desde o início desse rumoroso caso. Na conduta de ex-diretores, atuais dirigentes da estatal, ministros, ex-presidente da República e a atual ocupante do cargo. Todos atuaram para "blindar" a companhia e atribuir denúncias a armações políticas. Houve resistência do envio de documentos ao Tribunal de Contas da União, mentiras diante das comissões de inquérito do Congresso e repetidas declarações de que nada havia de errado nos negócios da Petrobras.
Nessas garantias se inclui o aval da presidente da República em setembro último: "Se houve alguma coisa, e tudo indica que houve, eu posso garantir que todas as sangrias estão estancadas". Estava dizendo que tinha o domínio dos fatos.
Há uma hora em que os governantes não podem mais se fingir de surdos. Diante do clamor cada vez mais ensurdecedor da Justiça, a hora é essa. Antes que passe da hora.
Ilegal, e daí? A construtora Camargo Corrêa contratou José Dirceu para prestar serviços de análise de "aspectos sociológicos e políticos do Brasil" e dar palestras e conferências internacionais sobre a "integração dos países da América do Sul", entre maio de 2010 e fevereiro de 2011, conforme revelaram documentos encontrados nas investigações da Operação Lava Jato.
Há nessa e em outras contratações um aspecto a ser ressaltado: o fato de o contratado como consultor constar como réu de ação penal (470) em tramitação no Supremo Tribunal Federal desde 2007, acusado pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha.
Qual a razão de empresas contratarem uma pessoa a respeito da qual pesavam tão graves acusações para representá-las em eventos nacionais e intencionais?
Hipóteses: 1. Absoluta indiferença aos marcos da legalidade; 2. Convicta confiança na impunidade; 3. Contratos de fachada para acobertar "serviços" de tráfico de influência.
Autora: Dora Kramer

 Lula e Dilma ganham tempo 



Se você acredita que Dilma Rousseff e Luiz Inácio da Silva estão dando grande importância aos reclamos de petistas indignados com a virada na economia ou às críticas de “estelionato” feitas pela oposição devido aos atos contrários às palavras ditas na campanha, é porque não está com a memória em dia.
Não lembra que há 12 anos o PT percebeu que para chegar ao poder, e nele conseguir se manter, seria indispensável abrir mão da coerência e aderir sem restrições ao mais absoluto pragmatismo? Sob todos os aspectos. Para o bem e para o mal. A parte boa disse respeito à economia. Como agora. Não faz muito tempo o ex-presidente Lula andou dizendo que assinou contrariado a Carta aos Brasileiros.
Pois sim. Foi a fiança que o permitiu se eleger, governar e ser celebrado pelo bom senso de ter esquecido tudo o que o PT tinha escrito e dito anteriormente. O país não lhe cobrou satisfações. Ao contrário, respirou de alívio. E, na ocasião, deixou barato o fato de aquele bom legado ser chamado de “herança maldita”.
Houve aqui e ali inquietações. Inesquecível o dia em que, logo no início do governo, o marqueteiro recentemente vitorioso, Duda Mendonça, diante da indagação sobre a aparente contradição de ter feito uma campanha baseada na promessa de mudança da política econômica saiu-se com esta: “E você (esta aqui que vos fala) quer mudança maior do que essa?”. Ou seja, mudando de posição estava cumprida a promessa.
Mas quase ninguém estava ligando para esse tipo de detalhe. Quando veio a adesão do governo à reforma da Previdência (setor público) que tanto combatera enquanto oposição, tampouco me esqueço. Cobrado, o então chefe da Casa Civil, José Dirceu, em entrevista ao Estado, respondeu secamente que o governo não devia explicações.
Um dos únicos a reconhecer que seria necessário o partido ao menos fazer uma autocrítica, a fim de rever posições, reconhecer os erros do passado e tocar a vida em frente com transparência foi Aloizio Mercadante. Falou no assunto só uma vez e calou-se para sempre. Já um grupo de deputados e militantes continuou inconformado e logo deixou o partido. Daí surgiu o PSOL, embora nem todos tenham aderido ao projeto.
Como também a crítica não era só essa. Incluía a exacerbação do pragmatismo nas alianças feitas com figuras notórias da pior qualidade, em nome de uma política que segundo Lula, ainda na Presidência, dizia ser a única possível de ser exercida no país. Resumiu à época numa frase: “No Brasil, Jesus teria de fazer aliança com Judas”.
E assim foi o partido perdendo-se em seus desvãos, dando o dito pelo não dito, desqualificando a crítica, a oposição e até mesmo a opinião dos seus. Até que uma voluntariosa tentativa de volta às origens na área econômica juntou-se à vocação autoritária e o governo da presidente Dilma Rousseff quase pôs ao chão o projeto de poder.

Autora: Dora Kramer

  O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,deixa-que-digam-imp-,1600843

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"O ônus da vitória"

Ainda que o governo não tenha conseguido votar, e aprovar, ontem no plenário do Congresso o projeto de lei que o livra da responsabilidade de cumprir a meta de gastos seu objetivo será alcançado amanhã ou depois. Questão numérica: o Planalto tem maioria e a base governista - com destaque para o maior e mais problemático partido, o PMDB - decidiu que o tema e o momento não são adequados para o tradicional jogo de estica e puxa quando há cima de tensão (como é o caso) entre Executivo e Legislativo.
Muito fácil concluir que deputados e senadores aliados disseram "sim" ao texto do relator Romero Jucá na votação, segunda-feira, na Comissão Mista de Orçamento em troca de cargos em ministérios ou liberação de verbas de emendas. Ocorre que não há postos para satisfazer a todos nem dinheiro para distribuir, conforme admitido pelo conteúdo das recentes medidas, inclusive dessa ora em pauta.
Qual a razão, então, de suas excelências ficarem assim tão comportadas? Uma só: não tinham para onde correr. Ou aprovavam a mudança na Lei de Diretrizes Orçamentárias ou o governo pararia de fazer repasses a Estados e municípios e pagar contratos com empresas. Além disso, deixariam a presidente Dilma Rousseff sujeita a mais dia menos dia vir a responder por crime de responsabilidade.
Tudo isso serviu de pressão sobre os parlamentares que receberam telefonemas de prefeitos, governadores, empresários e fizeram a seguinte conta: o estrago já está feito, as contas públicas foram para o espaço, a credibilidade do governo foi ao chão. Interna e externamente. Então, a única coisa a fazer seria engolir o sapo, explicar à consciência (para os que dispõem do equipamento) que o ato é pelo bem do Brasil e dar a mudança da lei de presente ao Planalto.
Não o fizerem, porém, sem ônus. Durante toda a sessão da Comissão de Orçamento, ouviram a oposição lhes dizer umas boas verdades: que aquele projeto representava uma transgressão legal, sua aprovação o aval do Congresso a ilegalidade, que a base parlamentar governista era fisiológica, submissa, vendida e fiadora de uma trapaça engendrada pelo Poder Executivo para esconder sua irresponsabilidade no trato do dinheiro público.
Sobre a presidente Dilma falou-se de tudo: impeachment, desgoverno, estelionato eleitoral. E os integrantes dos partidos de sua base aliada calados. Das 20h até pouco mais de meia-noite a pancadaria transcorreu pesada e sem defesa. Motivo alegado: havia urgência para a aprovação do Congresso e, se os governistas respondessem à oposição, perderiam tempo. Uma verdade pela metade. Sangue frio tem limite. A menos que se sabia perfeitamente o quanto é indefensável o que se defende. É quando entra em cena e fala mais alto para calar mais fundo o constrangimento.
Passo a passo. Outra razão para o PMDB se aliar ao Planalto na extinção da meta do superávit fiscal de 2014: não jogar a candidatura do deputado Eduardo Cunha à Presidência da Câmara no campo explícito da oposição.
Não que isso vá convencer o governo de que Cunha seria, no exercício do cargo, um aliado incondicional. Apenas para não dar pretexto para que os tratores do Executivo comecem a funcionar desde já.
De outro lado, há um problema se o governo interferir com muita força: a reação dos "atropelados" a partir do dia da eleição e durante os dois anos seguintes.
Memória seletiva. A senadora Kátia Abreu, indicada para o ministério da Agricultura, em 2007 foi relatora da proposta de derrubada da CPMF na Comissão de Constituição e Justiça.
O fim do imposto do cheque foi a maior derrota do governo Lula, usada na campanha de reeleição de Dilma para acusar Marina Silva e Aécio Neves de terem contribuído para "retirar recursos da saúde". 
Autora: Dora Kramer

Sob nova direção 

 

        À presidente Dilma Rousseff não restava outra saída a não ser dizer o que disse no primeiro momento a respeito do que transpirou de parte dos depoimentos do acordo de delação premiada feito pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. 
     Descontada a (remota) hipótese de ocorrerem novos vazamentos até o fim dos interrogatórios e a conclusão do inquérito pela Polícia Federal, será preciso mesmo aguardar a divulgação do que ela chamou de “dados oficiais”. 
            A saber, os depoimentos propriamente ditos com todos os autores e as provas dos crimes que Costa precisa entregar para livrar não só a si de longa estada na cadeia, mas também os familiares de punições criminais. A impropriedade, talvez decorrente da necessidade de uma reação qualquer no calor dos fatos, está na segunda parte da declaração de Dilma. A presidente afirmou que só depois de conhecer os referidos dados tomaria as “medidas cabíveis”. Ora, ora, quais medidas? A não ser a demissão de um ou outro atual ocupante de cargo no Executivo, tais providências estão fora do alcance da presidente. Nessa altura, encon­tram-se sob a jurisdição da polícia, do Ministério Público (MP) e da Justiça. Pedir mediante ofício acesso às informações é objetivamente inútil porque elas não podem ser oficialmente fornecidas. 
      O governo sabe perfeitamente disso. Pede, não leva e com esse movimento de pura cenografia pretende dar ao que foi até agora publicado o caráter de mero boato e ganhar tempo até as eleições, contando que os prazos não levem o MP a se pronunciar sobre o conteúdo do material fornecido por Paulo Roberto Costa antes de divulgados os resultados do pleito. 
     A presidente não pode demitir senadores, deputados, ex-ministros, governadores, ex-governadores. Ao mesmo tempo não pode negar nem se livrar do fato de que os até agora citados são todos seus aliados e que o esquema denunciado funcionou ao tempo em que ela foi ministra das Minas e Energia, ministra da Casa Civil.   
        O delator promete à promotoria provas de que o propinoduto por ele operado permeou os dois governos de seu antecessor e criador, Luiz Inácio da Silva. Gerente rigorosa, as “medidas cabíveis” Dilma Rousseff, se quisesse, poderia ter posto em prática no devido tempo. Agora as providências não são mais de sua alçada. Mas, digamos que nunca tenha ouvido falar de nada que ensejasse a necessidade de abrir algum tipo de investigação interna. Poderia tê-lo feito inclusive sobre os dois casos ocorridos no governo Fernando Henrique (afundamento de uma plataforma e troca de títulos da Repsol) que sempre cita como exemplos de episódios obscuros que não foram devidamente investigados.   
        Ao assumir a Presidência da República, pôs no comando da Petrobras Graça Foster, uma funcionária de carreira, profissional respeitada e de acordo com o que disse ontem a presidente na entrevista ao Estadão, extremamente “minuciosa”. No convívio diário da companhia, uma gestora com essa característica dificilmente deixaria de perceber algum indício da existência de um esquema daquela magnitude. No entanto, o que se viu não foi a iniciativa do governo de investigar.  Muito ao contrário. 
       Dificultou o quanto pôde o envio de informações ao Tribunal de Contas da União, recorreu a todos os métodos ao seu alcance para impedir que as comissões de inquérito do Congresso fizessem um trabalho sério e durante todo o tempo atribuiu aos inimigos, aos pessimistas, aos detratores da estatal, aos não patriotas o desejo de investigar. Se a Petrobras, como afirma e repete a presidente da República, prima pela lisura, não há melhor prova que um certificado de correção resultado de uma investigação limpa e rigorosa. Estaria dada a resposta sem tergiversações nem espaços para ilações outras.
Autora: Dora Kramer



Sobre Política e Jardinagem


De todas as vocações, a política é a mais nobre. “Vocação”, do latim vocare, quer dizer “Chamado”. Vocação é um chamado interior de amor: chamado de amor por um “fazer”. No lugar desse “fazer” o vocacionado quer “fazer amor”com o mundo. Psicologia de amante: faria, mesmo que não ganhasse nada.
“Política” vem de polis, “cidade”. A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. O político seria aquele que cuidaria desse espaço. A vocação política, assim, estaria a serviço da felicidade dos moradores da cidade.
Talvez por terem sido nômades no deserto, os hebreus não sonhavam com cidades: sonhavam com jardins. Quem mora no deserto sonha com oásis. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Se perguntássemos a um profeta hebreu: “O que é política?”, ele nos responderia: “ A arte da jardinagem aplicada às coisas públicas.”
O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar para si mesmo.
De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim.
Amo a minha vocação, que é escrever. Literatura é uma vocação bela e fraca. O escritor tem amor, mas não tem poder. Mas o político tem. Um político por vocação é um poeta forte: ele tem o poder de transformar poemas sobre jardins em jardins de verdade. A vocação política é transformar sonhos em realidade. É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisam possuir nada: bastar-lhes ia o grande jardim para todos. Seria digno que o jardineiro tivesse espaço privilegiado, melhor e diferente do espaço ocupado por todos. Conheci e conheço muitos políticos por vocação. Sua vida foi e continua a ser um motivo de esperança.
 Autor: Rubem Alves

 



JUNTO E MISTURADO


A intenção dos idealizadores da fotografia da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio da Silva, sorridentes e de mãos entrelaçadas na biblioteca do Palácio da Alvorada, era mostrar que não havia divergência entre os dois.
Os artífices das boas novas acabaram mostrando muito mais: a ausência de qualquer resquício de respeito às balizas da legalidade e a impessoalidade exigidas pela Constituição à administração pública.
Estava tudo errado naquela reunião. O tema, os participantes, o local, nada combinava com nada à luz do bom senso, da compostura e da normalidade institucional.
O encontro foi marcado no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, para discutir a crise do governo com o PMDB e suas variantes relacionadas às mudanças nos ministérios e às alianças eleitorais nos Estados.
Sentados à mesa, a presidente da República, seu antecessor, o chefe da Casa Civil, o chefe de gabinete da Presidência, o marqueteiro do governo e da campanha da reeleição, o presidente do PT e coordenador-geral da campanha, o ex-ministro de Comunicação e chefe da área de internet da campanha e o tesoureiro da campanha.
A condução da reforma ministerial é tarefa de governo, até onde a vista dos normais alcança. Com função governamental na mesa havia quatro pessoas, entre elas a presidente Dilma; as outras quatro, entre elas o ex-presidente Lula, têm atividades político-partidárias que, em tese, deveriam ser desenvolvidas a prudente distância do governo.
Se não é assim, isso quer dizer que a presidente reconhece que apenas adapta seu ministério às conveniências eleitorais. Seria seu dever. Mas, com boa vontade admitamos que seja um direito dela.
Nesse caso, seria uma obrigação que soubesse separar os assuntos de governo da agenda eleitoral e que não tratasse de tudo junto e muito misturado, deixando que as dependências do Palácio funcionem como um escritório de campanha.
Ao ponto de caracterizar um uso sem disfarce da máquina pública, numa foto em que todos riem, divertem-se aparecem como se tivessem fazendo um grande lance, reunidos para combinar como lidar com as “chantagens” e malvadezas em geral do PMDB.
Ora, vamos com calma. Há o jogo de pressão dos peemedebistas. Mas isso não dá ao PT e muito menos ao governo uma salvaguarda para agir como bem entender ao arrepio de quaisquer normas. Escritas e não escritas. Ali na biblioteca do Palácio da Alvorada posaram todos como verdadeiros donos do pedaço.
Enquanto transcorria a reunião dos inimputáveis, a Justiça Eleitoral concedia liminar mandando tirar do ar uma página no Facebook sobre o governador Eduardo Campos por propaganda antecipada. O site tinha mesmo cunho eleitoral, o que é proibido antes de 5 de julho.
Portanto, era o que tinha de ser feito. Mas há coisas que deveriam e não estão sendo feitas. O uso da máquina pública é vedado pela lei a qualquer tempo. Esse dispositivo vem sendo permanentemente desrespeitado sem que o Ministério Público tome conhecimento.
Como não há freio, a infração se repete, os infratores ficam cada vez mais à vontade para agir como se não houvesse regras a obedecer.
E ainda há, no governo e na oposição, quem culpe o instituto da reeleição por esse tipo de atitude. Como se o fim da reeleição fosse capaz de impedir que o governante mal intencionado usasse a máquina para beneficiar o candidato à sucessão e seu grupo político.

Jornal O Popular
Autora: Dora Kramer
07/03/2014

"O "PIBÃO" DA ECONOMIA DE DILMA "
Carlos José Marques, diretor editorial
 
Políticos aliados e agentes de mercado aguardam com expectativa os primeiros movimentos do governo Dilma neste início de 2013. Todos estão convencidos de que a presidenta mobilizará o maior arsenal de medidas possíveis para atingir o pretendido objetivo de um “pibão” da economia neste ano, como o prometido no discurso da virada. Dilma entra agora na segunda metade do seu mandato e joga suas fichas nesse alvo. Confessou a interlocutores próximos que fará “o possível e o impossível” nesse sentido. O próprio PT está convencido de que a reeleição dela depende do cumprimento da meta de crescimento de 4% em 2013. Como demonstração de que está levando a sério o desafio – e de que não quer ser frustrada com um revés de expectativa lá na frente –, a presidenta determinou ao BNDES que logo nos primeiros três meses do ano abra a carteira de crédito e enxágue o mercado com liquidez para investimentos produtivos. Dilma também assumiu como compromisso a queda sistemática da carga fiscal, com revisão de impostos e as desonerações já em curso, cuja soma ultrapassa os R$ 6,8 bilhões. No pacote de incentivos, a redução da tarifa de energia elétrica e novas obras de infraestrutura são movimentos que deverão pavimentar o caminho rumo ao que o governo vem chamando de uma nova matriz econômica, cujo principal motor é a política de juros baixos. O ambiente está desenhado para o desenvolvimento em ritmo bem acima dos percentuais praticados na primeira metade do mandato. Para driblar acidentes de percurso como o da decisão do Congresso de adiar para fevereiro a votação do Orçamento, Dilma decidiu recorrer a medidas provisórias que garantam créditos suplementares e verbas de investimento, principalmente as ligadas ao PAC. No entender da presidenta, um dos passos primordiais é o da recuperação da confiança dos investidores. As críticas internacionais, de organismos financeiros como o FMI e de veículos como a “The Economist”, mexeram com os brios da equipe e a chefe da Nação pretende dar sua resposta através dos números. Essa é uma batalha na qual devem se engajar todos os agentes, estatais e da iniciativa privada, em prol de um benefício comum.

Autor: Carlos José Marques, diretor editorial



Judeus e Palestinos: Resolvendo suas zonas de conflito



A gravidade da crise entre judeus e palestinos é para mim o exemplo mais eloqüente da falência da espécie humana. Os ataques terroristas de palestinos e as retaliações do governo de Israel indicam que, apesar de nossa espécie produzir o fantástico mundo das idéias, esse mundo tem sido insuficiente para gerenciar nossos instintos nos focos de tensão e lapidar a arte da solidariedade e tolerância.
Eu tenho origem multirracial, incluindo ascendência árabe e judia. Tenho grande apreço por esses dois povos, mas, como pensador da psicologia, me entristeço em constatar que o conflito entre eles é uma amostra de que a espécie humana está morrendo naquilo que tem de mais nobre. Morrendo na sua capacidade de expor, e não impor, as idéias, de se colocar no lugar dos outros e perceber suas necessidades psicossociais, de se doar sem esperar a contrapartida de retorno, de trabalhar suas dores e frustrações.
Árabes e judeus possuem a mesma carga genérica paterna. São filhos de Abraão. Apesar da mesma origem, combatem-se como se não fossem irmãos e nem pertencentes à mesma espécie. Estão tão feridos nas vielas do seu ser, que não sabem navegar nas águas da emoção e revolucionar seu modo de encarar a vida e reagir aos problemas. A violência substituiu o diálogo. Vivem uma grande crise de confiabilidade.
O único caminho para judeus e palestinos encontrarem a paz não é se esforçarem para obtê-la, mas reeditarem o filme do inconsciente. Se eles não compreenderem o funcionamento da mente e não reurbanizarem as zonas de conflito na grande cidade da memória, sempre serão golpeados pelo medo, pelo ódio e pela insegurança.

Autor: Augusto Cury
Livro: Revolucione sua qualidade de vida

OS NOVOS TIRANOS

Na China, eles são chamados de “os pequenos imperadores”. É a geração nascida após junho de 1979, quando o governo chinês instituiu a política de um filho por casal para conter a ameaça de uma iminente explosão populacional. Desde então, quem tem um segundo filho é obrigado a abortá-lo. A estratégia evitou o nascimento de cerca de 250 milhões de chineses, segundo a fundação China Development Research. E a bomba demográfica foi desativada: em 1975, 73% dos casais do país tinham mais de um filho. Em 1983, esse índice já murchara para 9% - e isso porque o governo deu uma colher de chá nas regiões rurais, permitindo um segundo filho, às vezes. Mas o controle radical de natalidade teve um preço.
Segundo a opinião pública local, a nova geração de chineses é mimada, egoísta e pouco chegada ao trabalho. Em janeiro, essa impressão foi confirmada pela primeira vez por uma pesquisa científica. O estudo australiano, publicado na revista Science, já dá uma ideia de suas conclusões no título: Pequenos Imperadores. “O contraste entre as gerações é grande, mesmo separadas por apenas dois anos”, disse à GALILEU Lisa Cameron, economista da Monash University (Austrália) e coautora do estudo.
A pesquisa foi feita em Pequim com 421 chineses nascidos entre 1975 e 1983 – quatro anos antes e quatro depois da medida. Usando jogos, os pesquisadores mediram o grau de altruísmo, confiança, aversão ao risco e senso de competição dos jogadores. Nem teste de aritmética, por exemplo, o jogador podia realizá-lo sozinho, com premiação modesta, ou em equipe, com um prêmio gordo. Os filhos únicos geralmente preferiam a primeira alternativa. “Descobrimos que eles raramente falaram com os pais na infância sobre solidariedade”, diz Lisa, que, a propósito, tem duas irmãs.

Revista: Galileu
Pág. 17 
   
MERENDA DA MEIA NOITE...
 
Quase todos os vôos da VARIG, do Brasil para os Estados Unidos e Europa, começam à noite. Mais ou menos meia hora depois de decolar, tem inicio o jantar, precedido de drinks variados.
Se você estiver na Classe Econômica, tudo muito bem. Se estiver na 1@ classe, melhor ainda. Compreensivelmente.
O jantar termina com 7 pratos servidos e 3 horas depois... com o cafezinho, forte e bem brasileiro.
O que acontece entre os drinks e o cafezinho é que tornava o serviço de bordo da VARIG quase legendário. Um serviço que faria de você um “problema” para qualquer outra companhia. E que problema...
As coisas mudaram porque eram boas demais e o que havia de mais organizado e tradicional caiu na má administração da economia brasileira e na oportunidade de políticos tirarem vantagem na distribuição da pilhagem
ao vender o que poderia e deveria ser mantido como patrimônio de um País com tantos anos de tradição nos serviços aéreos.

Revista: Céu Azul n°44 pg. 68  


CHOQUE DE CONFIANÇA NO PAÍS
 
Está nas mãos do governo da presidente Dilma Rousseff reconquistar a credibilidade perdida pelo Brasil nos últimos meses

Bastaram poucos meses para que o Brasil deixasse a condição de favorito dos investidores e passasse a ser uma incógnita. Pode-se discutir se essa reavaliação é justa ou não. Afinal, nosso território é imenso, o mercado consumidor tem quase 200 milhões de pessoas, a economia é diversificada, há oferta abundante de fontes de energia, minérios, água e terra. Tudo o que atraiu os olhares – e os dólares – dos estrangeiros continua aqui. Mas nosso momento parece ter passado. E o pior: justo na hora em que o dinheiro dos investidores talvez seja mais necessário. “Estamos numa fase de nosso desenvolvimento em que o investimento, especialmente em infraestrutura, precisa crescer”.

SUGESTÕES PARA SOLUÇÃO

1 Infraestrutura

Problema A infraestrutura é péssima e os leilões das concessões estão atrasados
Solução Estimular, sem perda de tempo, o investimento privado oferecendo taxas de retorno mais realistas.

2 Combate à infração

Problema A inflação acumulada em 12 meses está em 6,5%, o teto da meta
Solução O governo deve perseguir os 4,5% do centro da meta para restabelecer a credibilidade do BC.

3 Contas Públicas

Problema O governo diz que o superávit primário está em 1,9% do PIB, mas ninguém acredita. O mercado estima que, descontadas as manobras contábeis, o percentual seja de 1,2%. Com o aumento dos gastos, a dívida bruta se aproxima de 67% do PIB.
Solução Acabar com as manobras contábeis e cumprir, no mínimo, a meta de superávit primário de 2% do PIB.

4 Impostos

Problema Os impostos são pesados e seu recolhimento é complicadíssimo
Solução Unificar a alíquota de ICMS para acabar com as complicações da guerra fiscal e fundir PIS e Confins para simplificar o pagamento.

5 Petróleo

Problema Os leilões do pré-sal estão atrasados e o marco regulatório não incentiva os investimentos
Solução Eliminar a exigência de a Petrobras participar de todos os projetos e reduzir o poder do Estado nos comitês que controlam os consórcios de exploração do pré-sal.

6 Mineração

Problema A legislação do setor é de 1967 e tem regras anacrônicas. Por exemplo; permite que as empresas requisitem áreas só para atrapalhar os concorrentes, e não para investir. Como resultado, o Brasil investe só 3% do total do setor no mundo
Solução Mudar a lei para incentivar a competição e o investimento.

7 Custo do Trabalho

Problema O custo da mão de obra no Brasil cresce mais que o ganho de eficiência do trabalho
Solução Condicionar o reajuste do salário mínimo ao aumento médio da produtividade

8 Comércio Exterior

Problema O Brasil não consegue fechar acordos bilaterais por estar preso ás regras do Mercosul. Enquanto isso, o comércio exterior brasileiro como proporção do PIB é de meros 20%
Solução mudar a regra do Mercosul que proíbe que seus membros fechem acordos bilaterais isoladamente e intensificar acordos de livre comércio

Revista: EXAME
N° 12 Ano 47


É o Bicho
 
Rinoceronte vereador, cachorro compositor, rato jornalista, pombo subversivo. A fauna brasileira é rica em animais que se tornaram celebridades nacionais.

Peteleco buscava pães e compunha sambas
Adoniram Barbosa não escondia de ninguém que um de seus melhores amigos era Peteleco. Não se tratava de nenhum companheiro de rodas de samba, mas do cachorrinho xodó do compositor. Peteleco era tão sabido que buscava pães na padaria e costumava entrar no mar de Santos junto com o dono, deitado sobre seu peito.
A devoção pelo bichinho era tanta que Adoniran resolveu torná-lo também compositor. Seja para criar ao lado de artistas de outras associações de direitos autorais, seja para não colocar seu nome ao lado de desafetos, há pelo menos seis sambas de Adoniran assinados por Peteleco.

Um jumento para o Papa
O papa João Paulo 2° visitou pela primeira vez o Brasil em 1980. ao pisar em Brasília, o funcionário público Damião Galdino da silva quis porque quis presentear o sumo pontífice com um regalo inusitado: um jumento chamado Jericar. Como era de se esperar, as autoridades do Vaticano não permitiram que o burro fosse entregue. Em protesto, Damião acorrentou-se a uma torre de tevê e fez greve de fome. O animal tornou-se famoso e participou de algumas manifestações da época. Subiu até a rampa do Palácio do Planalto durante as Diretas-já. Quando Jericar morreu, em 1985, Damião cremou o animal e enviou as cinzas ao Vaticano. “Consegui, finalmente, dar o presente que sempre sonhei ao papa”, disse o funcionário público, aliviado.

Rinoceronte e macaco brilharam nas urnas
O primeiro caso notório de voto de protesto no Brasil não teve nenhum ser humano como protagonista. Nas eleições de 1959 em São Paulo, o nome mais votado para vereador foi o de Cacareco. Tratava-se de um rinoceronte que havia sido emprestado pelo zoológico do Rio para o de São Paulo e que caíra na simpatia dos paulistanos. O bicho levou 100 mil votos. O caso ganhou até as páginas da revista Time, que destacou a frase de um eleitor: “É melhor eleger um rinoceronte do que um asno”.
Situação semelhante aconteceu nas eleições municipais do Rio em 1988. a revista Casseta Popular fez campanha pelo voto nulo, lançado a candidatura do Macaco Tião, um chimpanzé mal-humorado do zoo do Rio que chegou a cuspir no prefeito Marcelo Allencar. A campanha pegou e Tião recebeu 400 mil votos, o que lhe deixaria em terceiro lugar caso sua candidatura fosse válida. Quando morreu, em 1996, a cidade decretou luto oficial por oito dias.

Na ditadura, até pombo-correio era subversivo
Durante a ditadura militar (1964-1985), qualquer cidadão corria o risco de ser considerado subversivo. Nem os pombos escapavam. Em Cabo Frio, um pombo-correio foi apreendido pelo delegado, que enviou uma mensagem às autoridades superiores: “Solicito instruções para pombo-correio encontrado e preso em Cabo Frio. Suspeitamos que seja um mensageiro da subversão”.
A resposta da Secretaria da Segurança Pública chegou meia hora depois: “Pombo-correio deve permanecer em Cabo Frio, sob custódia do delegado local, até segunda ordem. Aguardar investigações do Departamento de Polícia Política e Social”.
Um jornalismo não agüentou e, apesar dos riscos, ironizou o fato. “O bichinho perdeu o rumo devido ao mau tempo, quando participava de uma revoada, e é absolutamente inocente, não registrando quaisquer antecedentes políticos.”

João Gilberto tocou tanto que passarinho aprendeu a canção
Em meados da década de 1950, Jorge Amado e Zélia Gattai receberam de presente um passarinho sofrê, amarelo e preto, de um amigo argentino. O pássaro tinha o hábito de pousar sobre a mão de Amado quando ele se punha a escrever. Certa vez, João Gilberto decidiu mostrar uma música nova ao casal. Tocou durante horas a mesma canção. De repente, percebeu uma melodia muito parecida com a sua vinda de algum lugar da casa. Era o sofrê, que havia aprendido a música insistentemente tocada pelo artista baiano.

Baleia foi a estrela Brasileira em Cannes
Quando decidiu filmar Vidas Secas, baseado na obra de Graciliano Ramos, o cineasta Nelson Pereira dos Santos precisou se virar para achar uma cadela para fazer o papel de Baleia, o cão de estimação dos protagonistas da trama. Só foi encontrar a atriz ideal embaixo de uma barraca de feira em Palmeira dos Índios, onde o longa-metragem foi rodado.
Depois de uma apresentação do filme no festival de Cannes, uma condessa italiana acusou o cineasta de matar a cadela de verdade na cena da morte de Baleia. De pouco adiantou dizer que a cadela estava viva, que a vira-lata era apenas uma ótima atriz. A polêmica foi tanta que uma companhia aérea francesa ofereceu uma passagem para que a cadela viajasse do Rio de Janeiro – onde vivia na casa do diretor de fotografia do filme, Luís Carlos Barreto – para Cannes. Como resultado, o animal tornou-se sensação na cidade francesa. “Baleia foi a grande vedete do festival”, lembra Barreto.
Zé carregou cruz pelo burro Nicolau
O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, conta a história de Zé do Burro, humilde roceiro do interior da Bahia. O personagem não carrega o apelido à toa. Seu melhor amigo é o burro Nicolau. Só que o animal é atingido por um raio e fica entre a vida e a morte. Desesperado, Zé promete a uma mãe de santo que carregará uma pesada cruz de madeira até a igreja de Santa Bárbara, em Salvador, caso o bicho se recupere. A cura do burro dá início a uma da mais conhecidas tramas do teatro nacional, transformada em filme por Anselmo Duarte em 1962, e em série da TV Globo, em 1988.

Lobo também recebia cartas
Em 1962, estreou na TV Tupi a série Vigilante Rodoviário, um dos maiores sucessos da emissora. O inspetor Carlos, vivido por Carlos Miranda, era a estrela do seriado. Mas outro personagem chamava a atenção dos telespectadores. Lobo, um pastor-alemão que, assim como seu companheiro de trama, vivia recebendo cartas de fãs. Para interpretar Lobo, foram usados cinco cães da Polícia Militar de São Paulo. O primeiro deles, morto em 1971, ainda está na memória de Miranda. “A verdade é que nenhum cachorro foi tão esperto quanto ele. Lobo é insubstituível.”

Revista: Brasil N°163 Ano 14 


VALE QUANTO PESA?
 
 Brasil está entre os 30 países com maior carga tributária do mundo.
E isso acontece pela quarta vez consecutiva, desde que desenvolveu, a metodologia dessa pesquisa. O retorno que temos é inferior ao de países de economias bem menores e ainda não considerados sequer emergentes, como Uruguai, Argentina, Chile, Israel, Luxemburgo e Eslovênia.
Vale dizer que os brasileiros, em média, trabalham 110 dias por ano para pagar impostos
Temos então um argumento a mais para cobrar uma melhor prestação de serviços públicos dos governos municipal, estadual e federal. Antes, as pessoas, ao consumirem algo, não sabiam quanto recolhiam de impostos. Agora, saberão. Toda nota fiscal terá, obrigatoriamente, em reais, a informação do total dos tributos.
cerca de 70% da arrecadação é destinada para a folha de pagamento do funcionalismo público, para o pagamento de pecúlios, para a previdência, para os aposentados e fundos de pensão. Outros 11% para custear a própria máquina do Estado. Sobra para investimentos públicos 7%. Em outros países o que fuça para investimento público gira em torno de 20% a 25% do montante arrecadado.
A solução para isso seria gerir melhor os recursos arrecadados para sobrar mais dinheiro para investimentos públicos. Enxugar os custos, como fazemos com o nosso orçamento doméstico. O problema todo está no baixo retorno que a sociedade tem. Esperamos mais do Estado pelos impostos que pagamos.

Revista: Família Cristã
Ano. 79 n. 930 Pg. 09
Autor: João Elói Olenike

Braço a torcer
 
É forte a demanda por mudanças no ministério da presidente Dilma Rousseff. A questão, no entanto , é mais ou menos parecida com a da reforma política: se não se souber o que, como fazer, para que e de que maneira vai funcionar, não há razão para reformar. Muda-se para ficar tudo como está. Ou pior.
Mas, ao que consta, a presidente resiste a ouvir os apelos para fazer alterações na equipe. Não está claro se porque não quer decidir debaixo de pressão, se por mero exercício de teimosia ou se acha que vai tudo muito bem, obrigada.
Sobre o aspecto da eficiência, o presidente da Câmara de Políticas de Gestão da Presidência da República, Jorge Gerdau, já havia dado notícia em duas entrevistas (ao Valor e à Folha de S.Paulo) meses atrás em pesadas críticas ao gigantismo do ministério. Segundo ele, 39 pastas são um entrave ao conceito de boa gestão. Avaliava que com “meia dúzia” o Brasil estaria bem atendido.
Disse que falara com a presidente a respeito e que estava plenamente “consciente” disso. Como que antecipando o que viria em junho, acrescentou: “Quando a burrice, a loucura ou a irresponsabilidade vai muito longe, de repente sai um saneamento. Nós provavelmente estamos no limite desse período”.
Pois se chegou ao extremo, mas a presidente parece disposta a prosseguir além do limite. Ou então, mais adiante fará as mudanças que achar convenientes. Alterações que serão inócuas se Dilma não der rumo e autonomia de vôo para a equipe.
Trocar esse ou aquele nome sem alterar o método não vai adiantar nada. Na economia o que aflige é a condução, executada por ela e seguida à risca por Guido Mantega. Se um eventual substituto for submetido à mesma sistemática de trabalho será a conhecida troca de seis por meia dúzia. Isso sem contar com a dificuldade de encontrar quem aceite essa regra do jogo.
Na política, os partidos reclamam dos atributos das ministras Ideli Salvatti e Gleisi, mas se queixam também da falta de representatividade dos indicados em relação às bancadas no Congresso.
Repudiam os modos rudes da presidente, se insurgem contra o apetite voraz do PT na busca pela ocupação de todos os espaços (administrativos e eleitorais) e estão fartos de serem tratados como meros serventes de um projeto que atende primordialmente aos interesses petistas.
É uma situação complexa que, assim como a reforma política, não aceita soluções simples.

Jornal O Popular 10/07/2013
Dora Kramer  


INDECENTES ÚTEIS
 
Aqueles que não conseguem convencer, quando fanáticos agridem, constrangem e, se lhes for dada a oportunidade, prendem e arrebentam.
Foi a nítida impressão deixada pela ação orquestrada a partir da Embaixada de Cuba com pequenos, barulhentos e virulentos grupos defensores da ditadura Castro, contra a presença da jornalista Yoani Sanchez por uma semana no Brasil.
Tirante a violência, nada de mais grave haveria no patrulhamento não fossem dois fatos: a presença de um assessor com assento no Palácio do Planalto na reunião em que a representação de Havana distribuiu a missão aos chefes dos tarefeiros e o mutismo do Partido dos Trabalhadores diante dos atentados à liberdade de uma pessoa dizer o que quer a quem estiver disposto a ouvir.
De onde fica plenamente autorizada a constatação de que esse tipo de intolerância não é episódio isolado meu nascimento por geração espontânea. Foi apenas a manifestação mais histérica e malsucedida do modo petista (e área de influência) de lidar com as diferenças de ação e pensamento.
Numa expressão já meio gasta: o exercício do contraditório. Este enlouquece o PT. E aqui se fala do partido como um todo não na intenção maldosa de generalizar, mas porque a direção deixou o senador Eduardo Suplicy literalmente falando sozinho no enfrentamento da barbárie. Do partido como um todo não se ouviu palavra, nenhum reparo, apenas ressalvas aqui e ali à “deselegância” dos indecentes úteis.
A falta de cerimônia com que se dedicaram à selvageria é fruto do exemplo. Isso se vê quando o governo desqualifica de maneira desonesta (para não dizer mentirosa) as ações de seus antecessores – até mesmo os que hoje são seus aliados, quando autoridades confundem crítica com falta de apreço à pátria, quando o dever de informar é classificado com desejo de conspirar, quando o exercício da oposição é “vendido” á população como uma atividade quase criminosa.
No caso da cubana ocorreu um monumental tiro no pé: o que seria uma visita tratada com destaque, mas sem maiores consequências nem celebrações – até porque Yoani Sanchez não diz nada que já não seja de conhecimento público sobre as agruras da vida em Cuba -, no lugar da visita de uma jornalista que reclama pela adaptação de seu país à contemporaneidade, o que se teve foi uma repercussão monumental.
Ao se tornar alvo (fácil) da rebeldia sem causa, virou capa da revista de maior circulação no Brasil, falou no Congresso Nacional e foi convidada de honra em programas de entrevistas no rádio e na televisão. Bom para ela, melhor ainda para a exposição da patrulhas ao ridículo. E tem gente que ainda apóia o direito da Embaixada de Cuba de pôr os patrulheiros na rua argumentando que o fez em legítima defesa.

Jornal: O POPULA DO O POPULAR DO DIA 26/02/2013
Autora: Dora Kramer


RECEITAS PARA O BRASIL
 
1 Fazer mais com menos
Toda atividade governamental terá de provar ter custo menor do que o benefício social proporcionado. Edmar Bacha
2 Gastos sociais para quem precisa
Fica entendido que são básicos os direitos à Previdência, saúde e educação garantidos pela Constituição. Quem quiser luxo e tratamentos complexos deverá recorrer a seguradoras privadas. Edmar Bacha
3. Menos corrupção
Ficam proibidas as doações de empresas a candidatos e partidos. As doações de pessoas físicas não podem exceder de 15000 reais. Jairo Nicolau
4. Pibão
A tarifa máxima de importação será de 10%, e fica proibida a exigência de conteúdo nacional nos financiamentos do BNDES e nas compras governamentais. Edmar Bacha
5. Mais dinheiro no bolso
É direito individual de cada trabalhador decidir como aplicar sua poupança. Gustavo Franco
6. A força dos contratos
Os contratos de trabalho passam a ser de natureza civil e inteiramente negociáveis entre as partes – com exceção dos casos em que o salário do trabalhador estiver na faixa de isenção do imposto de renda. Gustavo Franco
7. Escolas que ensinam
O diretor de escola monta a própria equipe. Se o desempenho dos alunos nas avaliações não atingir as metas, o diretor será afastado e substituído por um vice-diretor de escola da mesma região que atingiu ou superou as metas. Maria Helena Helena Guimarães Castro
8. justiça rápida
todo processo tem de ser concluído em, no máximo, três anos. A promoção de magistrados dependerá da regularidade no cumprimento desse prazo. Armando Costelar.
9. Saúde de Qualidade
Os sistemas público e privado de saúde obedecerão às mesmas regras e vão competir por pacientes.
10. Infraestrutura Moderna
O volume de investimento anual do governo em trasporte não pode baixar de 1,4 % do PIB. Os membros do Congresso e do Executivo com poder sobre o setor no ano em que o índice cair abaixo de 1,4% do PIB ficam inelegíveis por quatro anos.

Revista VEJA n° 46
Pg. 70,72,74,76,77,79

SOBRE POLÍTICA E JARDINAGEM
 

De todas s vocações, a política é a mais nobre. Vocação, do latim vocare, quer dizer “chamado”. Vocação é um chamado interior de amor. Amor, não por um homem ou por uma mulher, mas por um “fazer”. Esse “fazer” marca o lugar onde o vocacionado quer fazer amor com o mundo. Ali, no lugar do seu “fazer”, ele deseja penetrar, gozar, fecundar. Psicologia de amante: faria, mesmo que não ganhasse nada. Faria, mesmo que seu fazer o colocasse em perigo. Muitos amantes morreram por causa de efêmeros momentos de gozo num amor proibido.

A vocação política é uma paixão por um jardim. Vou explicar. “Política” vem de polis, cidade. A cidade era, para os gregos, um espaço seguro, ordenado e manso, onde os homens podiam se dedicar à busca da felicidade. O político é aquele que cuida desse espaço. A vocação política, assim, está a serviço da felicidade dos cidadãos, os moradores da cidade.

Ao contrário dos gregos, para os hebreus esse espaço de vida não era representado pela cidade. Deus não criou uma cidade. Ele criou um jardim. Seu Deus não era um urbanista, era um jardineiro, inventor de paraísos. Talvez pelo fato de terem sido nômades no deserto. Quem mora no deserto sonha com oásis. Assim, o jardim era para os hebreus aquilo que a polis era para os gregos. Se perguntássemos a um profeta hebreu “o que é política?”, ele nos responderia: “a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas”.

O político por vocação é um apaixonado pelo grande jardim para todos. Seu amor é tão grande que ele abre mão do pequeno jardim que ele poderia plantar, para si mesmo. De que vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto? É preciso que o deserto inteiro se transforme em jardim.

Amo minha vocação, que é escrever. Mas sei que a beleza da literatura é fraca. Poeminha de Emily Dickinson:

Par fazer uma campina

Basta um trevo e uma abelha

Um trevo, uma abelha,

E fantasia.

Ou apenas fantasia

Na falta de abelhas.

Seria bom se fosse verdade. Mas o fato é que fantasias não bastam para plantar jardins. Para se transformarem em jardins, as fantasias precisam de abelhas: braços, ferramentas, poder. Mas poder é o que poeta não tem. Mas o político tem. Um político por vocação é um poeta forte. Ele tem poder para cavar, plantar, cuidar, arrancar, podar, fazer muros. Políticos fazem leis e tomam as providências para que sejam cumpridas. A nobreza da vocação política está em que ela tem o poder pra transformar o sonho de um jardim de verdade onde a vida acontece.

É uma vocação tão feliz que Platão sugeriu que os políticos não precisam possuir nada como propriedade privada. Não faz sentido ter um jardim privado quando se é jardineiro do grande jardim.



Livro: As melhores crônicas de

Rubens Alves

Pg. 26/27
 



O TÉCNICO ENTRA EM CAMPO
Quando Lula se mexe, a torcida adversária se assusta. Será que ele vai entrar em campo? Será que veste a camisa já em 2014? E a gritaria das arquibancadas é uma só: “Fora, Lula”. A pressão sobre o juiz, que pode ser Roberto Gurgel ou Joaquim Barbosa, é pelo cartão vermelho com suspensão vitalícia. Afinal, se tantos jogadores foram excluídos do jogo com o processo do mensalão, por que Lula ainda não foi mandado para o chuveiro?
É essa a partida de 2013, que irá definir também a seleção que entrará em campo em 2014. Dilma está no comando e Lula no banco. Dois bons jogadores, mas o juiz, segundo Galvão Bueno e Arnaldo Cesar Coelho, faz uma ótima arbitragem. Quem arrisca uma previsão?

Autor: Leonardo Attuch
Revista: Isto É
Pg. 33
 


Luz e sombra

 

No edifício central da praça dos Três poderes, a apresentação das conclusões de uma CPI criada por motivos tortos e extinta por razões torpes.

No prédio ao lado, a ascensão à presidência do Supremo Tribunal Federal do relator de um processo que, se não muda o País, faz subir de patamar a confiança das pessoas na Justiça.

Uma coincidência de calendário muito oportuna para a análise do contraste entre os papéis cumpridos pelos Poderes Legislativo e Judiciário em trajetórias crescentemente opostas.

Ao mesmo tempo em que Supremo afirma sua autonomia, o Congresso se afunda na submissão aos ditames do Executivo e das infames conveniências partidárias.

Enquanto a Corte Suprema investe na punição dos crimes contra a administração pública, o Parlamento dá abrigo à impunidade.

Está prevista para hoje ou amanhã a leitura do relatório final da comissão de inquérito criada para apurar ramificações do esquema e as ligações do operador de jogos clandestinos Carlos Augusto Ramos, o Cachoeira, com políticos, empresários e governos.

Hoje o julgamento do mensalão é retomado sob a presidência interina de Joaquim Barbosa que amanhã é investido oficialmente no cargo.

Quis a acaso que os dois episódios acorressem na mesma semana, abrindo espaço para o cotejo na atuação dos dois Poderes que as vezes se confrontam.
Sobre o Judiciário têm falado os fatos, cuja relevância fica ainda mais explicita no momento da ascensão de Joaquim Barbosa devido a todo simbolismo que encerra.
Sobre o Legislativo falou a subserviência da maioria governista aos propósitos do ex-presidente Lula de instalar uma CPI para tentar promover uma desmoralização geral com o objetivo de levar a oposição, a imprensa, o Ministério Público e os ministros do Supremo a dividir o banco dos réus com os acusados no processo do mensalão.
Foram os motivos tortos de seu nascimento, referidos no início do texto.
As razões torpes do encerramento da CPI antes de concluídas as investigações sobre o alcance da contaminação do esquema Cachoeira na administração pública têm a ver com a rede de proteção construída em torno da construtora Delta para evitar a descoberta de ilegalidades relacionadas aos contratos da empreiteira com governos estaduais aliados ao Palácio do Planalto.
Enterro cuja indigência se confirma na sugestão do relator Odair Cunha de se criar uma nova comissão de inquérito para investigar fraudes nos contratos da Delta em todo Brasil.
Quais? Exatamente aqueles que a CPI por ele relata decidiu não investigar para poupar uma empresa que embora tenha sido declarada inidônea para a Controladoria-Geral da União, segue sendo a vice-campeã nacional do setor em volume de verbas recebidas do governo federal.
Não foi a primeira comissão de inquérito a padecer de inanição induzida e não será a última. Mas é mais uma para atestar o antagonismo entre o ativismo benfazejo do Judiciário e a passividade malsã do Legislativo.

Cacoete

Atraso nas obras públicas é a regra, como diz a ministra do Planejamento, Miriam Belchior?
É, mas seria de se esperar de uma autoridade a defesa da inversão dessa lógica, perversa, de preferência mediante o anúncio de que o governo fará todo o esforço para a regra do atraso um dia ser exceção.
Como se viu na recente declaração do ministro da Justiça sobre a situação degradante dos presídios como se nenhuma responsabilidade coubesse ao poder público federal, dez anos de Presidência da República não livraram o PT da síndrome de oposição: é bom de verbo e ruim de solução.
Por essas e algumas outras é de se perguntar o que faria o partido se tivesse ganhado as eleições na época da inflação desenfreada, além de constatar que o Brasil realmente tinha um problemão.

Autora: Dora Kramer
Jornal: O Popular


Massa de manobras
 
A maioria das pessoas no Brasil não está nem aí para os partidos, corrobora o que se constata a olho nu uma pesquisa recente encomendada pelo Estado ao Ibope.
Partindo do princípio de que os partidos, descontados os períodos eleitorais, não estão nem aí para as pessoas, um índice até surpreendentemente baixo: 56% não têm preferência partidária, contra 44% que ainda nutrem alguma simpatia por essa ou aquela legenda.
Quando da redemocratização, a situação era inversa: 61% declaravam identificação com algum partido e 38% eram indiferentes. Culpa da democracia? Não, esta fez a sua parte, culpa de quem não sabe direito o que fazer com ela. E que não se responsabilize apenas os políticos nem se exima o chamado povo.
Aqui entra a segunda pesquisa que de certa forma tangencia questão assemelhada: uma consulta, publicada pelo jornal Valor Econômico, feita pelo instituto Barômetro das Américas em 18 países sul-americanos sobre o interesse da população no embate de idéias políticas.
Os números revelam uma redução acentuada na disposição de ouvir o que tem a dizer a oposição sobre os governos dos respectivos países – 50,9 pontos contra o índice mais baixo até então registrado, de 52,3, em 2008. ou seja, cresce a intolerância à discórdia. A maioria não gosta de críticas, não valoriza o pluralismo de opiniões e, portanto, considera a liberdade de expressão um fator secundário.
Campo fértil para governos que alimentam campanhas contra os meios de comunicação e instituições independentes. Ou, como acreditam analistas do Barômetro, conseqüência da ação desses mesmos governos que fomentam a intolerância a qualquer tipo de critica.
Não por acaso o grau de aceitação do exercício do contraditório é mais baixo em países como Venezuela (queda de 66,5 para 54,2 nos últimos cinco anos), Equador (43,4) e Honduras (36,6).
Na Argentina, país de opinião pública forte, o índice ainda é razoavelmente alto (58,6), mas houve um recuo de 8,8 pontos desde a ascensão de Cristina Kirchner, refratária assumida a discordâncias.
O Brasil se enquadra entre os países cujos governos consideram que a atividade democrática se resume a vitórias eleitorais.

Autora: Dora Kramer
Jornal: O Popular do dia 04/02/2013



Bicho criado em casa

 

O PT faz para levar um denunciado e um investigado pelo Ministério Público às presidências do Senado e da Câmara, financia partidos para atraí-los à base governista, correligionários de altas patentes são condenados à prisão e, segundo o presidente do partido, a “oposição apartidária” é que desmoraliza a política. Que tal?

Isso para falar do presente, sem contar o passado de um vida dedicada a desancar Deus, o mundo e seu Raimundo. Os correligionários de hoje eram os “picaretas”, “ladrões” e “bandidos” de ontem, contra os quais o PT prometia combate ferrenho quando, e se, chegasse ao poder.

Pois há dez anos chegou e é que se vê: não bastasse se aliar, festeja os piores tipos, elevando o que antigamente formava o baixo clero à condição de cardinalato do Congresso.

E com a tranqüilidade dos puros, mas a sagacidade dos astutos, Rui Falcão, o presidente do PT, acusa Ministério Público e meios de comunicação independentes de tramarem contra a atividade política.

Oferece lições que dariam ensejo a preocupações quanto à sanidade do professor, não flertassem firmemente com o ridículo. Diz Falcão: “São esses a quem nomeei que tentam interditar a política no Brasil. Quando desqualificamos a política a gente abre espaço para experiências que no passado levaram ao nazismo e ao fascismo”.

Faltou acrescentar um fator essencial na desconstrução do valor democrático numa sociedade: o populismo (ovo da serpente do autoritarismo), ao qual o PT se dedica com afinco no estímulo ao culto da personalidade e à desmoralização da massa crítica.

A ofensiva é clara: o petista ataca a “oposição apartidária” porque sabe que a partidária está dominada, nas cordas, sem força para preservar o indispensável exercício do contraditório sem o qual restam o silêncio, a concordância, a eliminação do debate, a alternância.

E o objetivo é esse mesmo: exercer o poder sem ser contraditado em nada e por coisa alguma, a fim de que apenas a voz do poder da vez prevaleça.

O PT, contudo, deve tomar cuidado com seus impulsos de eliminação porque, quando não há oposição de lado algum, as posições antagônicas tendem a nascer e a crescer dentro da situação. E aí, alertam os que já viveram essa situação em passado não muito distante – mais especificamente no governo Fernando Henrique, personificada na figura de Antonio Carlos Magalhães – instala-se um verdadeiro inferno.



É hoje o Dia

O Senado, que é um pálido retrato do que já foi e agora caminha rumo ao lixo da História, perde autonomia, autoridade moral e também legitimidade na representação dos Estados.

Há 21 suplentes entre os 81 parlamentares da Casa. É isso: um quarto do Senado exerce mandato sem ter recebido voto.

A suplência ali é composta por dois nomes indicados pelo titular da chapa e escolhidos entre amigos, parentes e financiadores de campanha que não passam pelo crivo das urnas.

Na maioria dos casos assumem a cadeira devido a licenças pedidas para garantir ao substituto biônico um temporada no paraíso.


Autora: Dora Kramer

Jornal: O Popular do dia 01/02/2013

 

Mera coincidência ou pura Megalomania?

         Todo mundo sabe que Evo Morales, atual presidente da Bolívia, é admirador de Che Guevara. Até aí nenhuma novidade. Mas, em meados de outubro, a justiça do seu país mandou prender o general da reserva Gary Prado Salmón, por suposto envolvimento em complô para matá-lo em 2009. Coincidentemente, o general se tornou conhecido por ter capturado, em 1967, o guerrilheiro argentino que, um pouco antes da própria morte, tentava implantar em território boliviano uma revolução nos moldes da que ocorreu em Cuba, em 1959. Com 73 anos, paraplégico desde de 1981, Prado, que hoje é cadeirante, já permaneceu em prisão domiciliar pela mesma acusação em 2010. Na ocasião, ele alegou que a incriminação era uma forma de prisão política, pois não podia deixar o país, onde trabalha como professor universitário. Dessa vez, de acordo com o juiz Sixto Fernandez, ele e outros três acusados foram indiciados por faltar às audiências do processo realizado em Tarija, a 710 Km de Santa Cruz de la Sierra, onde teria ocorrido o complô. O mais curioso dessa história é que o mandado de prisão coincidiu, exatamente, com o aniversário de 45 anos da morte do líder revolucionário latino-americano.

Revista: Leituras da História 
Editora Escala nº 56 / pág. 14


Lula e a tentação de ser Rei


Agora que Lula vem demonstrando uma irresistível vontade de usar seu prestígio e sua popularidade para se tomar um quarto poder no Brasil, a sábia orientação do constitucionalista inglês seria muito útil para nortear suas ações. Mas, se leu Bagehot, Lula deve ter se limitado ao aforismo atribuído ao inglês segundo o qual ""um dos maiores prazeres da vida consiste em fazer o que os outros lhe dizem que você não pode". É inegável que Lula no poder sempre demonstrou prazer em fazer aquilo que a Constituição, as leis, a liturgia do cargo e o bom-senso proibiam. Fora do poder, ele continua transgredindo.
Depois de um período de reclusão forçada decorrente das condenações de petistas graúdos no processo do mensalão e do escândalo envolvendo Rosemary Noronha, sua amiga íntima que chefiava o escritório da presidência em São Paulo e foi flagrada em situações explícitas de tráfego de influência e corrupção, Lula voltou à cena na semana passada. Ele foi o protagonista de uma reunião com o prefeito de São Paulo, o petista Fernando Haddad, e dez secretários municipais. Na sede da prefeitura, em horário de expediente. Lula traçou diretrizes para a gestão Haddad. Como se fosse o mandatário escolhido pelo eleitorado, defendeu a ideia de que o prefeito realize ações direcionadas às populações mais carentes, que são patrimônio do partido na cidade, mas se dedique também a conquistar o apoio da classe média, tradicionalmente avessa ao PT.

Revista Veja / edição 2305  pág. 49-50
Autor: Daniel Pereira


     "O "PIBÃO" DA ECONOMIA DE DILMA "
             
Políticos aliados e agentes de mercado aguardam com expectativa os primeiros movimentos do governo Dilma neste início de 2013. Todos estão convencidos de que a presidenta mobilizará o maior arsenal de medidas possíveis para atingir o pretendido objetivo de um “pibão” da economia neste ano, como o prometido no discurso da virada. Dilma entra agora na segunda metade do seu mandato e joga suas fichas nesse alvo. Confessou a interlocutores próximos que fará “o possível e o impossível” nesse sentido. O próprio PT está convencido de que a reeleição dela depende do cumprimento da meta de crescimento de 4% em 2013. Como demonstração de que está levando a sério o desafio – e de que não quer ser frustrada com um revés de expectativa lá na frente –, a presidenta determinou ao BNDES que logo nos primeiros três meses do ano abra a carteira de crédito e enxágue o mercado com liquidez para investimentos produtivos. Dilma também assumiu como compromisso a queda sistemática da carga fiscal, com revisão de impostos e as desonerações já em curso, cuja soma ultrapassa os R$ 6,8 bilhões. No pacote de incentivos, a redução da tarifa de energia elétrica e novas obras de infraestrutura são movimentos que deverão pavimentar o caminho rumo ao que o governo vem chamando de uma nova matriz econômica, cujo principal motor é a política de juros baixos. O ambiente está desenhado para o desenvolvimento em ritmo bem acima dos percentuais praticados na primeira metade do mandato. Para driblar acidentes de percurso como o da decisão do Congresso de adiar para fevereiro a votação do Orçamento, Dilma decidiu recorrer a medidas provisórias que garantam créditos suplementares e verbas de investimento, principalmente as ligadas ao PAC. No entender da presidenta, um dos passos primordiais é o da recuperação da confiança dos investidores. As críticas internacionais, de organismos financeiros como o FMI e de veículos como a “The Economist”, mexeram com os brios da equipe e a chefe da Nação pretende dar sua resposta através dos números. Essa é uma batalha na qual devem se engajar todos os agentes, estatais e da iniciativa privada, em prol de um benefício comum.

Autor: Carlos José Marques
Revista: Isto é - Jan 2013



Serventias da Casa



         Daqui a dez dias o Parlamento terá novos presidentes, sem que essa troca de comando tenha o menor significado para os brasileiros ali representados.

        O Congresso se denomina o Poder “mais aberto da República” e, em tese, é mesmo. A prática, porém suscita uma inevitável dúvida: aberto para quem ou para quê?

       A julgar pelo conjunto da obra e observando particularmente o que se diz e o que se faz nesses dias de, digamos, “campanha eleitoral”, os espíritos por ali só andam abertos aos interesses internos.

     Apenas candidatos em princípio sem chance de vitória e as fracas e dispersas vozes que não se aliam à apatia geral falam sobre a necessidade de o Parlamento buscar o caminho da recuperação da dignidade e das prerrogativas institucionais que conferiu a si ao elaborar a constituição de 1988.

      O buraco é tão profundo de que nem esses encontram fôlego e espaço para debater temas específicos da agenda congressual. Ficam no protesto, aparente e compreensivelmente cansados de uma guerra até agora perdida.

    O restante – aí incluídos os citados como favoritas para as presidências da Câmara (Henrique Alves) e do Senado (Renan Calheiros) e a maioria das bancadas partidárias só trata das paróquias e dos arranjos corporativos. Servem-se das Casas quando o esperado seria que servissem ao Parlamento, síntese da democracia representativa.

      Para Calheiros e Alves o que interessa mesmo é fazer dos cargos instrumentos de preservação de poder nos respectivos Estados de Alagoas e Rio Grande do Norte.

     Duas notícias nesta semana – uma publicada na folha de São Paulo, outra no jornal O Estado de S. Paulo – mostram bem isso. O alagoano se vale da influência na Caixa Econômica Federal para carrear recursos para habitações populares em municípios sob seu comando político e, de quebra, alimenta o faturamento de empreiteira cujo dono é sócio do filho do Senador. O potiguar reúne prefeitos de seu Estado para convocá-los à posse já dada como certa na presidência da Câmara. Falando dos entraves burocráticos e da má vontade do governo federal em atender prefeitos, garante que “de braço dado” com ele terão os caminhos desimpedidos.

       No mais, tratam de negociar com os partidos os assentos nas mesas diretoras e postos em comissões. A discussão do momento é de alta relevância: a disputa entre PSDB e PSD pela 1ª secretaria, responsável pela gerência do Orçamento da Câmara. Uma bolada de R$ 4,9 bilhões, na previsão para 2013.



Autora: Dora Kramer

Jornal O Popular


Ministro tem de ser decente

José Bonifácio, chamado de o Patriarca da Independência, era ministro-conselheiro do imperador Pedro I e Martin Francisco, seu irmão, ministro da Fazenda. Certa vez, José Bonifácio recebeu o seu salário, em dinheiro, e o guardou sob o forro do chapéu. Esqueceu o chapéu em algum lugar e ficou sem o dinheiro. Como era muito honesto, iria passar dificuldade. O imperador chamou Martin Francisco e o indagou sobre a possibilidade de compensar José Bonifácio com outra forma de recuperação do salário perdido. Ouviu de Martin Francisco um respeitoso, mas sonoro não. “A única coisa que posso fazer, majestade, é dividir o meu salário com ele”, disse ao imperador. E assim foi feito.
Tanta dignidade nesse exemplo e tanta falta de dignidade registrada no últimos tempos envolvendo ministros.
Existe uma expressão, não muito usada por sinal, que se encontra apenas nos idiomas português e espanhol, sem correspondente em outras línguas. Um vocábulo rico, pois incorpora quatro significações. Trata-se do termo pundonor, que o Dicionário Aurélio define como sentimento de dignidade, brio, honra e decoro.
Ministros tinham de possuir em elevado grau este quádruplo sentimento, com uma conduta sempre digna, nunca perdendo o brio, jamais a desonra e mantendo atitudes permanentemente decorosas. Essa pundonorosa soma de valores é um patrimônio moral e cívico que oxalá fosse encontrado em maior quantidade.

Autor: Hélio Rocha
Jornal: O Popular 08/12/2012

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